quinta-feira, 27 de março de 2014

PETROBRAS : “QUEM ATIRARÁ A ULTIMA PEDRA ?”

Peterson Filho

Por : Pettersen Filho

Criada ainda nos chamados “Anos Dourados”, quando exacerbavam as paixões de um Mundo recém Pós-guerra, já, profundamente inserto na Guerra Fria, em que só havia assento para duas categorias de pessoas, os Comunistas, e os Capitalistas, refletindo a Divisão Global do Planeta entre os dois Grandes Vencedores da Segunda Guerra Mundial, os EUA, e seus esquálidos aliados, França e Inglaterra, completamente arruinados no conflito, e, de outro lado, a URSS, real vencedora nos Campos de Batalha, quem retrocedeu a Wehrmacht Nazista, da Moscouincendiada, até o coração do próprio 3º Reich, libertando em sua trajetória, Ucrânia, Polônia, Iugoslava, entre outros, quando qualquer mínimo sintoma de Nacionalismo, ou mera Neutralidade, diante dos Dois Blocos era necessariamente interpretada como Defecção, realidade hoje diversa, diante da atual Hegemonia Americana, a Petrobras, Empresa Brasileira de Prospecção de Petróleo, embora almejada nos Gabinetes do Nacionalismo Brasileiro, em 1954, por Getúlio Dornellas Vargas, nasceu, na verdade, das ruas, na Campanha “O Petróleo é Nosso ”, ganhando na caneta de Vargas institucionalidade, em tempos em que, o Petróleo, no Brasil, era apenas uma possibilidade, longe de ser uma certeza, como hoje, o que causou, ao fim, a própria deposição, e morte, de Getúlio, como forma de desencorajar o próprio Nacionalismo Brasileiro, refletido em outras áreas, como Comunicações e Siderurgia, nesse caso, desagradando tanto “Gregos”, como “Troianos”.

Tida, inicialmente, como uma Fábula, Campanha em que se envolvera o próprio Monteiro Lobato, da Emília, do Visconde de Sabugosa, do Burro que Fala e do Saci Pererê, enfim, do próprio Sitio do Pica Pau Amarelo, que era a visão Européia do Brasil, fadado a não dar certo, a Empresa, contra tudo, e contra todos, no entanto, prosperou...

Enquanto Shell, Exxon, Mobil e British Petroleum, via seus respectivos Governos, tramavam, vez ou outra, a deposição de um Sultão no Oriente Médio, ou de um Presidente de Bananas na América Caribenha, sem se aterem, muito, com o Brasil, tal qual o fazem hoje em dia, via Governo Americano, e OTAN, no Iraque, na Líbia ou na Venezuela, a Petrobras, distante dos olhos gananciosos das Grandes Potências, enquanto não se tinha a perspectivas de boas reservas aqui, já, clara a evidência de não haver Petróleo em quantidade na Plataforma Continental Brasileira, como uma “Iguana” de Charles Darwin, diante do novo sucesso Britânico de encontrar Óleo-estratégico em águas no Mar do Norte e Escandinávia, também, meteu os braços n`agua, enquanto a própria sorte do Brasil, já em plena Ditadura Militar de 1964, aos primeiros sinais da Crise do Petróleo, dos Boicotes da OPEP, das Guerras Israel - árabes, em que o Pais dependia, quase, totalmente do Petróleo Importado, caro e político, essencial ao Novo Equilíbrio, mostrou ao que veio...

Tarefa Herculana, lógico, a que nenhuma Multinacional, Holandesa, Britânica ou Norte-americana se lançaria, em plena crise, buscar Petróleo, à altíssimo custo, com tecnologia complexa, no fundo do mar, ao invés de, mais fácil, depor um “governozinho” aqui, ou acolá, cujas reservas do Oriente, ou Caribe, facialmente prospectáveis, e baratas, no entanto, ante a falta do Petróleo em Território Continental, fato a ser uma Empresa, fruto da Estratégia Política-nacionalista de Vargas, o mesmo que retardou ao máximo o engajamento do Brasil na Segunda Guerra, e tal qual os Americanos, mantiveram-se distantes, enquanto a Europa se autodestruía, com tal perfil, cuja composição acionaria Estatal, agora, também encampada pela Ideologia do Regime Militar, foi a alavanca para a imprescindível Independência Energética do Brasil, primeiro na Bacia de campos, e, posteriormente, no Pré-sal.

Joia Rara da Coroa, a única das Grandes Estatais, espinhas dorsais do Estado Brasileiro, desde Getúlio Vargas, dos Anos Trinta à 1945, com outro curto período, entre 1951/54, novamente com Vargas, quando foi criada, passando por certo ostracismo, no Governo Juscelino Kubscheck, voltado ao Capital Externo, quem tratou de leiloar quase tudo que Vargas criou, da Industria Automobilística às Estradas,  até o Regime Militar, com nova guinada Nacionalista, onde surgiram outras Grandes Estatais, ávidas a extruturar, e sistematizar, o assim chamado “Milagre Brasileiro”, com anos seguidos de elevado crescimento econômico, tal qual, Siderbras, Eletrobras, Telebras, Portobras, Embraer, quase todas posteriormente Privatizadas, criminosamente, pelos Governos Collor,e, principalmente, FHC, foi, no entanto, a única Empresa que os ‘Advogados da Globalização’, leia-se, Agentes do Neoliberalismo, enfim, Eufemismo de Satã, ou o mais puro Entreguíssimo, não conseguiram, por vias formais, com Leilão Público, Venda de Ações e Controle Acionário, nas Bolsas de Valores, enfim, dispor: Vender!

Contudo, como bem sabemos, o Imperialismo, como o próprio Diabo, tem varias formas, e versões...

Detentora de uma História Impar, da mais aprimorada Tecnologia de prospecção marítima, descobridora do próprio Pré-sal Brasileiro, o que significaria, novamente, a definitiva Independência Energética do Brasil, contudo, sempre a postos, cooptando, ora, um Senador aqui, e um Deputado acolá, os “Obreiros”, verdadeiros “Coveiros da Nação” Brasileira, que desde o sempre laboraram para a Não-criação da Empresa, pugnando pela sua ruína, não podendo, descaradamente, privatizá-la, o que fizeram ?

Orquestraram o que se chama em Química de “Osmose”, ou seja, sem vender ao Exterior uma só dos seus Títulos, que comprometesse a sua “Independência  Administrativa”, venderam, via Leiloes Públicos, suas Principais Reservas: Campos de Prospecção, até os futuros, do Pré-sal, utilizando-se sempre de “Laranjas”, tipo Eike Batista, e estratagemas outros, como recente Caso da Usina Belga de Passadina, no Texas, em que a própria Justiça Americana, intervém, projetando as cifras do “Negócio” à patamares astronômicos, sempre, minando-lhe as Finanças, e a própria Credibilidade...

Ora, no frigir da Campanha Eleitoral à Presidência da República Federativa do Brasil, completamente tomada pela Corrupção e pela Impatriótica Negociata,Orquestram, novamente, uma CPI no Congresso, para apurar o obvio:

A mais completa aniquilação do Nome da Empresa, da Essencialidade da sua Existência para a mantença da Independência Energética Brasileira, quiça, Econômica e Política, do próprio Brasil.

Tudo, na Dança Frenética das Cadeiras, em Brasília/DF, em troca de retirar do Planalto alguns “Bandidos Mais Articulados”, com Sigla Partidária e ProgramaPolítico bem definido que, se Assenhoraram do Brasil, de ontem, de hoje e do amanhã...

Criador (Deus que me perdoe a comparação), Getúlio Vargas, Nacionalista e Homem de Visão, já naqueles primórdios de 1954, deve estar se remoendo em sua Cripta Mortuária...

O Petróleo, realmente, é nosso ?

Foi tudo em vão ? 


*PETTERSEN FILHO – É MEMBRO  DA IWA – INTERNATIONAL WRITERS AND ARTISTS ASSOCIATION É ADVOGADO MILITANTE E ASSESSOR JURÍDICO DA ABDIC – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO INDIVÍDUO E DA CIDADANIA, QUE ORA ESCREVE NA QUALIDADE DE EDITOR DO PERIÓDICO ELETRÔNICO “ JORNAL GRITO CIDADÃO”, SENDO A ATUAL CRÔNICA SUA MERA OPINIÃO PESSOAL, NÃO SIGNIFICANDO NECESSARIAMENTE A POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO, NEM DO ADVOGADO.

terça-feira, 25 de março de 2014

Maduro desnorteia golpistas e firma-se no poder

PR Nicolas Maduro

Fonte: http://www.cafenapolitica.com/sobre-o-blog/

O presidente Nicolás Maduro aproveitou o encerramento da X Feira Internacional do Livro, um dos acontecimentos político-culturais mais palpitantes da América Latina, no qual o Brasil era o país homenageado, tendo reunido 240 mil pessoas, para anunciar o fim das guarimbas, como são chamados os atos vandálicos que sobressaltam o país há mais de 40 dias.
Maduro só pôde fazer este anúncio depois que, na última semana, militarizou estados fronteiriços com a Colômbia, onde estão concentrados os grupos paramilitares, e os bairros ricos da capital Caracas e de outras 18 cidades do interior controladas pela oposição extremista.
Desde 12 de fevereiro, quando os líderes da oposição radical Leopoldo López e Maria Corina Machado (o primeiro foi preso no início da arremetida, e a segunda, que é deputada, processada por indução ao vandalismo), muita gente não podia sair para trabalhar ou estudar, enquanto muitas linhas de ônibus e do metrô eram suspensas para evitar os ataques aos trens,  ônbus e carros particulares.
Três prefeitos da oposição, acusados de contribuir ou participar dos atentados, antes atribuídos aos estudantes, que provocaram a morte de 34 pessoas, 684 feridos e 1.675 detenções, foram presos por ordem judicial, enquanto outros tantos estão na mira da justiça. Depois disso, os atentados quase desapareceram por encanto, mas Maudro advertiu que ainda existem alguns franco-atiradores, que, só neste final de semana, assassinaram mais três pessoas: “As guarimbas se acabaram, já se desmancharam todas. Permanecem (alguns) franco-atiradores e assassinos. Mas vamos atrás deles. Em operações especiais, vamos a capturá-los, um por um. Já a guarimba (em si) foi derrotada pelo desejo absolutamente majoritário de paz do povo venezuelano”.
Os serviços de ônibus e metrô já estão completamente restabelecidos e os veículos particulares podem trafegar normalmente nas ruas, porque estas foram desobstruídas das barricadas e da presença dos chamados guarimbeiros.
Na manhã desta segunda-feira, 24 de março, o país parecia retomar a calma enquanto o governo nacional se ocupava em remover os escombros de muitos pontos devastados por uma violência política que parecia ter engolfado o país numa guerra civil do tipo Síria ou Ucrânia.
Só parecia, porque a Venezuela sobreviveu à provação com um governo aparentemente unido e coeso e mantendo completo domínio da situação. Já a oposição, antes coesa e poderosa, se desnorteava e não conseguia reunir mais do que dez mil pessoas nas ruas de Caracas. Mesmo com o respaldo irrestrito da mídia nacional e internacional,  inclusive a brasileira, esfacelando-se em diversos grupos, muitos dos quais agora propensos a atender aos chamados de paz por parte do governo.
Mais uma vez, o regime chavista desbaratava outra tentativa da extrema direita de fazer a população revoltar-se e derrubar o governo, tendo, pelo contrário fortalecido o presidente e o movimento bolivariano, inaugurado há quinze anos pelo falecido presidente Hugo Chávez. Era o mesmo movimento orquestrado a partir do exterior, que depôs Chávez por 48 horas, em 2002 e o que paralisou o país num movimento patronal conhecido como paro petróleo, que durou 63 dias e fez o PIB recuar 30%.
Na verdade, estes movimentos, conhecidos como golpes assimétricos, suaves ou “constitucionais”, que não recorrem à força bruta dos militares mas que se infiltram na sociedade civil, a partir principalmente de estudantes e outros endinheirados, são velhos conhecidos de Cuba.
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Este país derrotou, em outubro de 1962 a chamada Operação Mangusto, patrocinada pelo governo dos Estados Unidos.  Ela envenenou rios, desfolhou plantações e desencadeou atentados em quase todo o país, “em 33 operações, 13 delas concentradas na guerra econômica , seis na política, cinco no serviço militar , cinco no político e ideológico e quatro na subversão e inteligência”, como diz a professora Tatiana Coll, da Universidade Pedagógica  do México.
Segundo a professora, “o  objetivo explícito” era conseguir uma revolta interna em Cuba para derrubar Fidel Castro e estabelecer um novo governo semelhante aos de Batista, Duvalier e Trujillo.
“Alcançar a revolta interna”, diz ela, “tem sido o seu sonho dourado desde então. Para isso foram investidos bilhões de dólares, juntamente com todos os tipos de interferência e barbárie , apesar de todas terem sido derrotadas”.
Outro golpe assimétrico foi igualmente neutralizado na Bolívia, em 2008, graças à ação do presidente Evo Morales que, em combinação com a Unasul, desfez os planos de secessão que pretendiam repartir o território em vários países, à semelhança do que havia ocorrido na Iugoslávia depois da desintegração do Bloco Soviético. Não por acaso, o embaixador americano em La Paz naquele dado momento, era Phillip Golberg, funcionário antes destacado para despedaçar a Iugoslávia. Golberg foi expulso do país depois que o governo o flagrou em reuniões com grupos conspiradores na província insurreta de Santa Cruz
O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, que é sociólogo, relembrava ontem num programa televisivo, que nos anos 50, 60 e 70 , os golpes de estado eram desfechados pelos militares, recorrendo ao núcleo duro do Estado, as Forças Armadas. Mas este é, segundo diz, “o momento final e primário” para impor políticas e estabelecer regimes de governo com base na violência pura, com as mortes, as torturas e o exílio.
- Isto ocorreu, quando os Estados e a sociedade civil eram muito frágeis – continua. Mas estes tempos se acabaram. Nos últimos dez anos, surgiu uma nova modalidade de golpe, igualmente vinculado aos poderes externos, ou seja, às políticas de dominação imperial. Aí já não se utiliza o recurso às forças armadas. Mas sim sabe-se que se infiltra dentro da sociedade, apropriando-se de um pedaço da sociedade civil, a partir do qual busca o enfrentamento de sociedade civil contra  sociedade civil para desestabilizar os regimes democráticos.
Roteiro holywoodiano – Álvaro García ainda explica que, como forma de mobilização, esses movimentos recorrem inicialmente a grupos sociais minoritários, mas muito ativos e com capacidade de provocar ações violentas, em nível local. A partir daí, vão tentar ocupar territorialmente pedaços: ocupar uma região, ocupar um município e, se conseguem produzir um efeito social e maior aglutinamento de forças, avançam até o a disputa do controle político de um específico território do país.
Chegando aí, passa a buscar um tipo de ajuda externa e, em torno desta estratégia, “de corte comum e de roteiro quase holywoodiano”, com o respaldo de alguns meios de comunicação, que alimentam e magnificam midiaticamente o que sucede localmente, sugerindo sociedades enfrentando governos democráticos, mas que agora chamam de totalitários.
Entra também o apoio de certas ONGs vinculadas ao Norte (Estados Unidos e Europa). E por último, a partir desta mobilização, a convocação e a presença de intervencionistas estrangeiros, para converter este problema local num problema nacional, que têm de ser resolvido, já não pelos concidadãos, mas por forças externas e, se todo esse esquema avança, a possibilidade uma intervenção militar.
Ao relembrar a experiência boliviana de golpe suave, em 2008, o vice-presidente Álvaro García, disse que, na época, houve sabotagens econômicas de um certo núcleo muito conservador do setor empresarial, procurou-se gerar escassez de alimentos e imediatamente depois se deu um processo de desestabilização política, com influência na Assembleia Constituinte de então, a realização de plebiscitos ilegais e, finalmente, a ocupação territorial.
Para isso, mobilizaram setores sociais, na ocupação de 70 instituições, no espaço de uma semana. Proibiram o presidente da República aterrissar em aeroportos de seis dos estados, porque haviam sido ocupados geográfica e territorialmente as instituições, mediante as mobilizações de vândalos que destruíam, queimavam e atacavam militares e a polícia. Finalmente, assumiram atitudes violentas, levando adiante massacres de camponeses e indígenas. Tudo tendia a terminar na convocação da intervenção estrangeira
O quadro foi um pouco menos grave na Venezuela de Maduro. O presidente, afinal, depois de 40 dias de intensos tumultos, anunciar o fim das guarimbas, acontecimento que coincide com a chegada a Caracas, nesta segunda, 24, da Comissão dos 12 chanceleres da Unasul (União das Nações Sul-americans) para analisar a situação no país. Ela deverá se entrevistar com representações estudantis, membros do governo e da oposição.
Ao mesmo tempo, o chanceler Elías Jaua se deslocará pelas sedes dos principais organismos internacionais, como a própria Unasul, (Quito, Buenos Aires Brasília), OEA (Washington), a ONU (Nova York e Genebra) e seus respectivos órgãos de direitos humanos, para apresentar as provas documentais dos danos provocados pelos atos violentos, incluindo o incêndio que produziu perda total em uma universidade de 3.800 alunos, em são Cristóbal, e parcial em outras 15 escolas superiores e bibliotecas pelo restante do país.
Com efeito, no dia 20 de março, o núcleo da Unefa (Universidade das Forças Armadas, uma espécie de ITA brasileiro da Aeronáutica, que Hugo Chávez estendeu para todo o país), na Universidade de São Cristobal, capital de Táchira, estado na fronteira com a Colômbia, foi cenário de uma série de ataques. Grupos de ultradireita arremessaram bombas molotov e pedras até entrar no campo universitário, onde incendiaram o prédio, destruindo mobiliário, classes, laboratórios, arquivos, computadores e biblioteca, com perda total.
Também nesse mesmo dia, na sede da Unefa, em Los Teques, capital do estado de Miranda, centro norte, indivíduos entraram violentamente na instituição, amordaçaram os seguranças e jogaram gasolina, provocando outro incêndio que ocasionou danos ao mobiliário, arquivos e equipamentos de computação.
Além das escolas, houve atentados contra hospitais, postos de saúde e creches públicas, estações do metrô, companhias estatais de telefone e eletricidade e 198 ataques cibernéticos a sites de TVs e órgãos governamentais, trancamento das vias principais e danificação de semáforos e 94 ônibus urbanos, totalizando prejuízos de alguns bilhões de dólares e graves danos à economia.
Por que incendiar livros – No pronunciamento de ontem à noite na FILVEN,  o presidente Nicolás Maduro indagou o porquê desta violência: “Quem pode queimar uma universidade, que é o lugar onde chegam os conhecimentos mais elevados que a humanidade criou para a formação de suas gerações futuras?”
Por isso, solicitou o apoio dos intelectuais escritores, pensadores e comunicadores para que acompanhem o chanceler Jaua na peregrinação pelos organismos internacionais, “para que o mundo inteiro abra os olhos e se fortaleça a solidariedade com nossa pátria”, segundo frisou o presidente, para quem “a Venezuela foi vítima de uma arremetida de ódio e intolerância”.
Maduro prova assim que não só controla o seu país, ao contrário do estereótipo de que não tem carisma nem capacidade para administrar, só porque foi motorista de ônibus, como está aparelhado para enfrentar arremetidas mais violentas, como aquelas de Cuba e da Bolívia, que certamente serão reativadas em futuro não muito distante.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Concurso

A Fundação Fé e Cooperação (FEC) é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) com estatuto de Utilidade Pública. Atua na área da Cooperação para o Desenvolvimento, sobretudo na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, tendo como sectores prioritários a educação, a saúde e a capacitação institucional. Na área da Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social a FEC aposta da dinamização de redes com impacto junto de decisores políticos, económicos e religiosos. Os projetos da FEC são financiados, entre outros, pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, pela União Europeia, UNICEF, Fundação Calouste Gulbenkian, Caritas Guiné-Bissau, Plan Guiné-Bissau e Câmara Municipal de Cascais.
A FEC convida à apresentação de candidaturas para o provimento de uma vaga para o programa na Guiné-Bissau:

- Responsável de Gestão e Administração Escolar (ver Termo de Referência), com formação superior na área da Educação, Ciências Sociais e/ou Humanas, preferencialmente com especialização de Formação de Adultos e/ou em Gestão e Administração Escolar;
Por favor, enviar respostas e Curriculum Vitae para recrutamento@fecongd.org até ao dia 1 de abril de 2014 indicando a posição para que se candidata no assunto do e-mail.

O CV, preferencialmente em português e em formato europeu, deverá ser acompanhado de uma carta de motivação e da indicação de duas pessoas de referência e o seu contacto.

Solicitamos também a resposta ao seguinte
questionário disponível aqui.

Em caso de dúvida contactar Etelvina Cardeira para o telefone (00 351) 21 886 17 10.

Etelvina Cardeira
recrutamento@fecongd.org
Técnica Administrativa e de Recursos Humanos
FEC - Fundação Fé e Cooperação
Quinta do Cabeço, Porta D, 1885-076 Moscavide | Portugal
Tel. 21 886 17 10 | Fax. 21 886 17 08

segunda-feira, 17 de março de 2014

UMA OUTRA IMPRENSA É POSSÍVEL?



Fonte: Observatório da Imprensa

Por Cátia Guimarães

Não acredito no princípio iluminista de que o acesso à informação (ou ao conhecimento) pode transformar a realidade. A batalha das ideias, da qual a imprensa é elemento central, precisa ser, ao mesmo tempo, reflexo e impulsionadora das lutas concretas travadas pelos movimentos sociais reais. Na vida real, mesmo diante da significativa explosão social dos últimos meses, temos tido dificuldade de construir uma frente de esquerda popular que dispute eleições ou organize a participação direta nas ruas. E isso se reflete na batalha das ideias, onde também não conseguimos organizar uma frente informativa de esquerda que atue no sentido de desmistificar e problematizar as mentiras, manipulações e, principalmente, as inversões ideológicas de interpretação do mundo que vêm da grande mídia empresarial.

Desde as manifestações de junho, com tudo de novo e diferente que mobilizou as ruas, determinados modos de governar têm sido veementemente recusados mesmo por quem nunca participou de uma passeata. O resultado é que políticos que há pouco tempo representavam uma maioria admirável, como é o caso de Sergio Cabral e Eduardo Paes, respectivamente governador e prefeito do Rio de Janeiro, encontram-se, neste momento, no limbo. Digam o que disserem sobre a falta de base organizativa dessas manifestações, elas tiveram repercussão, no curto prazo, para muito além delas próprias. Foi essa mobilização que fez com que, apesar dos esforços em contrário dos Bonners da vida, o telespectador do Jornal Nacional visse professor apanhar da polícia em praça pública e, bem recentemente, gari ser chamado de marginal por reivindicar um salário de R$ 1.200.

A incapacidade de se construir uma imprensa popular

Enquanto a manipulação está no nível de questões mais gerais, como, por exemplo, a cobertura parcial sobre a crise na Venezuela, seu potencial ideológico, de inversão, naturalização e ocultamento da realidade é grande. Mas o fato é que esses impasses, desde junho, estão se tornado mais concretos e próximos a cada dia. Antonio Gramsci dizia que, em relação à sua concepção de mundo, o senso comum não é convencível por argumentos. Composto de um amontoado de referências diferentes e mesmo contraditórias, ele tem como baliza principal a confiança nos seus, a confiança no que dizem e fazem aqueles que pertencem ao seu grupo social.

Essa perspicácia do comunista italiano parece de grande importância agora: afinal, entre amigos, familiares, colegas de trabalho ou vizinhos, todo mundo conhece ou conhece alguém que conhece um professor e um gari, e sabe que eles não correspondem àquela imagem reproduzida na TV ou no jornal, seja a de vândalo, de vagabundo ou de ingênuo a ponto de ser manipulado por interesses políticos e econômicos outros. A mentira ganha forma concreta. Posso estar sendo otimista, mas acredito que isso tem feito com que a credibilidade e o poder de fogo das grandes empresas de comunicação, principalmente as Organizações Globo, também caminhem para o limbo. Se vão permanecer lá ou se recuperar num tempo breve, só a história (presente) vai dizer.

O problema é que não temos o que colocar no lugar, nem dos políticos nem dessa mídia. E uma coisa tem diretamente a ver com outra. Não se conseguiu organizar uma frente de esquerda, seja partidária, seja de movimentos sociais, que ocupe esse espaço e, ao mesmo tempo e pelas mesmas razões – sejam elas quais forem –, isso tem reflexo direto na falta de unidade construída para a batalha das ideias.

Como nos ensinaram clássicos do pensamento marxista, como Lenin e Gramsci, cada um adequado ao seu tempo, o jornal (no sentido mais amplo, independentemente da mídia ou suporte) pode contribuir com o aprofundamento e a organização da luta social. Não pode inventá-la, nem substituí-la, sob o risco de se cair num idealismo de que a informação e o conhecimento resolvem os problemas reais. Mas pode retroalimentá-la, fortalecê-la e se fortalecer no mesmo movimento. A incapacidade de se construir uma imprensa popular de caráter nacional ou internacional, que efetivamente dispute sentidos e hegemonia, tem relação direta – embora não de causa e consequência – com as dificuldades pelas quais as lutas sociais passam no Brasil desde a década de 1980, na mobilização e na organização. Não arrisco dizer no que essas manifestações recentes vão dar, mas elas já são um marco nessa história e, portanto, são uma janela de oportunidade para novos marcos também no campo da comunicação.

O pente fino editorial

Que imprensa seria essa obviamente não se pode prever porque isso depende do que seriam e de que forma teriam as lutas reais, travadas por pessoas, grupos e organizações concretas e do grau de rechaço que elas podem produzir a esse mundo que aí está. É possível (e preciso), no entanto, ter clareza do que ela não pode ser, ou daquilo a que ela precisa se contrapor, no terreno da comunicação. 

E aqui temos que ir ao ponto da caracterização mais estrutural daquilo que chamamos de grande imprensa, mídia corporativa, comunicação de massa, imprensa empresarial entre muitos outros nomes mais ou menos corretos de acordo com a crítica que se faça. São todos apelidos adequados e mais fáceis de digerir, mas não podem ocultar o nome de batismo, aquele que mostra a filiação desses veículos e dessa prática jornalística que se naturalizou como se fosse de todos nós. Não é. Pode ter cheiro de naftalina, mas é isso mesmo: trata-se da imprensa burguesa, uma imprensa que tem lado numa sociedade dividida em classes. E isso mesmo a despeito das boas intenções e esforços éticos – quando é possível – dos muitos jornalistas que a ocupam na crença de estarem prestando um serviço público à democracia.

Identificar o caráter de classe dessa imprensa significa reconhecer que os “interesses” frequentemente denunciados desses grupos empresariais no trato jornalístico dos fatos (ou não-fatos) vão muito além dos benefícios esparsos de um anúncio publicitário. Os ganhos, econômicos em primeiro lugar, e políticos como forma de sustentar os econômicos estão em esferas muito maiores e dependem também da sustentação de concepções de mundo que, na melhor das hipóteses, deixem tudo como está. Na pior – ou será que pode piorar ainda mais? –, apelam, na batalha das ideias e no lobby político direto, por mais repressão, mais ódio institucional e perda de direitos sociais (tudo sempre travestido de interesse público), como temos visto recentemente.

Com isso quero dizer que a grande imprensa funciona como uma conspiração diária, em que os Marinho e seus semelhantes controlam cada detalhe da notícia? Claro que não. E nem é necessário. Não resta dúvida de que, sobretudo em momentos de crise de hegemonia, como o atual, no Brasil, esse pente fino editorial se faz presente, a ponto de gerar mal-estar nos próprios jornalistas, como aconteceu no Globo depois da capa do dia 20 de outubro passado. Mas essa não é a regra. No dia a dia das redações, aspectos corriqueiros e naturalizados garantem uma tal fragmentação do trabalho jornalístico que, ao impedir os nexos e contextualizações, mantém uma impressionante coerência ideológica. De um lado, temos um processo de trabalho que explora, robotiza e emburrece o jornalista. 

De outro, para compensar, temos um modelo de jornalismo e uma concepção de notícia que isolam os fatos, em nome da objetividade, retiram-nos da história, em nome da atualidade, e os jogam no esquecimento logo que é conveniente, em nome da velocidade própria desse jornalismo.

Canais próprios

Por tudo isso, a luta no campo da comunicação precisa ser pela construção de canais e veículos próprios, que desempenhem o papel de aparelhos privados de hegemonia, na conceituação de Gramsci, mas no sentido inverso ao da ordem estabelecida. Indo direto ao ponto: os jornalistas da grande imprensa, imersos num furacão de fragmentos que se tornou o trabalho jornalístico, devem ser disputados. Já a grande imprensa (burguesa), não.

Não se trata de negar a importância, hoje, de se ocupar espaço nesses veículos para, de vez em quando, em momentos cruciais, se abrir alguma brecha para o contraditório ou se criar um constrangimento, como recentemente aconteceu com a coluna de Caetano Veloso no Globo sobre a tentativa do jornal de envolver o deputado Marcelo Freixo na morte do cinegrafista da Band. Mas é preciso não esquecer que isso é tão importante hoje apenas porque não temos outra opção, já que esses são os únicos jornais e telejornais massivos. 

Essa tática importantíssima, portanto, revela um vazio, uma ausência, e uma dependência estrutural; não pode levar à ilusão de que, como formiguinhas, mudaremos o caráter de classe de uma imprensa empresarial que depende dessa divisão para sobreviver – não esqueçamos, apenas para que esse papo não fique abstrato demais, que três irmãos da família Marinho figuram na lista dos maiores bilionários do mundo produzida pela revista Forbes este ano e eu não conheço concretude maior do que essa.

Antes que aqueles que não reconhecem a cisão estrutural dessa sociedade e, portanto, não acreditam na luta de classes denunciem o cheiro de naftalina dessa proposta, me adianto em dizer o que ela também não pode ser “à esquerda”. Em primeiro lugar, não me refiro a jornais panfletários e nada jornalísticos como os que temos hoje de partidos ou sindicatos. 

Também não me refiro à comunicação comunitária, que desempenha um papel muito importante nas lutas locais, mas tem pouco potencial para uma efetiva disputa de hegemonia que se dá no nível da batalha das ideias. Tampouco trato aqui de um tipo de imprensa pequeno-burguesa que se atribui o título de alternativa para fazer, em nome de uma suposta esquerda, o mesmo tipo de manipulação grosseira que as Veja da vida fazem pela direita. Falo de uma imprensa que ressignifique, na sua própria elaboração, a prática do jornalismo; que dispute a (contra)informação e os sentidos mais gerais dos fatos imediatos em nome (e pelas mãos) de uma frente de movimentos sociais orgânicos e, se for essa a configuração que as ruas apontarem, também partidos de esquerda. 

Que trabalhe não na construção de versões alternativas dos fatos, mas na desconstrução da ideologia vigente, o que significa atuar para desnaturalizar, desocultar e desinverter as verdades que foram e são cotidianamente postas de cabeça para baixo.


Em resumo: uma imprensa e um jornalismo que possam responder à concentração monopólica e de classe que temos hoje não com uma “diversidade” abstrata, que busque o falso princípio democrático de fazer as pessoas pensarem por si, mas com o esforço de construção concreta de um outro si, que só existe e faz sentido social e coletivamente.

quarta-feira, 12 de março de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

Pois...

                                              
Dr.ª Magda Robalo

Por: Magda Robalo

Hoje fui ao fundo do baú... e tive saudades! Tive saudades de um tempo em que me/nos foi permitido sonhar com um pais cheio de potencialidades, com um futuro promissor, um pais a ser desenvolvido pelos seus recursos humanos. Éramos jovens, acabados de chegar - uns há mais tempo do que outros; uns vindos do leste, outros do oeste, alguns formados ali mesmo na terra, outros na tarimba! Homens e mulheres guineenses!
                         
Fotos do baú da Dr.ª Magda Robalo

Éramos dinâmicos, sonhadores e inexperientes mas cheios de talento e com vontade de aprender e fazer. Ganhávamos pouco, muito pouco, quando se pagava salários, mas que importava? Tínhamos regressado a terra para dar a nossa contribuição e faze-la avançar. 
E o mais importante disto tudo e' que acreditávamos piamente neste sonho e não nos demos conta de que era um sonho... distante!

                               

Fotos do baú da Dr.ª Magda Robalo

Fomos a reuniões, fizemos reuniões, elaboramos planos e diretivas, vieram mais seminários e mais reuniões, atelier de formação e delegações, visitas de supervisão. Planos-quadro e planos estratégicos foram lançados, inquéritos feitos, vieram peritos e facilitadores,...
                         
                                            Fotos do baú da Dr.ª Magda Robalo
E o tempo foi passando... 

E o tempo passou...

Com ele, passaram os sonhos, os nossos cabelos embranqueceram, os nossos filhos cresceram, e a terra não avançou....

Ordidjanotando

Quem não se lembra da magistral crônica "Quem Me Ensinou A Excelência" da autoria do ilustre Dr. Geraldo Martins sobre a Dr.ª Magda Robalo, postado neste Blog. Se a memória falhar ao leit@r, não se preocupe, recorra apenas ao motor de busca da Ordidja que vai encontrar o artigo. Mais não digo, até porque a Dr.ª Magda Robalo, uma das mentes brilhantes guineenses, ao serviço da ONU, através da OMS, dispensa apresentações e quando li este pequeno texto na página do facebook, que testemunha as lembranças provocadas pelo périplo no baú, não tive como não partilhar com vocês. Até porque acredito que, esse sonho que a Dr.ª Magda fala, está mais perto do que nunca. Guiné na lanta!!! Guiné na avança!!!

Bota Fé!!! 

Algum tempo, antes...

Aparelho de rádio
Passaram praticamente cinco anos, este ano vai-se celebrar os 20 anos da criação das primeiras rádios comunitárias na Guiné-Bissau. A ideia foi participar num concurso denominado DocTV, que selecionava em cada país lusófono africano, um documentário, e com o apoio financeiro de 50 mil euros posto a disposição pela organização, se realizavam os filmes. O nosso olhar foi bater com a intenção de retratar, as rádios comunitárias guineenses, que foram um dos maiores fenômeno de comunicação na Guiné-Bissau. Outro fato interessante, a Guiné-Bissau foi pioneira na criação de rádios comunitárias e esteve sempre na linha da frente em relação, aos outros países falantes do português, no continente. Para vossa informação, à Rádio Sol Mansi foi no inicio um projeto de rádio comunitária, embora hoje, 14 anos depois, completados no dia 14 de fevereiro( dia dos namorados) do corrente, seja considerada a melhor e mais bem consolidada emissora do país, com maior cobertura e alcance nacional. Hoje, depois deste tempo todo, decido partilhar com os fieis e infiéis leitores deste Blog, a nossa proposta de documentário “Vozes da Esperança”. Estávamos em 2009...

VISÃO ORIGINAL

O documentário fará um retrato temporal dos cerca de quinze anos, das Rádios Comunitárias na Guiné-Bissau, e o abanão que provocaram, nos alicerces da sociedade guineense, obrigando-a a reequacionar a tradição, o quotidiano e a própria identidade.

Recontextualizar todo esse processo, numa perspectiva atual, sem deixar de incluir, as suas referências do passado não muito longínquo, por ter apenas mais de uma década. O mergulho na realidade desses novos meios de Comunicação será abordada tendo como ponto de partida, a necessidade de as pessoas se comunicarem e combaterem a info-exclusão, e como ponto de chegada, a constatação de que, a Rádio, tem sido o meio comunicação histórico, na construção identitária e cultural na Guiné-Bissau.
Outrossim, a ter em conta é, a questão da Rádio ser também o meio de eleição e que melhor se adapta a realidade do país, num expressivo quadro atual, preenchido por fenômenos como a miséria (pobreza), (violência), (o analfabetismo) e (fragilidade do estado) o subdesenvolvimento.

Deve ser ainda ressaltada, que estamos perante um órgão de Comunicação que, graças a facilidade e mobilidade que caracterizam a sua criação e operacionalidade, está de mãos dadas com há mais adaptável forma de comunicação existente, a oralidade, conhecida como pedra basilar, das manifestações culturais na Guiné-Bissau.

Num contexto de condições extremamente adversas, sendo um país onde são gritantes os índices de pobreza e de desenvolvimento humano, considerados dos mais baixos (colocado até no pódio dos piores Estados) a nível mundial, existem (uma) ações positivas, (que) e uma delas é o projeto das Rádios Comunitárias.

(Não obstante todo este cenário de adversidades). O documentário pretende que se observe que estamos, perante uma iniciativa fundamental para a educação cívica, para uma comunicação horizontal entre os guineenses e para a criação de novos valores conducentes com o contexto sociocultural do país) (,de todos os guineenses e perante, o pioneirismo guineense na criação das Rádios Comunitárias, no espaço lusófono africano, na criação e aposta na Emissoras Comunitárias). Neste momento existem cerca de duas dezenas de Rádios Comunitárias na Guiné. Estações de rádio que têm contribuído na evolução e o fim do isolamento das comunidades com o Mundo, semeando novas perspectivas de futuro.

O filme vai concentrar-se, no desenvolvimento das atividades das Rádios Comunitárias, e a forma como moldaram e vão moldando o dia-a-dia das comunidades, realimentando cada vez mais a cultura da Paz e da Cidadania.

Numa primeira fase, a observação terá como base os testemunhos e percepções dos vários atores, ONGs, Acção para o Desenvolvimento (AD) SWISAID fundação suíça para o desenvolvimento, a RENARC Rede das Rádios Comunitárias e Instituto de Comunicação da Guiné-Bissau (ICGB) os diretores e colaboradores das rádios  que marcaram o itinerário dos primeiros passos, culminando com o surgimento da primeira, à Rádio Voz de Quelelé em Bissau.

Numa segunda fase, será feita uma incursão daquilo que tem sido interpretado, como a influência que estas rádios têm desempenhado, embora por vezes até menosprezado, na construção das novas regras de coabitação, duma sociedade multiétnica e diversificada que é a guineense. Em síntese o retrato destas dinâmicas locais vai ser captada, através da interação natural, provocada pelas rádios nas comunidades e localidades selecionadas e vice-versa. A saber:


Ø  Rádio Voz de Quelele: Celebrou o seu décimo sexto aniversário no dia 04 de Fevereiro de 2008. É a pioneira, naquilo que poderíamos chamar de “tubo de ensaio” para experimentar se a ideia surtiria efeito e, seria adaptável a realidade do país. Com a sua legalização e a entrada em funcionamento dos seus órgãos sociais, favoreceu a maior participação da comunidade do Bairro de Quelele na organização e gestão desta estação da Rádio Comunitária. Cada programa desta rádio tem mais que um clube de ouvintes, que facilita medir a audiência dos respectivos programas e adaptá-lo em conformidade com a exigência de ouvintes

Ø   Rádio Djalicunda: Esta estação emissora tem sido uma ferramenta indispensável, para organização e dinamização de uma associação agrícola Kafo. Como resultado denota-se a diminuição drástica de uma das práticas agrícola mais ancestrais da região às queimadas das florestas. Contribuindo com sementes alternativas, para o cultivo e apoiando as campanhas de Microcrédito.

Ø  São Domingos (Norte) – Rádio Kasumai que demonstra a inexistência de espaço limitado, no poder e capacidade de alcance de uma rádio, pois consegue transpor as fronteiras fictícias, existente entre os Felupes da Guiné e do Senegal (Casamanssa).

Ø   Cantanhês (Sul) – Rádio Lamparam, que luta para a preservação ambiental das matas do Cantanhês. Esta rádio tem servido como instrumento para melhor alertar, as populações e as comunidades, no sentido de proteger as riquezas da biodiversidade no país.

Ø   Formosa (Ilhas) – Rádio Kosena, situada numa das ilhas ou territórios insulares da Guiné, esta rádio vai ajudando os Bijagós a enfrentarem melhor as adversidades do isolamento com o continente e tem sido o elo de ligação entre as varias ilhas que compõem os arquipélagos.

Portanto este é o enquadramento que faço, deste projeto documental, onde será por isso necessário trabalhar, recorrendo a uma instituição pública (ISGB), uma ONG (AD) e cinco rádios comunitárias (Quelelé, Djalicunda, Kasumai, Lamparam e Kosena). O espelho da mudança provocado pelas rádios terá reflexo, nos testemunhos colhidos junto aos públicos alvos, de cada localidade e comunidade. Todas elas partem de um tronco comum, em relação aos temas e conteúdos, na concepção do formato e estilo de rádio. Caracterizadas como rádios rurais, para além da incidência sobre a Agricultura uma marca bem definida, como sector econômico, e a grande atividade laboral do interior do país, sendo assim o tema central das programações destas rádios, a saúde, a educação, o ambiente e a cultura são os pilares da sustentação do resto da grelha de programação. A personagem que terá o papel central no documentário será o Eng. Carlos Schwarz, sendo ele o impulsionador senão mesmo o obreiro de todo este processo, o que por si só, representa já uma excelente garantia.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Movimento


Há um movimento

perfilando
em cada canto,
fustigando a voz
que foi abafada.
Há um movimento
se refazendo
debaixo do caldeirão,
aquecendo o dia que
será festejado
do amanhecer até o anoitecer.
Há um movimento
das consciências
negras
se encontrando no mesmo terreiro,
no mesmo barraco
e tomando banho
no mesmo rio.

Há um movimento
removendo o medo
que foi instalado
na inocência de nosso corpo
e resgatando a coragem que venceu a Cruz.
Há um movimento
vasculhando memórias,
culturas,
tecendo na incerteza do amanhã
a certeza da vitória.
Há um movimento
rebelde
se fazendo sonho
na vida do povo
que está atravessando
o deserto.
Há um movimento
volvendo a terra,
enfrentando conflitos,
recusando as palavras
que são apenas palavras.
Há um movimento
na boca da noite,
no meio do picadão,
forjando o tempo novo
entre o fogo e a cinza.
Há um movimento
na barriga de nossa
querida AMERÍNDIA,
anunciando
o dia que vem depois.
                        

Derli Cassali