segunda-feira, 30 de abril de 2012

ANGOLA, FALA SÓ

Foto(Club-K) 
Filomeno Vieira Lopes- Depois de receber tratamento inicial a ferimentos recebidos durante manifestação de 10 de Março


Fonte: VOA

Filomeno V. Lopes: "Eleições começaram mal, caminham pior e é preciso evitar uma tragédia."

Washington - O secretário-geral do Bloco Democrático, Filomerno Vieira Lopes, advertiu para o perigo de a fraude eleitoral em Angola resultar em violência e pediu o empenho de todos para evitar uma tragédia.
"As eleições começaram mal, caminham pior e todos os nossos esforços devem ser feitos para que isto não termine em tragédia", disse Vieira Lopes em resposta aos ouvintes do programa da Voz da América, Angola Fala Só.

Vieira Lopes acaba de regressar a Luanda, após receber cuidados médicos no estrangeiro, tornados necessários pelas agressões de que foi alvo, durante a manifestação de 10 de Março, na capital angolana. Na semana passada, o activista e antigo vigário-geral de Cabinda, Raúl Tati, disse que a hierarquia da Igreja Católica está a ser usada pelo governo de Angola como "instrumento de dominação em vez de instrumento de libertação".

Respondendo aos ouvintes da Voz da América, no programa Angola Fala Só, Raul Tati disse, ainda, que desde a chegada do novo bispo de Cabinda, a igreja "vai ao encontro dos intentos do regime". Raul Tati, durante anos vigário-geral da diocese de Cabinda, foi afastado em Abril de 2011 do exercício dos sacramentos, assim como outro sacerdote cabindês, Casimiro Congo. Esse afastamento foi o corolário de um período de tensão com a hierarquia religiosa iniciado em 2005, quando D. Filomeno Vieira Dias sucedeu a D. Paulino Madeca como Bispo de Cabinda. Tati disse que se considera uma "vítima da crise na igreja de Cabinda".

"Sempre defendi uma igreja profética, uma igreja dos oprimidos, uma igreja dos abandonados, uma igreja dos marginalizados, uma igreja dos pobres, uma teologia que fosse ao encontro dos homens oprimidos, não uma teologia que fosse ao encontro dos poderosos, uma teologia feita do chão da vida, não uma teologia feita a partir dos palácios", declarou Tati.

Sustenta que, "infelizmente, há novos rumos na igreja de Cabinda" e que "com a mudança do novo bispo nós constatanos que já não é aquela igreja que nós tivemos há tempos, e isto vai exactamente ao encontro dos intentos do regime que sempre procurou silenciar os profetas desta terra. E está a consegui-lo fazendo da igreja um instrumento da dominação e não um instrumento de libertação", afirmou Raul Tati, salientando que falava da hierarquia da Igreja Católica em Angola e na Santa Sé, mas não dos leigos e dos fiéis.
Tati, tal como fez em 2008, volta a encorajar os angolanos a não votarem nas eleições deste ano, frisando que esse exercício é reservado aos homens livres. "Quem não é livre não pode exercer o direito de voto", disse, esclarecendo que Cabinda é uma colónia de Angola.

Ordidja-notando
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sábado, 28 de abril de 2012

Trailer-Documentário - "Pela Primeira Vez"

Libertados o presidente interino e o primeiro-ministro de Guiné-Bissau

Raimundo Pereira e Carlos Gomes Jr.

Fonte: EFE

O presidente interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior foram libertados nesta sexta-feira (27), segundo anunciou aos meios de comunicação o porta-voz da junta militar no poder, o coronel Daba Na Walna.

Pereira e Gomes, detidos após o golpe de estado do dia 12 de abril, foram postos em liberdade após a viagem à Bissau de uma delegação militar da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

A missão da CEDEAO, integrada pelos chefes de Estado-Maior das Forças Armadas da Nigéria, Costa do Marfim e Senegal, mantiveram uma reunião com o alto comando militar guineense liderado pelo tenente-general António Indjai.

Após sua libertação, pouco antes das 18h (15h de Brasília), Pereira e Gomes deixaram Bissau com destino a Abidjan, no mesmo voo que a delegação militar da CEDEAO. Daba Na Walna anunciou também a formação de um governo de transição de um ano, passo prévio para a convocação de eleições presidenciais e legislativas.

O anúncio da libertação de Pereira e Gomes despertou manifestações de alegria por parte dos seguidores e simpatizantes do ex-governante do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Em vários bairros periféricos de Bissau, grupos de jovens saíram às ruas após receber a notícia da libertação de ambos dirigentes. Os líderes da CEDEAO, reunidos na quinta-feira em uma cúpula extraordinária em Abidjan tinham dado um ultimato de 72 horas à junta para restabelecer a legalidade constitucional na Guiné-Bissau. 

A cúpula decidiu também o desdobramento de uma força de 600 soldados em Guiné-Bissau para garantir a segurança das instituições e dos responsáveis pela transição.
O golpe de estado aconteceu no último dia 12 enquanto o país - um dos mais pobres do mundo - estava em pleno processo para realizar o segundo turno de suas eleições presidenciais, fixadas para o próximo dia 29 de abril.
Odidja-notando

CEDEAO – 2
CPLP – 0 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Lula e Dilma se emocionam com cenas de José Alencar em filme

Lula da Silva e a Presidenta Dilma Rousseff
Fonte: Notícias Terra

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff assistiram na noite desta quarta-feira à estreia do documentário Pela Primeira Vez, em Brasília. Durante a exibição do filme, dirigido pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, Lula e Dilma se mostraram especialmente comovidos com as cenas nas quais o ex-vice-presidente José Alencar aparecia. Ele faleceu em março do ano passado depois de uma luta contra o câncer.

Logo após o filme, o ex-presidente foi só elogios para sua sucessora. "Eu acho que tudo aquilo que a gente falava da companheira Dilma antes da campanha e depois da campanha era pouco diante do que ela está fazendo no Brasil", disse Lula.

Para o ex-presidente, o conhecimento que Dilma acumulou nos oito anos de seu mandato como ministra a ajudou na gestão da Presidência da República. "Outro dia eu disse para a Dilma o seguinte: nunca na história do Brasil alguém chegou à presidência com um acúmulo de experiência como a Dilma chegou. A experiência de oito anos no meu mandato, a experiência no Ministério de Minas e Energia e, sobretudo, a experiência de coordenação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que eu tenho certeza que foi o curso de pós-graduação".

Indagado se haveria alguma diferença a ser acertada entre as duas gestões, Lula elogiou a presidente. "Ela pode fazer mais, fazer melhor". Dilma retrucou em seguida: "Não, não tem diferença (entre as duas gestões), nunca vai ter". A presidente se disse emocionada ao sair do filme. "É um momento muito especial", afirmou Dilma. O documentário exibe os últimos momentos do governo Lula e a posse de Dilma Rousseff. "É a primeira vez sucedendo o primeiro presidente com 87% (de aprovação)", disse Dilma. "Se continuar assim, ela vai chegar a 87% no próximo mês", emendou Lula.


O Documentário 
O documentário Pela Primeira Vez é dirigido por Ricardo Stuckert, que foi fotógrafo oficial nos oitos anos do governo de Lula e ainda atua no Instituto de Cidadania, entidade fundada pelo ex-presidente. Com duração de 35 minutos, o media-metragem mostra em 3D os últimos dias do governo Lula, a posse da presidente Dilma Rousseff e o encontro, no Hospital Sírio-Libanês, do ex-presidente com o ex-vice-presidente José Alencar, que não pode participar da cerimônia de posse por lutar contra um câncer. Na primeira aparição de Alencar no filme, a plateia de cerca de 700 convidados aplaudiu entusiasmada.

O filho do ex-vice-presidente, José, estava na mesma fila que Dilma e se emocionou bastante. Em um trecho do filme, as imagens aparecem acompanhadas da voz de Lula dizendo que "nunca antes na história do mundo, um presidente teve um vice da qualidade do que eu tive". Outra parte mostra o diálogo entre o ex-presidente e Alencar.

Da festa da posse, ocorrida no dia 1º de janeiro de 2011, há imagens da participação popular e da subida de Dilma e do vice-presidente Michel Temer na rampa do Palácio do Planalto. O filme também apresenta detalhes dos bastidores da cerimônia, como o momento em que a então primeira-dama Marisa Letícia coloca sobre o ombro de Lula a faixa presidencial.

Ordidja-notando

Estou a chegar desse evento que foi uma estreá inesquecível do filme documentário "Pela Primeira Vez" que  decorreu no Museu Nacional de Brasília. Pela primeira vez, tive oportunidade de cumprimentar o Lula da Silva e a Presidenta Dilma. Em poucos segundos disse-lhes que era da Guiné-Bissau e espero que ajudem esse Povo irmão.

O Brasil tem tido um papel moderado e conciliador em relação à Guiné-Bissau. E espero que essa posição se mantenha pela Paz e Reconciliação entre os guineenses.

Tive oportunidade de cumprimentar nesta mesma noite, o meu ídolo, que é o grande realizador de cinema americano Spike Lee, que esteve na plateia a assistir o primeiro filme em 3D brasileiro, em formato Documentário que é a minha predileção.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Deputados informados sobre linhas gerais do acordo com Guiné-Bissau

Exalgina Gambôa


Fonte: Angola Press

As linhas gerais do acordo de cooperação bilateral entre as repúblicas de Angola e da Guiné-Bissau foram dadas a conhecer hoje, terça-feira, em Luanda, aos deputados, durante a VIII sessão plenária ordinária da Assembleia Nacional. A informação foi prestada pela secretária de Estado das Relações Exteriores para a Cooperação, Exalgina Gambôa, que enfatizou o acordo militar no domínio da assistência técnica destinada à reformar as forças armadas e a polícia daquele país lusófono. 

Explicou que a cooperação bilateral assenta em dois pilares básicos: assistência técnico-militar (Missang), que privilegia o programa de reforma no sector da defesa e segurança, e o apoio orçamental e financiamento de programas a Guiné-Bissau, através de linha de crédito. Devido ao clima de instabilidade que se instalou na sociedade e a atitude castrense e à reacção da ala militar, o Executivo da República de Angola decidiu suspender, unilateralmente, o protocolo para a implementação do programa técnico-militar com a Guiné-Bissau e, consequentemente, ordenar a retirada da Missang. 

Explicou que a atitude do Executivo angolano resulta do facto de ter havido alteração da situação política, quebra da confiança na ala militar guineense em relação as forças armadas angolanas e a falta de segurança para a continuidade do programa. Contudo, afirmou que Angola continuará a manter o mesmo nível das excelentes relações de amizade e cooperação com a Guiné-Bissau, alicerçadas na proximidade histórico-cultural desde a luta de libertação nacional dos povos dos dois países. Precisou que a República de Angola procurará contribuir no quadro bilateral e multilateral para a segurança, estabilidade e a consolidação do Estado democrático e de direito, bem como o desenvolvimento económico e social da Guiné-Bissau.

Quanto ao auxílio que Angola prestou a Guiné-Bissau no âmbito das recentes eleições presidenciais naquele país, Exalgina Gambôa explicou o mesmo circunscreveu-se no quadro institucional e não para apoiar um dos candidatos. Durante o debate em torno do relatório, o líder da bancada parlamentar da UNITA, Raul Danda, condenou a atitude golpista dos militares na Guiné-Bissau, porém, pediu explicações ao Executivo angolano sobre o eventual envio de material de guerra de grande porte para aquele país. Em resposta, o vice-ministro da Defesa, Silvino de Jesus Sequeira “Kianda”, esclareceu que o material que se encontra na Guiné-Bissau era necessário para a formação das forças de defesa e segurança locais.

Sublinhou que a cooperação militar entre os governos de Angola e da Guiné-Bissau foi estabelecida através do general António Njai, chefe do Estado-Maior general das forças armadas daquele país, que se deslocou a Angola a propósito no dia 4 de Setembro de 2010. Declarou que Angola não teve influência no golpe militar, pois a missão das suas tropas naquele país circunscreveu-se apenas naquilo que foi acordado, explicando que a retirada da Missang da Guiné-Bissau está a ser negociada com a CDEAO, por uma questão de segurança.

A Missang foi instituída na Guiné-Bissau em 21 de Março de 2011, em cerimónia presidida pelo malogrado presidente da República Malam Bacai Sanha, acompanhado do ministro da Defesa de Angola, Cândido Pereira Van-Dúnem, entre outras individualidades nacionais e estrangeiras.
www.patriciaguinevere.blogspot.com.br

Ordidja-notanto

Quer dizer, só agora é que foram apresentadas as linhas gerais ou mestras do acordo bilateral entre a Angola e a Guiné-Bissau aos deputados angolanos.

Repito e sublinho: SÓ AGORA???

Mas o mais caricato da intervenção da Secretária de Estado de Angola, ou melhor, a passagem que gramei mesmo foi esta: “Angola procurará contribuir no quadro bilateral e multilateral para a segurança, estabilidade e a consolidação do Estado democrático e de direito...”

Não sei, e espero que um dia alguém me faça entender o que os angolanos entendem por “consolidação do Estado democrático e de direito” porque a ser verdade que iriam nos ajudar nesse sentido, o cenário seria catastrófico, ou seja, teríamos que contar com um Presidente da República que duraria mais de 30 anos no poder, jornalistas perseguidos e silenciados, manifestações do Bloco Democrático reprimidos, padres detidos e torturados (caso Casimiro Congo de Cabinda) cofres do Estado dilapidados, Corrupção em larga escala etc, etc e etc...

Enquanto guineense, dispenso a tragicomédia democrática angolana e mais: lições de democracia ao estilo angolano é que levaram a Guiné-Bissau a Democratura que reinava até ao Golpe Militar!!!      

Tenho escrito!!! 

POLITICAMENTE INCORRECTO…

ESTHER SPENCER FARMHOUSE

FONTE: LIBERAL 

No rescaldo de golpes e conflitos, a Guiné-Bissau procura o seu espaço, num continente africano marcado por feridas abertas… e parecendo ser a maior “dor de cabeça” dessa coisa a que chamamos “comunidade internacional”. Vivendo permanente instabilidade, com excepção do curto período de liderança de Luís Cabral (o primeiro Presidente da República, um homem bom abandonado pelos seus “camaradas” cabo-verdianos) e uma “normalidade” forçada pelo punho autoritário do primeiro consulado de Nino Vieira, a pátria de Amílcar Cabral parece marcada pelo selo de tragédia da morte violenta do seu inspirador e pai da independência.

Golpe atrás de golpe, os militares guineenses têm marcado a agenda política do país, transformando a sociedade civil (aqui, uma figura de estilo para se falar das pessoas comuns) em mera espectadora dos desmandos de uma tropa prenhe de autoritarismo, ressabiamentos antidemocráticos e perigosas ligações ao universo do tráfico de estupefacientes, no que rivaliza com uma classe política que bebe do mesmo cântaro e engorda num oceano de corrupção e iniquidade.

A Guiné-Bissau, aparentemente, parece ingovernável, a não ser que fosse possível inventar uma nova instituição militar e novos agentes políticos nos destroços de uma sociedade marcada pela insanidade, e reinventar-se um conceito de democracia que correspondesse com mais equidade à multiplicidade étnica e cultural de que enforma o país: uma manta de retalhos criada pela ocupação colonial e desenhada a régua e esquadro numa lógica de partilha do continente africano pelas potências europeias.

Os problemas da Guiné-Bissau, para além das dores domésticas desse povo sofrido, são feridas profundas gravadas a escopro na má consciência daqueles que procuram receitas iguais para coisas diferentes. Ou seja, o concerto das nações só é possível se gizado sobre as diferenças que fazem deste nosso mundo uma manta de multiculturalidades.


As receitas do ocidente “civilizado” e “democrático”, às tantas, não farão muito sentido num continente que tem de reinventar novos conceitos e novas formas de organização política e social. A “chapa 5” dos regimes democráticos da Europa e do continente americano já provou não servir nem ajudar uma África que, de tanto ser “ajudada”, só tem vindo a atrasar o seu desenvolvimento e o progresso social dos seus povos.

E o presente conflito na Guiné-Bissau representa à evidência o role de equívocos e incompreensões, não raras vezes subjugados a lógicas neocoloniais, que caracterizam as posições “politicamente correctas” da dita “comunidade internacional”. O que, de resto, me apela a ser completamente “politicamente incorrecta” ao admitir, como mera hipótese de raciocínio, a possibilidade de, por esta vez, os militares não deixarem de ter razão.


Os apetites expansionistas do regime angolano não são um sofisma, como também se percebe que o governo de José Eduardo dos Santos traz na algibeira vários dirigentes africanos a quem distribui generoso o pecúlio de sangue dos diamantes e do petróleo roubado ao seu povo. E o dinheiro serve para tudo, até para se comprarem consciências e ganharem eleições.

Cercado pela insatisfação dos seus povos, que saem à rua exigindo liberdade e uma outra democracia, o ocidente “civilizado” e “democrático” precisa de exemplos na distante África que legitimem a superioridade civilizacional de que, arrogantemente, se julga portador. E está disposto a pagar para isso. E, como já se percebeu, a fila de pedintes da “ajuda internacional” é interminável, com políticos ávidos e gordos do que desviam dos bolsos dos famintos do continente.


Ordidja-notando

Lá está, todos ajam que  têm opinião a dar e podem opinar sobre a Guiné-Bissau. Mesmos que essas opiniões sejam mantas e retalhos de uma imbecilidade atroz, marcadas por alguns complexos de superioridade dos nossos irmãos das ilhas.
A dança da insanidade com a liberdade numa noite de funana, da nisso!!!

Guiné-Bissau foronta bô!!!   

segunda-feira, 23 de abril de 2012

QUEM SOMOS? E PARA ONDE VAMOS?

Samba Bari
Por: Samba Bari
Neste momento, em todo o canto ou esquina em que possa encontrar um guineense ou amigo da Guiné-Bissau, a questão do fundo é de mais um levantamento militar, ou seja o golpe de estado que deitou a baixo o governo legitimamente instituído.
Antes de mais, começo aqui por manifestar em viva voz a minha condenação desse meio usado para chegar alternância do poder. Porque a opção de alteração do  poder por via de um golpe de Estado, é uma solução anticonstitucional. Há quem o diga e eu também defendo a mesma tese.
Em todo o caso! Não é que a força de uma dança consegue mover a pista do baile, ou por sairmos fora dela e estender a mão para o céu, faz com que todas as estrelas estejam ao nosso alcance… Ou então para as coisas que não podem ser mudadas se mudam.
Só que, é muito triste envolver-se na impaciência, ou no interesse pessoal para preferir a derrota prévia. Muito embora, quem dúvida tanto na sua capacidade de alcançar a vitória, arrisca-se desperdiçar a oportunidade de merecer.
Na verdade, a República da Guiné-Bissau é um país que tem causado tantas preocupações ao mundo. Não pelo tamanho territorial bem pequeno, nem pelo número de população insignificante. Mas sim, devido ao amplo poder e coragem de fazer crimes, assim como a prática de manobra flexível e atípica de ilibar o mal feitor, ou de fazer passar as responsabilidades criminais de forma tácita e desprezada.

Hoje a semelhança de muitas vezes, o povo esta na rua de corações nas mãos perante mais um levantamento dos nossos militares. Mais um ato macabro que está a criar muito embaraço, e a fazer correr muita tinta a volta de uma causa comum.
Perante este facto em dia, deu-me gosto de ver e ouvir ondas de reações, de manifestações e gritos de condenação na diáspora. Porque afinal, o sentimento de patriotismo e de interesse para a República da Guiné-Bissau está no nosso sangue.

Só que, no meu ponto de vista, as ondas de solidariedade devem ser extensivas a luz que reflete uma visão global de todos os acontecimentos passados para se associar com este recente, de formas que todos nós em conjunto, possamos dizer “sim” a intervenção da comunidade internacional, mas de uma maneira moderada, sábia para nos ajudar a instaurar antes de mais, uma judicatura consistente e responsável. Para combater a impunidade e fazer um STOP aos atos propositados sem medo de enfrentar a justiça, que neste momento não existe. E consequentemente, fazer a reforma o mais rápido possível, nos sectores da Defesa e Segurança do país.

Mas “não” o envio de militares armados o que não justifica, porque o país não tem partes beligerantes em conflito e nem está em guerra. Simplesmente há falta de justiça e os processos mal resolvidos, é que andam a empolgar os espíritos. Fazendo com que muitos estejam desanimados de virtude, a gozar com a honra e de terem muita vergonha de agora serem honestos.

Já houve momento em que a intervenção militar tinha cabimento, em 1998/99 por exemplo, para interpor as partes em conflito de forma a evitar muita perda de vida, o que não foi o caso. Ajudar resolver um problema é mais fácil na sua fase de discussão, não no seu confronto físico. Porque há muito que se sentia que nada ia bem, que o país andou em clima de tensões constantes, com momentos de mal estar, muito antes do falecimento nosso Presidente.

Porque não interviram nessa altura para salvar o que agora se consumou num momento muito controverso e improprio?

Sobre a MISSANG, num artigo que intitulei de “Pesado Dilema de Intervenção Estrangeira” que foi publicado no jornal “Nô Pintcha,” pude manifestar a minha posição contra essa missão. Só que infelizmente, embora com tanta resistência, não foi possível consolidar a persistência, devido a incoerência do “modus vivendi” dos decisores do país habituados a ambição e mistério... Tudo foi possível.

Força de intervenção para ajudar estabilizar, é uma expressão fina usada para subentender a rendição dos dirigentes do país, perante a incapacidade e poder de estabilizar o país. O que demonstra o momento muito debilitado que o Estado vive perante a progressão de situações incontrolados que agrava cada vez mais.

Eu acho que Angola fazia muito bem se retirasse esses militares… Porque afinal, se o objetivo inicial da missão designado MISSANG foi de ajudar a pacificar, e hoje está ser causa do desentendimento, de revolta e até causa de um golpe de Estado… O melhor, é irem-se embora para se livrarem de ser causa e parte dos problemas.

Certo é que faz confusão ver o posicionamento de Angola, na pessoa do seu MNE a mover céu e mar, implorando a intervenção militar na Guiné, o que tudo indica que é a pretensão dessa MISSANG, erradicar o país, mudando simplesmente de nome e de objetivo.
Isso em parte, dá motivos de pensar e equacionar várias intervenções do porta-voz do Comando militar DABANA NA WALNA, que tem uma explicação consistente e coerente, sobre a iludida “CARTA SECRETA”.

Não estando com isto a dar razão ou apoiar o golpe militar… Simplesmente estou a fazer referência de algo muito falado, para poder alertar que infelizmente, Angola embora um país amigo,  não é um exemplo da democracia. É um país que tem tantos problemas como o caso de Cabinda, mas que nunca desejaram um braço armado estrangeiro a intervir em Angola. 

Daí o valor do ditado: “QUEM QUER DAR EXEMPLO TEM QUE SER EXEMPLAR
Nunca podemos esconder que a Guiné-Bissau sempre foi infeliz em orientar o seu processo democrático, num clima de coabitação aceitável. Mas que isso nunca quererá dizer que uma intervenção estrangeira militarizada é uma garantia segura de trazer tudo de bom que outrora nos faltou.
Meus irmãos e compatriotas:
- É bom acautelar com os semeadores desconhecidos, porque pode existir muita maldade escondida dentro de um sorriso  sedutor… Podendo com isto deixar cair qualquer coisa sobre nós… 
- É preciso ter atenção com as caricias do namoro passageiro... Porque as vezes costumam deixar marcas dolorosas que nunca mais se esquece e que são difíceis de ultrapassar... 
- É preciso resistir contra tudo o que pretende invadir o nosso corpo... Porque pode nos causar lesões para depois nos pode causar dores no momento de tratamento para cicatrizar as feridas... E as mentiras que esparramam depois, só põe em causa a nossa referência da verdade...

Por isso, vale a pena tentar ultrapassar o impasse, de forma negociada e que passa mesmo pelo respeito da Constituição. Pois só assim Guiné-Bissau poderá livrar-se das medidas pesadas da comunidade internacional, que infelizmente são adotadas de forma não seletiva.
Assim sendo, se até ontem havia dúvidas do poder ou não de arrumar a nossa casa, com a política dos políticos que temos. Hoje, estão mais uma vez em prova de fogo, para demonstrar o povo e o mundo, que ser bom político não está só na facilidade de articulação oral de palavras lindas e cativantes, mas também na segurança do posicionamento perante uma situação delicada como esta, na coragem acertada de decidir, de agir e de fazer.

Nós, sempre estaremos a rezar e a pedir que haja justiça e paz na Guiné-Bissau. E por isso mesmo, desejamos uma saída airosa dessa crise política, onde não estejamos isolados ao resto do mundo, para que todos nós possamos estar com alívio na memória. Mas também ansiosos de estar com uma certeza bem clara que afinal neste país… Quem decide? Como decide? Porque decide? Quem somos? E para onde vamos?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Triângulo do Mal

Geraldo Martins
Como é que a Guiné-Bissau pode Escapar do Ciclo Vicioso da Instabilidade?


A Guiné-Bissau está outra vez na boca do mundo pelas mesmas, bem conhecidas razões. Porque é que este pequeno e paupérrimo país da África Ocidental é tão propenso a golpes de Estado? A resposta que muitos especialistas têm na ponta da língua é: a armadilha dos militares. Mas eu suspeito que esta resposta seja apenas uma meia-verdade.

Sim, as forças armadas são uma bagunça. Durante muitos anos, elas mantiveram uma perigosa promiscuidade com os políticos. Os políticos usaram-nas para servir seus interesses cripto-partidários, e as forças armadas, sentindo-se  exageradamente importantes, usaram por sua vez os políticos para defender os seus interesses, individuais ou colectivos. Mas, como em qualquer relação promíscua, às vezes as rupturas são dolorosas. Consequentemente, golpes de Estado -- bem sucedidos, falhados ou presumidos -- atingiram o país em 1980, 1985, 1992, 1998, 2000, 2004, 2009, 2010 e 2012. A contagem é pesada.

Estes soldados desprovidos de formação são simples profissionais da guerra -- e não mais do que isso. Eles nunca tiveram oportunidades económicas para se integrarem na vida civil, e o poder político pouco fez para os educar e capacitar, nem tão pouco para transformar o exército de guerrilheiros em forças armadas disciplinadas, modernas e republicanas. Como resultado, eles tornaram-se um perigo para a sociedade.

A guerra civil de 1998-99 foi a gota de água que fez transbordar o copo: pela primeira vez  o poder político e os parceiros de desenvolvimento colocaram a reforma do exército no topo da agenda política e de desenvolvimento. Mas os esforços de reforma até aqui falharam. O Banco Mundial financiou um Projecto de desmobilização em 1999. O projecto desmobilizou centenas de soldados, mas o número total de soldados continuou a aumentar à medida que novos indivíduos se juntavam ao exército em resultado de novos conflitos. A história mais recente é o programa de reforma patrocinado pela União Europeia, que acabou por ser um retumbante fracasso, com a UE e o governo a acusarem-se mutuamente pelos maus resultados.
           
Na minha opinião, a razão fundamental destes fracassos se resume a esta simples frase: falta de dinheiro. E a este respeito, a comunidade internacional encaixa a maior parte da responsabilidade. Ela nunca colocou em cima da mesa o dinheiro realmente necessário para "comprar" a estabilidade. Sim, a paz e a estabilidade têm o seu preço. Com o tempo, os custos de oportunidade da reforma dispararam à medida que o país caía na armadilha do tráfico de drogas - e elementos proeminentes do exército se envolviam nesse negócio. Com efeito, porque é que um general irá ficar em casa se ele pode ganhar muito dinheiro fácil do tráfico de drogas? 

Que solução então? Eu penso que ela passa pela CEDEAO.  Ela é  a organização mais bem posicionada hoje para oferecer uma solução para esta crise. Porque é geográfica e economicamente a que mais se identifica com a Guiné-Bissau; porque conhece a realidade do país; porque ela granjeou alguma credibilidade na resolução de conflitos recentes na sub-região; e, finalmente, porque nesses processos ela adquiriu alguma experiência. Mas seria importante que a CEDEAO oferecesse à Guiné-Bissau soluções sustentáveis de longo prazo, e não as mesmas soluções voláteis de curto prazo, como tem acontecido até aqui com outras crises no país. E isso começa com a garantia da presença de uma força militar da CEDEAO na Guiné-Bissau para proteger as instituições, treinar o exército e garantir uma transição política suave. A CEDEAO também deve ajudar a mobilizar suficientes recursos financeiros para, finalmente, concluir o processo de reforma das forças armadas. Não se pode esperar que os magros recursos que têm sido colocados até agora em cima da mesa, façam os homens armados ir para casa.

Mas se a reforma das forças de defesa e de segurança é fundamental para a estabilidade política, há um outro pilar crucial que deve ir em paralelo: a justiça. A denegação da justiça e a impunidade têm sido a regra na Guiné-Bissau, particularmente com relação aos crimes políticos. Embora o fenómeno não seja novo, o que impressiona mais é o acumular recente de casos não resolvidos de relevante interesse público. Tenho em mente o duplo assassinato do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e do presidente Vieira em 2009, bem como o assassinato de outras figuras políticas em 2010.

Na consciência colectiva dos guineenses, o país está perigosamente a escorregar para o "reino da impunidade", com o poder político a não conseguir - ou a não estar interessado – em ver os crimes julgados ou esclarecidos. O resultado óbvio junto da população é a sensação psicológica da exposição ao arbitrário que pode empurrar as pessoas para a esfera perigosa da justiça privada. As leis, os tribunais e os juízes estão lá, mas a justiça é notavelmente ausente. Uma rápida reforma do sistema de justiça é fundamental, e talvez uma espécie de "Plano Marshal " para a justiça seja necessário para desbloquear o seu funcionamento. No curto prazo, isto é mais importante do que organizar novas eleições. E várias organizações internacionais podem ajudar nesse sentido, incluindo as Nações Unidas, o PNUD e o Banco Mundial, para citar apenas algumas.

Finalmente, há o tráfico de drogas que se tornou o rótulo do país. Mesmo que o fenómeno seja omnipresente em toda a região da África Ocidental, a Guiné-Bissau tem sido destacada como um “Narco Estado ". Isso em parte porque é um Estado frágil com recursos muito limitados para combater os gangues, e em parte porque elementos presumivelmente poderosos da hierarquia militar e política do país estão envolvidos nesse tráfico. O combate ao tráfico de droga requer meios que a Guiné-Bissau sozinha não possui. O apoio externo necessário poderia vir, mais uma vez, da CEDEAO como parte do mandato da sua força, apoiada por outras organizações regionais e internacionais.

Por conseguinte: exército, justiça e tráfico de drogas. Qualquer roteiro para a estabilização política da Guiné-Bissau deve circular em torno deste triângulo do mal. Mas na minha opinião, a passagem deste roteiro para a prática exigirá duas condições: liderança e tempo.
Neste novo ciclo de transição em que a Guiné-Bissau está a entrar uma escolha bem-sucedida dos seus novos líderes é fundamental. Eu defendo que o Presidente deve ser designado com respeito pela Constituição, e que deve ser nomeado uma personalidade credível para liderar um governo de transição, um homem ou mulher que reúne consenso, é respeitado por todas as partes, e que beneficia da confiança de todos os diferentes grupos, incluindo o exército, os políticos e os membros da sociedade civil, a fim de navegar no complexo processo político de  transição.

A segunda condição é o tempo: os três elementos que formam o triângulo do mal devem ser resolvidos dentro do prazo do período de transição. Eleições justas e transparentes serão mais bem aceites por todos quando houver um exército republicano, uma justiça funcional e um país livre do tráfico de drogas. Isto pode requerer mais de um ano, provavelmente dois a três anos. Este calendário vale a pena. A comunidade internacional deve evitar cair na armadilha da sua receita convencional: "a corrida às eleições". Ela não resolveu qualquer problema no passado. É pouco provável que vá resolver desta vez.


Geraldo Martins - guineense, ex-ministro da Educação Nacional, Cultura e Desporto da Guiné-Bissau e especialista em Desenvolvimento Humano no Banco Mundial

domingo, 15 de abril de 2012

Um golpe previsível!

Geraldo Martins

(Uma análise da situação política na Guiné-Bissau)

É triste ver um Primeiro-Ministro reformista de um país pobre ser tirado do poder através de um golpe de Estado. Carlos Gomes Júnior, Primeiro-ministro da Guiné-Bissau desde 2008, teve sucesso onde a maioria de seus antecessores falharam. Sob seu governo, o país teve um bom desempenho económico. O crescimento económico médio foi de 5 por cento nos últimos anos; os salários dos funcionários públicos são pagos regularmente, inclusivê os atrasados de longo prazo, e o programa apoiado pelo FMI, está a correr bem. Os doadores têm demonstrado entusiasmo em apoiar o governo. O governo também fez alguns investimentos em infraestruturas (incluindo nos sectores da energia elétrica e estradas) que elevaram alguma esperança de uma população há muito descrente em alguma possibilidade de desenvolvimento. Júnior também mostrou fortes sinais de firmeza na luta contra o tráfico de droga e na reforma das forças de defesa e segurança.

Mas se o sucesso de Júnior em termos de políticas económicas e sociais deve ser aplaudido, ele descuidou-se perigosamente da esfera política. Como líder de seu partido, o PAIGC, desde 2008, Junior provocou profundas divisões internas entre os membros do partido e líderes de opinião. Sua liderança foi marcada por controvérsias e contestações. A prova mais recente foi sua incapacidade em unificar o partido em torno de sua própria candidatura às eleições presidenciais de 18 de março, levando a dissidência. Duas figuras proeminentes do partido candidataram-se contra ele como independentes nas eleições. Alguns observadores sugerem que, se Júnior tem sido capaz de liderar o partido, o faz principalmente através da "compra de consciências" (ele é provavelmente o homem mais rico do país).

Também sob seu governo, proeminentes figuras políticas foram assassinadas, incluindo o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, e o ex-presidente Nino Vieira, o deputado e candidato presidencial Baciro Dabo, o deputado Helder Proença, entre outros. Outros presumíveis adversários políticos, incluindo o ex-Primeiro-ministro Francisco Fadul, foram presos e/ou torturados. Estes assassinatos nunca foram esclarecidos. O Primeiro-ministro foi acusado de cumplicidade nos actos --- o que ele nega -, mas a justiça tem sido impotente para levar os casos da investigação à decisão judicial. Muitos acreditam que ele orquestrou os assassinatos, a fim de abrir caminho para si à Presidência.

Suas nomeações políticas, que privilegiam seus familiares, amigos e conhecidos fieis, muitos deles nunca antes testados e com competências duvidosas, em detrimento de figuras políticas do seu partido, têm sido muito criticadas, e estão no cerne do conflito interno dentro do PAIGC. Num Estado pobre, frágil, onde as “fatias do bolo” a ser distribuído são tão pequenas, marginalizar grande parte dos aliados políticos pode ser uma fonte de conflitos políticos, que por sua vez, pode reforçar a fragilidade do Estado.

Esta situação desastrosa na área política, infelizmente, ofuscou o seu relativamente reconhecido sucesso nas políticas económicas, e é fonte de suas divergências políticas com grandes segmentos da sociedade --- membros de seu partido, parte das forças armadas, justiça, parlamentares, apoiantes do ex-presidente Nino Viera, o próprio ex-presidente Sanha, que morreu em janeiro em Paris e, não surpreendentemente, os apoiantes de Sanha. Sanha, visto por muitos como um moderador e hábil negociador, era respeitado pelas forças armadas e, de certa forma, foi a espinha dorsal da relativa acalmia que reinou na Guiné-Bissau nos últimos três anos. Quando no dia 01 de abril de 2010, as forças armadas prenderam o Primeiro-ministro Júnior --- e, presumivelmente, o queriam matar, Sanha foi quem impediu o pior. Partidários de Sanha acreditam numa "teoria da conspiração" sobre a morte do presidente e, implicitamente, acusam júnior de estar envolvido nessa conspiração. 

Quando Junior viajou para Paris em dezembro de 2011 para visitar o presidente no hospital Vale da Graça, foi-lhe recusada a entrada na sala onde o presidente estava internado, supostamente por ordem da esposa do presidente. Rumores circulam em Bissau que, quando Sanha estava sendo evacuado para Dakar e depois para Paris, em novembro de 2011, ele pediu às forças armadas, através do Chefe do Estado Maior Injai, que não permitisse que Júnior se torne Presidente na Guiné-Bissau, caso ele não regressar vivo.

Assim, Júnior é visto como uma figura divisionista. É com essa imagem que ele decidiu concorrer à presidência. Entre os 10 candidatos à eleição presidencial de 18 de março, ele foi o único que estava realmente preparado para a eleição. Ele tinha dinheiro, materiais de campanha e propaganda. Ele ganhou 49 por cento dos votos na primeira volta e tinha todas as condições para ganhar a segunda volta contra o ex-Presidente Koumba Yala (23 por cento). Yala e os outros quatro candidatos mais votados recusaram os resultados e exigem o cancelamento do processo eleitoral, alegando fraude maciça. Foram incapazes de provar a fraude. A comunidade internacional e os observadores consideraram a primeira volta das eleições justas e transparentes. Mas os candidatos continuaram a recusar participar na segunda volta. A crise eleitoral instalou-se.

Muitos suspeitam que há muito que as forças armadas queriam a "cabeça" de Junior. Com a revolta de ontem, eles aparentemente tiveram-na. Independentemente do resultado deste golpe, Junior (se não tiver sido morto pelas forças armandas) não é claramente parte da solução. Ele provavelmente nunca foi parte da solução. Olhando para o futuro, o que a Guiné-Bissau precisa neste momento é de um processo de transição que permita o retorno à estabilidade, a defesa das instituições, o funciomento da justiça, e a organização de umas eleições justas e transparentes. Se a transição política for conduzida com inteligência, e forem escolhidas as pessoas certas para liderar o processo, as forças armadas provavelmente poderiam participar do jogo.

Geraldo Martins - guineense, ex-ministro da Educação Nacional, Cultura e Desporto  da Guiné-Bissau e especialista em Desenvolvimento Humano no Banco Mundial

Foto: A Bola
Ordidja-notando

Com quem devemos nos solidarizar?

O momento guineense é acrítico. O país deu um grande passo atrás. Impera a imprecisão, mas no nosso subconsciente, os últimos acontecimentos eram previsíveis. Quanto a isso não tenho dúvidas porque penso, que todos temos uma memória viva, do resultado dos play-off políticos, sobretudo quando os abusos, não pedem licença  a nossa forma e modo de jogar na Democracia.

Depois de ter lido este artigo ontem, enviado por um irmão, camarada e amigo, fiz questão de escrever logo um mail para o autor, irmão mais-velho, compatriota e amigo Geraldo Martins, pedindo se podia publicar esta magnífica obra-prima, escrita com um olhar objetivo e realista do momento. Uma analise de excelência, que merecia ser partilhado com o leitor deste Blog. O alcance do artigo faz com que fiquemos com menos dúvidas em relação, ao que se passou na Guiné.

Nunca deixei de manifestar aqui neste Blog, que havia muitos excessos e imposição agressiva na Candidatura do PM Carlos Gomes. Quem da ouvidos e partilha decisão política só com os que lhe vão dizendo “sim senhor” e tem um lutador como fiel parceiro, e lutadores, todos sabem que só pensam em “e na batinu”/“nô na bati elis”.

Imagino, se o PM não tivesse candidatado e mantive-se posicionado como Homem de Estado, e com o Governo que lidera, organiza-se e controla-se estas eleições antecipadas. Acredito que a estória da disputa do Poder na Guiné-Bissau, teria outro desfecho.  

Adquiri consciência dessa situação e embora com a mesma passividade, não me acomodei, e chamei a razão na altura certa. Mas a “emoção fala mais alto na política guineense” parafraseando o Dr. Mário Baticã, dizia; não me acomodei não só apenas porque considerei que era preciso quantificar os custos e benefícios do pré-conflito que estava a olho nu. Mas mais do que isso, notava-se que tudo estava a ser apimentado como sempre, pelos habituais noberos e banoberos que iam gozando da plena forma e, tónica maior, da bela Liberdade de exprimir e comunicarmos enquanto guineenses na NET.

Agradeço ao Geraldo Martins este gesto e o esplêndido artigo que aceitou partilhar, espero que este seja o primeiro de muitos artigos para os leitores da Ordidja. A porta está, esteve e estará sempre aberta, para quem quiser partilhar a sua opinião, naquela base da harmonia guineense.
Harmonia sabi!   
Bem haja 

Militares dispersam manif sem uso da bala

Fonte: Lusa

Meia centena de jovens juntaram-se hoje em Bissau  para uma manifestação pela paz que deveria percorrer a principal avenida  da cidade, mas foi desmobilizada pelos militares e acabou por saldar-se  num ferido. 

Os jovens do Movimento Juvenil para a Paz envergavam um cartaz no qual  se lia "Não à violência" e uma bandeira branca. 
Não houve registo de quaisquer tiros quando os militares desmobilizaram  a manifestação, mas um jovem ficou ferido nestes incidentes, que aconteceram  três dias depois de golpe de um autodenominado Comando Militar. 

O Movimento Juvenil para a Paz já anunciou que fará diariamente uma  manifestação pela paz em Bissau. 
A manifestação decorreu na principal avenida de Bissau, que liga o aeroporto  ao centro da cidade, e deveria passar pela Assembleia Nacional Popular e  acabar junto da sede das Nações Unidas. 
Na quinta-feira à noite, um grupo de militares guineenses atacou a residência  do primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, e ocupou  vários pontos estratégicos da capital da Guiné-Bissau.  

A ação foi justificada sexta-feira, em comunicado, por um autodenominado  Comando Militar, cuja composição se desconhece, como visando defender as  Forças Armadas de uma alegada agressão de militares angolanos, que teria  sido autorizada pelos chefes do Estado interino e do Governo. 
A mulher de Carlos Gomes Júnior disse na sexta-feira que ele tinha sido  levado por militares na noite do ataque e que se encontrava em parte incerta,  bem como o Presidente interino, Raimundo Pereira. 
No sábado, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ameaçou com  sanções individualizadas contra os golpistas e a União Europeia advertiu  que não apoiará um "governo ilegítimo". 

As "sanções" poderão incluir a "proibição de viagens, congelamento de  ativos e responsabilização criminal". 
Entretanto, na capital guineense, os partidos da oposição na Guiné-Bissau  continuavam reunidos cerca das 14:00 para procurar uma solução para a crise  político-militar no país, depois de sábado não terem conseguido acordar  qualquer proposta. 

sábado, 14 de abril de 2012

Chefe das Forças Armadas António Indjai está detido

António Indjai
Fonte: Lusa

O chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, está detido, informou hoje em comunicado o autointitulado Comando Militar que realizou na quinta-feira um golpe de Estado no país.

O Presidente interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, cujas detenções já tinham sido anunciadas anteriormente, e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai, estão "são, salvos e seguros nos lugares em que se encontram sob vigilância", diz o último comunicado do Comando Militar.

O comunicado assinado pelo "Estado Maior General das Forças Armadas" acrescenta que foi decretado um recolher obrigatório a partir das 21:30 (22:30 em Portugal).

Ordidja-notando
Agora é que fiquei mais confuso ainda... Este enigma baralhou ou está querendo baralhar? 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Guiné-Bissau: Militares querem «saída política para a crise»

Brasão das FARP

Fonte: TSF
Os militares guineenses querem «uma saída política para a crise» para o «poder não cair na rua», garantiu o porta-voz do Estado Maior das Forças Armadas, Dabana Na Walna. O responsável falava após uma reunião com partidos políticos guineenses, explicando depois aos jornalistas que o «rosto do levantamento é o Estado Maior» e que o mesmo levantamento foi dirigido por um grupo intitulado de "Comando Militar".
«O Estado Maior General das Forças Armadas entendeu que o poder não pode cair na rua e resolveu ele próprio assumir a busca da solução política para ultrapassar a crise. É nesta qualidade, de porta-voz do Estado Maior General das Forças Armadas, que falo aqui», disse Dabana Na Walna após o encontro com os representantes dos partidos políticos.
O responsável explicou depois que «o que aconteceu ontem [quinta-feira] foi um levantamento militar que depôs o Presidente da República Interino e o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior».
«Tudo começou através de um clima de mal-estar que começou desde a chegada dos primeiros armamentos da Missang [força militar angolana] a Bissau, passando por várias etapas até chegar ao momento em que embaixador de Angola teve a veleidade de ir ao Estado Maior General e acusar o Chefe do Estado Maior diretamente de estar a preparar um golpe de Estado», explicou o porta-voz.
Acrescentando que «o clima de mal-estar se arrastou», envolvendo o governo e as Forças Armadas, o tenente-coronel Na Walna adiantou: «Depois recebemos notícias de que há, e temos informações fidedignas, um plano secreto escrito em que o governo da Guiné solicita, através de Angola, a intervenção das forças estrangeiras aqui».

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"MINHA MÃE, GUINÉ"

Quadro de Sidney Cerqueiera

Amigo, falan MÃE GUINÉ, pa i para Tchora...

Principais acontecimentos desde eleições presidenciais na Guiné-Bissau



A instabilidade na Guiné-Bissau agudizou-se  hoje, véspera do início da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais,  com tiros ouvidos nas ruas da capital, movimentações militares e com estações  de rádio a deixarem de emitir. 
Fonte: Lusa
Principais acontecimentos na Guiné-Bissau desde a realização da primeira  volta das eleições presidenciais em 18 de março: 
- 18 de março: A Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau  considera que as eleições decorreram "dentro da normalidade e sem incidentes  de maior". 
- 19 de março: O ex-chefe das informações militares da Guiné-Bissau,  Samba Djaló, é assassinado a tiro em Bissau. 
- 20 de março: Cinco dos principais candidatos às eleições presidenciais  -- Kumba Ialá, Henrique Rosa, Serifo Nhamadjo, Serifo Baldé e Afonso Té  - exigem a "nulidade" da votação e um novo recenseamento eleitoral "credível".
- 20 de março: O chefe das forças armadas, António Indjai, reúne-se  com o embaixador angolano em Bissau, general Feliciano dos Santos, e diz  posteriormente que o diplomata lhe perguntou "se estava a forjar um golpe  de Estado", visto ter informações de Angola nesse sentido. Indjai afirma  também pediu uma reunião de urgência com o Presidente da República interino  e com o Governo, a quem deu a conhecer o teor da conversa e "todos ficaram  chocados" e solicitou ainda que se diligenciasse do Governo de Angola para  que a missão angolana entregasse os meios bélicos que dispõe em Bissau.
- 21 de março: Os resultados da primeira volta das presidenciais determinam  que a segunda volta seja disputada pelos candidatos Carlos Gomes Júnior  (49 por cento dos votos) e Kumba Ialá (23 por cento dos votos). 
- 21 de março: O ex-chefe de Estado Maior General das Forças Armadas  da Guiné-Bissau, Zamora Induta, pede refúgio na delegação da União Europeia  em Bissau. 
- 22 de março: Kumba Ialá, segundo candidato mais votado nas presidenciais,  recusa participar na segunda volta. 
- 28 de março: A Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau  considera improcedentes as reclamações de fraude apresentadas por cinco  candidatos nas eleições presidenciais. 
- 28 de março: Segunda volta das presidenciais marcada para 22 de abril
- 02 de abril: A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental  (CEDEAO) nomeia Alpha Condé, Presidente da Guiné-Conacri, como mediador  do impasse eleitoral na Guiné-Bissau. 
- 03 de abril: Kumba Ialá não reconhece mediador da CEDEAO para acabar  com impasse eleitoral 
- 05 de abril: A Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau  suspende o início da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais.
- 07 de abril: A CEDEAO lembra aos militares guineenses a responsabilidade  de "respeitar escrupulosamente a ordem constitucional". 
- 09 de abril: O Presidente de Angola decide pôr fim à missão de conselheiros  militares angolanos na Guiné-Bissau (Missang). 
- 11 de abril: A segunda volta das eleições presidenciais da Guiné-Bissau  é "remarcada" para 29 de abril. 
- 12 de abril: A CPLP, cuja presidência rotativa é ocupada por Angola,  anuncia uma reunião de ministros dos negócios estrangeiros, a decorrer no  sábado em Lisboa. 
- 12 de abril: Kumba Ialá pede à comissão eleitoral que retire a sua  fotografia dos boletins de voto da segunda volta, mantendo a recusa em participar  na disputa com Carlos Gomes Júnior. 
- 12 de abril: "Não haverá campanha para ninguém, já afirmamos e repetimos  várias vezes que não haverá campanha a nível nacional. Caso vier alguém  a fazer campanha a responsabilidade será desse alguém e as consequências  serão dessa pessoa, porque eles sabem que não há condições para que ninguém  faça campanha", afirma Kumba Ialá na véspera do início da campanha eleitoral  para a segunda volta das presidenciais. 
Ordidja-notando
“Bô para djá”
“Mas há nela, nossa Carta Magna, uma série de direitos que não raro se chocam, quer seja pela ausência de técnica legislativa, quer seja pelo principal motivo:
As contradições políticas do nosso povo e do nosso Estado, que acabam por desembocar em conflitos que deveriam ser "pacificados" pelas leis.
E nem poderia ser muito diferente: Somos uma Democracia jovem, com instituições precárias e em formação, ou seja, nossos conflitos maiores ainda carecem de resolução satisfatória.”

Como sei que cada letra, palavra ou opinião publicada neste Blog não é levada á sério, prefiro relaxar. Vou saboreando nas horas vagas, estar com a família, curtir uma brincadeira “massa” com os filhos, ler artigos, escutar música, ouvir estórias, etc... etc... Olhem que é muito melhor e mais saudável do que estar nesta função de “escriba” de lamentos e lamentações. E pior é, quando se tem que aguentar cada barulho estridente que sai do teclado, em honra aos espaços que temos que colocar (pela obrigação e orientação da escrita, claro) para separar cada palavra, cada momento, cada sentimento, cada fingimento, quando retomo ao exercício de escrever no PC. E expor ideias próprias, naquilo que vejo ser uma realidade, objetivamente marcado pelo tempo certo.  

Ninguém sabe o que se passou! A incompreensão se juntou a ambição desmedida e não se está dar tréguas ao dialogo, e quando assim é: o país navega em águas mortiças, extremante imprevisível, sendo empurrados cada vez mais para a margem da radicalização. A imbecilidade e a incompreensão tomaram conta, resvalando para a incerteza crônica e imodificável da nossa realidade política. Os mesmos e permanentes conflitos intra-guineenses retomaram o curso normal.

Claro que desta vez, a ordem involuntária de algumas consequências,  da nossa Democracia, navega em mares não estranhos. Infelizmente! As nossas normas e os poderes instituídos até agora não estão a dar certo. Só que desta vez, mais cedo. Como era suposto ser.

Concluo: Na Guiné-Bissau é insurgente retro-visionar. A nossa Democratura insuportável teve sempre um custo. Isso por vezes é tão evidente como também é, a questão do bom senso, que deve imperar, para não termos que ser “instruídos” por estrangeiros para transformações institucionais nossas.