domingo, 24 de fevereiro de 2013

ARMANDO CABRAL DISTINGUIDO PELA COMPLEX MAGAZINE

Armando Cabral

Fonte: DailyModaLisboa

Armando Cabral tornou-se, nos últimos anos, um dos rostos mais reconhecidos da moda internacional. O modelo guineense já desfilou para Louis Vuitton, Calvin Klein, Hugo Boss, Dior Homme, Dries Van Noten e J. Crew, entre outras grandes marcas. Hoje, quando não está em frente a uma câmara, está provavelmente a desenhar sapatos. Em 2009, perante a dificuldade de encontrar modelos de que gostasse, decidiu lançar uma marca de calçado masculino com o seu nome. Fabricada em Itália com materiais de luxo, a marca Armando Cabral inclui desde ténis a botas e é já um enorme sucesso internacional.

Além de modelo, Armando Cabral é agora também reconhecido como designer. Prova disso é a sua presença na lista dos "25 greatest black fashion designers" divulgada pela revista norte-americana Complex MagazineThe original buyer's guide for men.

Ordidjanotando

Parabéns Armando Cabral és um orgulho para todos os guineenses. Desejo-te muitos sucessos e grandes conquistas no mundo da Moda.  

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Renúncia do Pontífice

Carlos Vieira
Fonte: Globo

Por: CARLOS VIEIRA*
Em matéria do Correio Braziliense de 12 de fevereiro último, duas citações da fala do Papa Bento XVI me chamaram atenção: a primeira da Editoria: “Caríssimos irmãos verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos...”; a segunda, noticiada por Carlos Alexandre: “No ponto em que estamos eu confesso: a fé, a fé plena, a que não hesita, parece ter se tornado tão rara que, ao encontrá-la, ela me assombra mais do que a incredulidade.”

Joseph Ratzinger, num profundo ato de humildade, coragem e medo, tornou-se humano, sem o compromisso de ser “a palavra de Deus”. Na prima citação, a fadiga, ou seja, a falibilidade, a limitação e o cansaço de sustentar “a verdade absoluta”; na frase seguinte, um Papa, travestido de gente como todos nós, mostra sua falta de crença na fé absoluta de si próprio e dos seus cordeiros. “Habemus Papam”, humano, falível, angustiado, fóbico, humilde e corajoso – renunciar é uma desobediência divina – ou seja, Bento XVI mostra ao mundo o seu protesto, recolhendo-se ao claustro, talvez para continuar seus estudos filosóficos e teológicos sem compromisso com a prática.

Quero acreditar que, Ratzinger viu, após anos e anos de profundas meditações teológicas, que o mundo se transformou e, seu Estado Vaticano continuou prisioneiro do conservadorismo, da alienação aos problemas humanitários. Crises internas; escândalos de corrupção na administração; negação dos direitos à liberdade sexual, ao matrimônio dos padres, à importância da mulher no poder do Estado Cristão; uma política perigosa quanto à prevenção da AIDS, proibindo o uso de preservativos, e tantas outras questões atuais que o “Governo dado por Deus ao Vaticano” não suporta mais, a menos que haja mudanças estruturais e que “retirem proveito de um mal negócio(?)”, a renúncia do Pontífice.

Keats, o poeta, escrevendo sobre o que chamou de “homem de êxito”, e aí dava como exemplo a pessoa eterna de Shakespeare, alertou que: o homem de êxito é aquele que tolera conviver com a dúvida, o mistério e a incerteza, sem desejar apressadamente partir para fato ou razão. Bento XVI suportou pouco e evadiu. Evadiu, penso, movido por crises de pânico, hoje tão comum. Pânico de enfrentar e se responsabilizar por mudanças estruturais. Preferiu ir embora para o claustro, o refúgio, a solidão, não do “repouso do guerreiro” mas sim, do homem em desespero, ansioso, perseguido e sem fé que seus “Cardeais”, ajudantes do Rei, pudessem acompanhá-lo promovendo uma nova ordem na Igreja. Uma Igreja não tanto romana, mas uma igreja humanitária, sem conservadorismo e, como dizia Freud, uma eterna “compulsão à repetição”.

Edgar Morin – Sociólogo e filósofo francês nascido em Paris, em seu belo e profundo livro “Rumo ao Abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade”, escreve: “Pode-se dar um nome ao que ainda não apareceu, ao apresentar um caráter incerto, caótico? Os antagonismos da modernidade alcançaram um grau paroxístico. Tudo se passa como se houvesse uma agonia, no sentido original da palavra, ou seja, uma luta entre as forças de vida e as forças de morte. Alcançaremos um estado metamórfico da modernidade? ‘Metamorfose’ significa, simultaneamente, manutenção da identidade e transformação fundamental. É a lagarta que se transforma em borboleta após a fase de crisálida.”

Bento XVI preferiu o repouso a se transformar nessa “borboleta”. Ainda Morin:”...quando um sistema é incapaz de tratar seus problemas vitais (e não somente divinos; a digressão é minha) ou ele se desintegra, ou, em sua própria desintegração, é capaz de metamorfosear em um metassistema mais rico, hábil para tratar seus problemas... Já nos encontramos nos inícios de um caos. O caos pode ser destruidor, pode ser genésico, trata-se, talvez, da última oportunidade no último risco.”

Tenho sérias dúvidas que, nesses dias, os Cardeais Romanos tenham a sensibilidade, coragem, ousadia e vontade política de, aproveitar o grito de desespero de um homem que se recusou a ser Deus. Esperaria nesse momento, que o Congresso do Estado do Vaticano, seus representantes, antes de escolherem o próximo Pontífice, lessem, relessem e refletissem, em grupo, um dos maiores textos da Literatura Universal - O Grande Inquisidor, de Fíodor Dostoievski, em seu livro, “Os Irmãos Karamazov”. 

Um recorte do texto, caro leitor, deixo para reflexão: “...Não ignoravas, não podias ignorar este segredo fundamental da natureza humana e, contudo repeliste a única bandeira infalível que Te ofereciam e que teria curvado, sem contestação, todos os homens diante de Ti, a bandeira do pão terrestre; repeliste-a em nome do pão celeste e da liberdade. Vê o que fizeste depois, e sempre em nome da liberdade! Não há, torno a dizer-Te, anseio mais doloroso para o homem que o encontrar o mais cedo possível um ser a quem entregue este dom de liberdade que o desgraçado traz ao nascer. Mas, para dispor da liberdade dos homens, é necessário dar-lhes a paz da consciência.”

A grande contribuição de Dostoievski nesse texto, serve para o Conclave dos Cardeais: Não obriguem com suas leis divinas que a humanidade aspire ser “a imagem e a semelhança de Deus”, mas que haja consideração, respeito e liberdade para “ser humano”, com suas virtudes e fraqueza; genialidades e ignorância; amor e ódio; prazer e obediência; loucura e sanidade, sem ser excluída (a humanidade) para o Inferno, enquanto os que pensam serem Divinos aproveitam os prazeres da tirania, da divisão dos dízimos, da rigidez de pensamento.

Bento XVI, com sua renúncia, pode provocar uma abertura histórica do Estado Católico – devolver aos humanos, a sua humanidade e, tratá-los com respeito e consideração, dando a liberdade de comer “o pão da terra” e não o “pão celestial”.


Ao Papa Ratzinger, um poema de Bandeira:

Vontade de Morrer
“Não é que não me fales aos sentidos
Á inteligência , o instinto, o coração:
Falas demais até, e com tal suasão,
Que para não te ouvir selo os ouvidos.

Não é que sinta gastos e abolidos
Força e gosto de amar, nem haja a mão,
Na dos anos penosa sucessão,
Desaprendido os jogos aprendidos.

E ainda que tudo em mim murchado houvera,
Teu olhar saberia, senão quando,
Tudo alertar em nova primavera.

Sem ambições de amor ou de poder,
Nada peço nem quero e – entre nós – ando
Com uma grande vontade de morrer”.

*Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

AOS ECONOMISTAS E NÃO-ECONOMISTAS: LIÇÕES E ILAÇÕES DO FÓRUM ECONÔMICO DE BISSAU

Arq. Fernando Jorge Teixeira
Por: Fernando Jorge Teixeira 

Houve nos idos de oitenta, na nossa praça, um debate em forma de troca de ideias num jornal, entre os “economistas” e os “não-economistas” que nos interessou bastante na altura; sendo jovens, interessados nos destinos do país - com algumas leituras pelo meio - entendíamos que não era realmente um debate entre economistas e “não-economistas” (categoria afinal inexistente), mas um debate entre os que defendiam uma concepção “capitalista” do mundo (baseada em valores Ocidentais, tidos como seguros e certos para se inspirar na construção do nosso tecido económico nacional) e os que defendiam uma concepção “socialista” do mundo baseado na negação da propriedade privada (que nenhuma relação tem com uma economia planificada, pois qualquer economia precisa de ser orientada em lógicas claras, obedecendo regras do mercado, em suma aquilo que todos os bancos centrais de países desenvolvidos procuram fazer de forma a planificar e prever os resultados futuros).

Valores que valendo o que valiam, já eram partilhados e reverenciados em quase três terços da humanidade se somarmos a China de Mao Tse Tung a União Soviética, metade da Europa, países como Vietnam, Cuba, Mongólia, Angola, a Etiópia de Megistu para não citar outra dezena de Camboja a Moçambique. Em suma só pela quantidade de partidários impressionava bastante e convencia até os mais cépticos.
Hoje esta segunda concepção, graças a Deus, desapareceu quase totalmente da face da terra, se exceptuarmos a teimosa Cuba e a louca Correia do Norte; e mesmo aqueles que como a China, que não o tiraram completamente do léxico político (por motivos de coesão interna e o papel histórico e actual do Partido Comunista Chines, e por ainda não haver uma nova filosofia de vida que possa substituir de um dia opara o outro a crença de mil milhões de pessoas) e da economia nacional (por causa do perigo do desemprego de milhões e milhões de pessoas e a destruição insensata de toda uma economia – como se fez na Rússia de Ieltsin naquela que foi um crime só comparável aos de Stalin – planificada, mas bem ou mal, gerida racionalmente) já o tiraram do pensamento económico estratégico do futuro.

E é mais que evidente para a elite chinesa que a economia da China do futuro só poderá ser capitalista no conteúdo mesmo que a forma do Estado seja diferente. Dos Chineses, é bom que se diga, que como todos os que têm a virtude da paciência aprendem com os erros, mas não ficam só pelo aprendizado: eles com a sua tão inteligente como prática concepção politica, económica e social “Um país, dois sistemas” têm ainda uma vantagem acrescida, podem aprender com os erros de um e de outro sistema. Do socialista sabem de cor todos os erros, pois os cometeram também durante anos, como todos os que seguiram essa via, até a chegada do Deng Xiao Ping. Dos erros do capitalismo apreendem na maior e melhor escola do mundo, na escola real das maiores e mais solidas economias do mundo que agora se afundam cada dia de uma ponta a outra da Europa e do outro lado do Atlântico. Como cartas de um baralho viciado as economias tombam levando milhares a falência e a bancarrota total.

Nem a escola de Chigaco, no seu auge, podia prever o que hoje em dia se passa. Pois sempre os economistas basearam as suas teorias em coisas reais e não em produtos que só existem na cabeça dos seus criadores, embora todos pensássemos que eram reais (que o digam os clientes de BernardsMadoffs deste mundo); e ainda este cataclismo esta acontecendo e pode ser que depois da queda de Espanha a França tenha que tocar no tapete (por mais que se diga o contrário para “tranquilizar” os mercados) e não demorará os seus efeitos chegarão as nossas janelas - para entrarem pelas nossas vidas adentro - e não apenas aos ecrãs dos nossos televisores para varrerem tudo que encontrarem pelo caminho. Pois este tufão, mesmo depois de todo o cataclismo que já provocou, esta na fase da “procissão ainda vai no adro” para usar uma expressão Portuguesa.

Seja como for, hoje felizmente, sabemos que as duas concepções do mundo estavam profundamente erradas. Por isso é sintomático que as suas derrocadas foram quase em simultâneo (estou falando em tempo histórico) a queda do Murro de Berlim e a crise total do capitalismo que começou com a falência do Mega Banco Lehman Brothers. Mas nesse distante tempo, ambos os campos desta discussão - que a longo termo não deu em nada, como tudo no nosso país - davam demasiado valor às suas certezas quanto as virtudes desses diferentes sistemas para uma economia como a nossa e não só. Mas hoje volvidos tantos anos penso que de todas as formas aquele exercício pueril não deixou de ser – mesmo que embrionário - um exercício útil para um futuro pensamento económico nacional que hoje se quer e é prementemente necessário.

Pois um país que não tenha e não segue um pensamento económico claro, que faça basear todas as suas decisões políticas e sociais nesse modelo, andará sempre a improvisar. E da improvisação política ou se sai bem ou se sai mal (como de resto já afirmei em outros textos), mas quase sempre mal. E nós como povo, como nação, precisamos de uma vez para sempre deixar de ser filhos e resultados do improviso.

II
Posto isto como introdução chegamos ao nosso sujeito: FÓRUM ECONÓMICO DE BISSAU. Nome simples mas de uma abrangência total não deixando de fora nenhum espaço dedutivo. Assisti a esse fórum com grande interesse esperando assistir algumas interessantes prelecções de economia por doutos economistas de outras praças sobre o nosso tecido económico quase inexistente e remédios para a cura aos nossos endémicos problemas de desenvolvimento.

As minhas expectativas quanto ao Fórum foram motivadas porque primeiro sou um apaixonado da economia - gosto dos clássicos como Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx, Keynes e as disputas deste e seus rivais do pensamento económico,- e calhou nessa semana do Fórum o meu livro de cabeceira ser “A riqueza das Nações” de Adam Smith (obra-prima do pensamento económico ou o livro que é em si a pedra fundadora da “ciência económica", mas escrita com uma simplicidade esclarecedora que qualquer aluno do decimo segundo o pode ler sem nenhum problema) que leio com muito interesse nestes tempos de crises cíclicas em virtude das quais cada dia os telejornais abrem mais com noticias da economia do que com crimes ou escândalos das celebridades (a crise económica pelo menos teve o efeito benéfico de melhorar a qualidade do teor dos noticiários, pois agora a assistir os telejornais e noticiários aprende-se alguma coisa e não servem apenas para saber algo sobre o que aconteceu e “matar” a curiosidade) como antigamente.

Segundo, porque num país em que nada acontece de interessante no campo da economia, cultura, literatura é sempre uma lufada de ar fresco, um saudável exercício, um acontecimento dessa magnitude, nessa área de conhecimento, frequentada por tanta gente de bem. Sim naquela sala do Hotel Azalaia (para mim continua a ser Hotel 24 de Setembro) nessa manhã concentrou-se a nata da intelectualidade guineense para discutirmos o nosso país e propor soluções para sairmos do marasmo, da improvisação, diletantismo e da incompetência que nos acompanha há quarenta anos.
Aqui não falarei das dezenas de personalidades de renome internacional que estiveram presentes, pois o site do Fórum ou documentos publicados devem ter isso afixado; mas necessito salientar que trazer ao nosso país figuras como Olusegun Obasanjo, presidentes de Fundos Soberanos e CEOs de Bancos Comerciais (um tem um banco na Guiné mas nunca tinha ca posto os pés) e de varias empresas internacionais de grande porte e renome é um feito extraordinário. Mas mais do que a parte organizacional (que foi impecável) os resultados conseguidos quase“ imediatamente” foram se não espantosos, no mínimo muito pouco habituais neste tipo de fórum.

A comparência de organizações e empresas das áreas de construção e urbanismo, da área da criação de animais (até de países como Israel, vejam só) e produção de raçoes, de energia, do sector das pescas, minas, tecnologia de informação etc., etc., que demonstraram interesse real em investir neste país fizeram deste Fórum um acontecimento de enorme importância para o nosso frágil e quase inexistente sector empresarial.

Feito merecedor de enaltecimento especial pois, empresas da área económica – que diferente da área humanitária – e personalidades afins, geralmente vivem num mundo de procura de mais-valias e em que cada minuto é dinheiro. A frase time is money (tempo é dinheiro) é válida para qualquer actividade, mas na área empresarial é muito mais verdadeira. E o fórum fez jus a esse leitmotiv, pois de facto conseguiu num dia resolver coisas que normalmente demoram meses e as vezes anos e ainda teve tempo para um concerto a noite.

Ao Dr. Paulo Gomes pela clarividência, espirito de iniciativa e persistência todos os louvores. Pois convenhamos que o momento político (e conjuntura económica) não era o mais adequado, pois em virtude das malfadadas sanções que imperam sobre o país seria muito mais difícil realizar um fórum dessa envergadura e numa área tao delicada como aa economia que é muito vulnerável a mudanças políticas bruscas; alem de que muitas personalidades em virtude das sanções poderiam ser impedidos de participar mesmo que tivessem vontade para isso. Mas mesmo assim Dr. Paulo não se abateu e não se acobardou perante as dificuldades (nem falo aqui das dificuldades de logística, transporte, falta de hotéis, aeroporto precário, cortes frequentes de energia eléctrica, internet extremamente mau, etc., etc., na infindável lista dos nossos problemas caseiros). Na verdade o país precisa cada vez mais de homens como o Paulo Gomes, pragmáticos, apolíticos que baste (para tomar decisões técnicas de risco mas responsáveis); precisa cada vez mais de profissionais essencialmente técnicos e cada vez menos de políticos profissionais.

Resta dizer - para um “não economista” como eu - que independentemente de acções que vierem a ser implementadas no seguimento deste Fórum Economico uma coisa ela já conseguiu, que é provar que “é possível” fazer algo mesmo em piores cenários. É possível resgatar o país, é possível criar interesse, em relação ao país, em gente que a primeira vista pareceria quase impossível.

III
Não tive portanto o prazer de ouvir dissertações “puramente” económicas nem discussões, com réplicas e tréplicas sobre os caminhos certos para a economia nacional num acirrado debate de ideias, pois o formato do Fórum foi comum como muitos outros que já assisti (por exemplo foi quase igual a outra de três dias realizada nessa mesma sala em Dezembro de 2011 na hora da apresentação do Memorando Económico de País pelo Banco Mundial): apresentações curtas, sintéticas e objectivas - a exiguidade do tempo não o permitiria tampouco outro formato, creio – seguido de grupos de trabalho, terminando em propostas para implementação sejam elas de políticas no geral ou de projectos concretos. Mas a quantidade de contribuintes, a qualidade das contribuições, a envolvência de participantes merece uma análise atenta. Me fizeram recordar as aulas de economia política de há tantos anos passados, pois mais do que da “economia pura” falou-se de “política económica” possível para um país que se pretende que deve ser outro - que não este - forte e empreendedor.

A compreensão da importância do fórum pelo Governo e a presença no mesmo das duas mais altas individualidades de Transição foi o elo de ligação para se criar um clima de cooperação frutífera entre o sector privado e publica para futuras parcerias. Portanto o espírito do Fórum deveria nortear próximas realizações nacionais desta índole sejam elas económicas, culturais, ambientais ou outras. É desse espirito que precisamos cada vez mais de forma a interessar cada vez mais o cidadão comum no desenvolvimento e no progresso desta nossa pátria. Para devolver dinâmica a uma economia que era quase auto-suficiente em termos alimentares, quase uma autarcia, que exportava produtos alimentares, que agora entrou em colapso acelerado. Urge subir o PIB, baseando primeiramente no que temos; neste momento urge duplicar a produção de bens essenciais como o arroz o milho a mancara a cana-de-açúcar e o caju. Mas isto de tanto ser dito e não realizado acaba por ser um lugar-comum – como “incrementar o turismo”, “potenciar as nossas riquezas naturais”, “desenvolver a pesca”, “basear a nossa economia na agricultura” – mas o Fórum quer dizer-nos que não basta enuncia-los e declama-los, mas realiza-los e não menos importante, como realiza-los.

Urge uma política económica séria e consistente que liberte as forças produtivas da Nação. Precisamos encontrar o nosso caminho económico dentro deste espaço que nos cerca e envolve por todos os lados, pois não tenhamos duvidas, cada país esta nesta UEMOA par tirar o máximo proveito para o seu povo e sua nação e quem disso dúvida é inocente. Todas as uniões económicas desde o início do mundo moderno só serviram a este pressuposto. Desde a Comunidade Europeia do Carvão e Aço que veio a dar lugar a actual União Europeia uns países ganham sempre mais do que os outros em qualquer união monetária ou económica. Na Europa quem mais ganha é a Alemanha e Espanha, lo que contribuiu mais e o que recebeu mais. Seguidos de França e Itália e depois os outros. Os que mais perdem são obviamente os mais fracos como nós na UEMOA, como nós na CEDEAO. 

Mas isso também em parte depende da clarividência e capacidade dos nossos dirigentes de traçarem uma política económica nacional competente e em consonância com a sua realidade cultural, social e sem descurar a protecção e uma exploração competente de seus recursos naturais. Disto não falou o Fórum, mas o que o espirito do Fórum pode criar só pode ser conservado e potenciado, pensando e realizando uma política económica racional sim, mas nacionalista acima de tudo. Uma que quer fazer do país mais do que os outros dessas uniões, para que deixe de ser olhado com desdém e menospreza como o pior membro, o mais atrasado e o mais ignorante e desorganizado. O que fizemos para merecer isto? Não, não é o que fizemos, mas o que não fizemos.

De Adam Smith a Milton Friedman passando por Keynes a ciência económica nos diz que de uma forma ou outra temos que planear o nosso desenvolvimento económico seja ela qual for, se elegermos keynesianismo puro ou as teorias (manuais) do Banco Mundial para o uso nos países pobres do “terceiro mundo” ou “em vias de desenvolvimento” (como nos chamavam os Países Socialistas para não ferir o nosso amor próprio). Mas como o nome indica “estar em vias” de alguma coisa nada significa e nada resolve, pois a formula em si é errada. Estávamos “em vias” só nas nossas cabeças, pois salvo raras excepções todos na verdade estávamos na senda da destruição de tudo que tinha alguma coisa a ver com o desenvolvimento. Talvez a fórmula correcta (se se basear-se apenas numa definição económica e não política) seria “países no começo do processo de desenvolvimento, seja ela qual for”.

Bem termino dizendo que do Fórum independentemente de tudo o que foi dito, o essencial foi a demonstração de um espirito positivo, que não se atemoriza perante as dificuldades e esta disposto a lutar contra ventos e mares e vencer. Este “espirito do Fórum”, que gostaria que se transformasse em “espirito de Bissau”. Um espirito vencedor que contaminasse a nação e o fizesse desenvolvido próspero e rico. Na verdade um país só é rico quando os seus habitantes também o são. A Boris Eltsin,Presidente Russo, muitas vezes culparam de ter permitido o aparecimento de centenas de milionários e multimilionários na Rússia pós-comunista. Ele uma vez respondeu que só lamentava o facto de ter criado apenas de centenas de multimilionários pois gostaria de ter criado milhares. Temos que ter vistas largas, interesse nacional, permitir e potenciar o enriquecimento dos Guineenses. Aliás, este desiderato deve ser político do Estado. Enriquecer os Guineenses é um imperativo Nacional, pois dentro de pouco tempo além de não possuírem nenhuma empresa nacional, não terão o suficiente nem para comer e muito menos para educar os filhos.
Bissau, 14 de Fevereiro de 2013

* Arquiteto e Coordenador da Casa dos Direitos

Fotógrafo de Famalicão vence World Press Photo

Daniel Rodrigues 
Fonte: Porto24

O português Daniel Rodrigues, de 25 anos, venceu o World Press Photo, na categoria “Daily Life”. A vida do fotógrafo de Famalicão deu nova reviravolta em poucas horas. Daniel está desempregado desde Setembro, altura em que desistiu do foto-jornalismo por se encontrar numa situação de emprego precário e vendeu o material fotográfico “para conseguir sobreviver”, mas a fotografia que tirou de crianças a jogar à bola na aldeia de Dulombi, na Guiné-Bissau, já está a mudar-lhe a vida.

“Sempre quis ganhar o World Press Photo, mas nem acredito no que aconteceu. Foi a primeira vez que concorri. E foi um colega meu que me ligou de manhã. Eu ainda não sabia porque não tinha visto o email“, diz Daniel Rodrigues ao P24.
“Pelos vistos, parece que agora a Canon Portugal vai disponibilizar-me uma 6D e uma 24-75″, conta, explicando que trabalhou “como freelancer, a recibos verdes” até perceber que “não compensava”.

“Desisti e tentei encontrar emprego noutra área. Pensei inclusive em ir para fora do país, mas seria sempre para fazer outra coisa porque já não tinha material”. O prestigiado prémio que acaba de vencer, e que corresponde a um valor pecuniário de 1.500 euros, vai ajudá-lo a começar de novo.


A fotografia com que venceu o World Press Photo foi tirada  em Março de 2012, na aldeia de Dulombi, na Guiné-Bissau, numa missão humanitária – a Missão DulombiEstava na Guiné-Bissau há 2 dias e, quando chegou à aldeia aonde regressavam, pela primeira vez desde a guerra colonial, 2 ex-combatentes portugueses, viu as crianças a jogar à bola e juntou-se a elas. “Quando lá fui, estavam há mais de um ano sem aulas por causa da situação que o país atravessava”, recorda Daniel.

Daniel Rodrigues concorreu ao World Press Photo com outras fotografias, mas foi esta que mereceu a atenção do juri internacional. “Estive um mês  e 15 dias fora porque fui um dos portugueses que ficaram retidos no Mali, no golpe de Estado. Concorri com outras fotos do futebol, era um portefólio, mas à categoria de Desporto, com uma reportagem fotográfica sobre o Hospital de Galomaro, onde ficámos a dormir, com retratos de África, com fotos do golpe no Mali e fotos da vida quotidiana num sítio da Guiné-Bissau chamado Saltinho”, conta.

Apaixonado pelo continente africano, Daniel Rodrigues – que estagiou no Correio da Manhã, depois de ter estudado no Instituto Português de Fotografia, e passou recentemente pela Global Imagens, onde fotografou sobretudo para o Jornal de Notícias no Porto e no Norte –, acompanhou o grupo humanitário no Mali, onde ficaram retidos na sequência da tomada do Aeroporto de Bamako por militares.
“O meu sonho sempre foi ir a África. Surgiu a oportunidade de acompanhar a Missão Dulombi e eu aproveitei”, recorda Daniel, que, “se não arranjar emprego”, se juntará a uma nova missão em Dulombi, com início a 7 de Março.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Parabéns Cap. Manuel da Costa


Manuel da Costa

A Editorial Minerva e o autor, têm o prazer de convidar V. Exª, família e amigos, para a sessão de apresentação das obras MARÉ BRANCA EM BULÍNIA (romance) e ROSAS DA LIBERDADE (poesia) de Manuel da Costa, a realizar no dia 9 (Sábado) de Fevereiro de 2013 pelas 17 horas no Fnac do Chiado, Lisboa.
 MARÉ BRANCA EM BULÍNIA

Uma história romanesca sobre o tráfico de droga na África Ocidental «A cidade de Bulínia é uma metáfora do corpo da cidade capital Bissau que o autor retrata narrando a história do novo mercado que se abriu, escancaradamente, para centenas de cidadãos incautos. O autor vai pôr o dedo na ferida aberta para, em seguida, debruçar-se sobre as mudanças sociopolíticas ocorridas com o advento deste novo e riquíssimo mercado na nossa economia.

Há neste romance, Maré branca em Bulínia, a tessitura de uma incerta cidade tão distante de espaços com localização geográfica específica. Por isso a narrativa se torna tão realística quanto fantástica. Assim sendo, as mudanças que aconteceram no quotidiano da vida dos citadinos de Bulínia refletem a (des)graçada vida dos seus habitantes e, ao mesmo tempo, aponta-lhes os caminhos a trilhar. Os destinos cruzados hão, um dia, de se embrenhar numa tediosa teia de cínicas relações sociais».

ROSAS DA LIBERDADE


«Só pode ser feliz, esta iniciativa de publicar uma obra literária de um género tão delicado e profundo como é a poesia. A Guiné-Bissau está a recobrar de mais um golpe de Estado que decapitou o processo eleitoral, os partidos políticos acabam de entender-se e a Assembleia Nacional Popular pôde finalmente voltar a reunir-se – um jovem engenheiro agrónomo, oficial subalterno, Capitão da Força Aérea, da especialidade de Mecânica de Aviões – vem em livro, expor-se, qual um grito fixado para melhor ecoar hoje e para a posteridade. 

É que se convenceu de que o país de heróis está mal imaginado no exterior e num esforço vivaz de demonstração da sua clara consciência de missão: provar que a classe castrense guineense, de patriotas assumidos, gloriosos combatentes pela Pátria, ama a Nação e o seu Estado. Por isso, também eles, não gostam da situação actual».

Manuel da Costa, nasceu em 1965 na tabanca de Santa-Clara, Sul da Guiné-Bissau. É engenheiro agrónomo e mecânico da electricidade e instrumentos de aviões. Em Janeiro de 2004 foi promovido a Capitão e nomeado Chefe de Repartição Agrícola da Divisão de Serviços de Produção do Estado-maior General das Forças Armadas.

Ordidjanotando

A Literatura guineense ganhou mais um escritor. A primeira vez que li um dos vários contos do Capitão Manuel da Costa, através de alguns manuscritos facultado em 2011 pelo mais-velho e camarada, Francisco Conduto de Pina (Fidu di Terra) tive a sensação  de estar a ler um contistas com muita estrada feita. Tenho a plena certeza que será muito acarinhado pelos leitores. Gostei da forma simples que escreve e a capacidade estreita de retratar com toque de vero-semelhança a realidade guineense. Alias na minha ultima viagem a Bissau, no ano passado, tive acesso aos trabalhos deste escritor que o público vai ter acesso neste pontapé inicial em doze dupla, com estas  duas obras em romance e poesia. Falta agora publicar os contos, do qual espero puder contribuir para sua edição no Brasil.

Caríssimo Cap. Manuel da Costa, resta-me apenas parabenizar-te (brazukando) por este grande e positivo passo que deste. Desejo-te muitos sucessos e convido aos guineenses que estão em Lisboa a participarem neste evento. E convido a toda família guineense a ler, mas leiam mesmo, estes livros do novo “diamante bruto” da literatura guineense, porque vale a pena!