sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Parabéns Rádio Sol Mansi


Caríssimos

Gostava de dar a boa noticia que agora a Radio Sol Mansi pode ser escutada na internet.

Em breve vamos ter um pequeno site, mas por enquanto podem escutá-la num destes link:

Winamp: 
Windows Media Player: 
Real Player: 
QuickTime: 

De favor digam como a escutam, e difundem este link a quem pode estar interessado
Um grande abraço!

p. Davide Sciocco

Odidja-notanto

Pr. Davide Sciocco, Diretor da Rádio Sol Mansi, mandou-me este mail, há dois dias. Como não consultei estes dias, o meu correio eletrônico, não sabia da surpresa que me aguardava. Que surpresa agradável minha gente!!!

Graças a Deus que se deu este salto qualitativo, na performance desta Emissora de inspiração Cristã, guineense. Hoje RSM é considerada a MELHOR e oa mais bem preparada Rádio a nível Nacional, opinião partilhada pela maioria dos guineenses, que gostam de escutar e ouvir uma boa estação de Rádio que nutre essencialmente pela Isenção, Rigor e Imparcialidade .  

Bem haja ao Pr. Davide (amigo Ndafa) e a todos os funcionários e colaboradores da Rádio Sol Mansi - Voz di Paz na Guiné-Bissau.

Obs: Fiquei emocionado ao escutar a minha voz num dos separadores depois de um excelente noticiário em português editado pelo Amaduri Djaló. A excelência imperou!!!
Site: www.radiosolmansi.org
Parabéns RSM

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A SUSPENSÃO DAS FUNÇÕES DE PRIMEIRO MINISTRO E RESPECTIVA CANDIDATURA ÀS PRESIDENCIAIS FACE AO ORDENAMENTO JURÍDICO GUINEENSE

Carlos Vamain 
Por Carlos Vamain

Um Estado de direito democrático constrói-se e afirma-se pelo respeito das normas, a começar pela sua Lei Fundamental, qual seja, a própria Constituição que ordena o Estado, organiza os seus poderes e, nomeadamente, a forma do acesso a esses poderes por parte dos seus cidadãos.

E, no caso guineense, na perspectiva de tornar efectivo esses pressupostos, o constituinte estabeleceu na Constituição um preceito fundamental para a afirmação do Estado de direito democrático, a saber: o princípio da legalidade dos actos do Estado, subordinando este àquele. O que significa que, na Guiné-Bissau, a validade dos actos do Estado depende da sua conformidade com a Constituição (Artigo 8º).
Assim sendo, torna-se preocupante, do ponto de vista jurídico, a atitude e o comportamento do Primeiro Ministro em se auto-suspender do exercício das suas funções para se candidatar para o cargo de Presidente da República, à revelia da Constituição e das leis da República que pretende presidir. Uma situação que nos leva a abordar a questão ora suscitada à luz da Constituição e das leis da República da Guiné-Bissau.

I.     A suspensão de funções pelo Primeiro Ministro
A figura de suspensão, acto ou efeito de se interromper temporariamente o exercício das funções, no caso em espécie, as de Primeiro Ministro com o fito de se apresentar às eleições presidenciais, não está prevista no ordenamento jurídico da Guiné-Bissau. O que implica a sua não conformidade com a Constituição da República, no seu artigo 8º, que dispõe que a validade dos actos do Estado depende da sua conformidade com a Constituição, numa perspectiva da afirmação do princípio da legalidade.

A única possibilidade dada pela Constituição ao Primeiro Ministro para interromper as suas funções prende-se com a demissão, cujo pedido deve ser aceite pelo Presidente da República, nos termos do disposto no Artigo 104º, n.º 1, c) da Constituição da República, acarretando ipso facto a queda do Governo.

Ora, no contexto actual em que se encontra o país, presidido por um Presidente da República interino em consequência do impedimento definitivo do Presidente da República, torna-se impraticável o recurso à disposição constante do Artigo 104º, n.º 1, c) da Constituição.

Assim, em face do disposto no Artigo 8º da Constituição da República, é inexistente, do ponto de vista jurídico, a decisão do Primeiro Ministro de se auto-suspender as suas funções. Portanto, inoperante e sem efeito na ordem jurídica guineense, podendo-se incorrer na prática consequente do crime de responsabilidade de titular de cargo político previsto e punido pela Lei n.º 14/97 de 2 de Dezembro. Isto porque a subversão da ordem constitucional não deve ser visto tão-só como apanágio dos militares. Pois todos os guineenses devem obediência à constituição e às leis como forma de construção de uma sociedade pacífica e justa na qual impera a lei e não o arbítrio. 

II. A candidatura do Primeiro Ministro à luz do disposto no Artigo 65º da Constituição da República
Em decorrência do princípio da legalidade estabelecido pelo Artigo 8º da Constituição e pelo facto de o Primeiro Ministro não dispor da possibilidade constitucional de se demitir das suas funções, em razão da impossibilidade constitucional do Presidente da República interino de aceitar a respectiva demissão e a sua consequente exoneração, torna-se evidente, a todos os títulos, que o Primeiro Ministro está impossibilitado, constitucionalmente, de se candidatar às eleições presidenciais.

Senão, vejamos: a incompatibilidade do exercício das funções de Presidente da República com quaisquer outras funções de natureza pública ou privada (Artigo 65º da Constituição), pressupõe que uma vez eleito o Primeiro Ministro para o cargo de Presidente da República deve, previamente à cerimónia da sua investidura nos termos do disposto no Artigo 67º da Constituição, demitir-se e ser exonerado pelo Presidente da República cessante. Caso contrário, estar-se-á em face da violação flagrante da Constituição da República. Pois, esta não fora feita para o António, Carlos ou M’baná, mas sim para todos os cidadãos guineenses e de forma abstracta. Assim, todo o cidadão é suposto conhecê-la e respeitá-la.

Ora, como o Presidente da República interino não dispõe da competência para aceitar a demissão do Primeiro Ministro e nem de o exonerar (Artigo 71º, n.º 4 da Constituição) caso o Primeiro Ministro vença as eleições ficará impossibilitado, constitucionalmente, de exercer o cargo de Presidente da República por impossibilidade constitucional de ser investido no cargo. Donde a necessidade de respeito pela ordem constitucionalmente estabelecida por todos os actores políticos em particular e, em geral, por toda a população da Guiné-Bissau.

Em suma, a eleição de um candidato ao cargo de Presidente da República não o torna ipso facto Presidente da República ao ponto de este se «auto-exonerar» sem pôr em causa o princípio fundamental que nortea o Estado de direito democrático: o princípio da legalidade. Isto porque, em direito público não se presumem direitos, nem obrigações. E, no caso em espécie, tratando-se da matéria constitucional, todo o tipo de conclusão deve fundamentar-se na Constituição e nas leis dela emanadas em conformidade com as suas disposições. 

Assim, não está em conformidade com a Constituição da República da Guiné-Bissau a auto-suspensão do Primeiro Ministro, que conduz inexoravelmente o Governo na ilegalidade. Isto, por um lado, pelo facto de não dispor o Primeiro Ministro da competência para nomear o seu sucessor e, por outro, pelo facto de a lei eleitoral não se aplicar à suspensão do mandato de Primeiro Ministro, enquanto titular de cargo político, mas tão-só a funcionários públicos e demais trabalhadores dos sectores público e privado, por força do regime de incompatibilidade imposto pelo Artigo 65º da Constituição. 

Ordidja-notando

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem decide é o STJ!!!

Colocou-se (ontem15 de fevereiro) um ponto final, no prazo de entregas das candidaturas as presidenciais no Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau. STJ guineense recebeu 14 pré-candidaturas às eleições presidenciais antecipadas de 18 de março onde dois deste lote de pré-candidatos foram ex-chefes de Estado Henrique Rosa e Koumba Yala e cinco são caras novas na corrida as presidenciais, a saber: Carlos Gomes Junior, Vicente Fernandes, Serifo Nahmadjo, Afonso Té e Baciro Djá.

Dos 14 pré-candidatos, quatro apresentaram candidaturas como independentes, entre eles dois saem das fileiras do PAIGC, Serifo Nahmadjo e Baciro Djá os restantes têm o apoio de partidos políticos.

Henrique Rosa ex-presidente Interino e Empresário, Baciro Djá (mais novo) Ministro da Defesa, Luís Nancassa, sindicalista e Professor, e Manuel Serifo Nahmadjo, Presidente Interino da Assembléia Nacional Popular, concorrem para estas eleições como independentes.

Carlos Gomes Júnior, “primeiro-ministro” e Presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido atualmente no Governo e Kumba Ialá ex-presidente, concorre com o apoio do Partido da Renovação Social (PRS) que é o maior partido da oposição e que também faz parte do bloco recentemente criado com a denominação Colectivo da Oposição Democrática (COD) que aglutina 16 partidos da oposição guineense.

Depois surgem candidatos apoiados por partidos com fraca expressão, como António Afonso Té Coronel na reserva que é apoiado pelo Partido Republicano para Independência e Desenvolvimento (PRID)  Aregado Mantenque Té, do Partido dos Trabalhadores (PT), Serifo Baldé, do Partido Democrático Socialista de Salvação Guineense (PDSSG), e Iaia Djaló, do Partido da Nova Democracia (PND), Ibraima Djaló tem o apoio do Congresso Nacional Africano (CNA), Cirilo Augusto de Oliveira (mais velho) do Partido Socialista da Guiné-Bissau (PS-GB), Impossa Ié do Centro Democrático (CD) e Vicente Fernandes da Aliança Democrática (AD). Neste escrutínio não concorre nenhuma mulher. 
Teremos que aguardar o veredicto final do Supremo Tribunal de Justiça que terá cinco dias (20 de fevereiro) segundo a calendarização inicial, onde se saberá quais destes pré-candidatos concorreram às eleições presidenciais de 18 de março.
Quem decide é o STJ!!!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer

Mia Couto
Por: Mia Couto
Existe mais do que uma! Certamente! 

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. 

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. 

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Ordidja-notando

Agradeço ao amigo e camarada Dr. António Generoso, pelo envio deste maravilhoso texto do seu conterrâneo e escritor Mia Couto. Isso é prova da nossa amizade e da irmandade lusófona que nos une.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cores da Esperança

Nota-Ordidjando

Sidney, agradeço o envio do teu projeto. É um Projeto que vale a pena dar a mão, apoiar e colaborar no que for preciso e necessário. Tem aquele toque humano, onde os valores dos  sentimentos das tuas referências transparecem. Li, re-li (como te escrevi na última mensagem) e, permita que partilhe neste espaço, frequentado pel@s filh@s da nossa querida Guiné, logo irmãos, e @s amig@s de todas as partes do mundo virtual. À Ordidja agradece!!!

És um valor acrescentadíssimo, da nossa geração. O teu Trabalho reflete a arte que dominas, e bem, alias, tenho acompanhando o sucesso dos teus quadros na rede social, Facebook. Como também disse-te, na mensagem supracitada, a minha próxima casa, terá um dos teus quadros ocupando o lugar de destaque...Central!

Partilho o teu Projeto “Cores da Esperança” não só pelo excelente título, que pincela aquela emoção ternurinha e alegre (estampada nos rostos das crianças que se vêm nas fotos), mas também, pela força da bondade humana que transportas... Vamos manter o contacto, já agora, posso publicar alguns quadros teus???

Aguardo resposta...

Fica bem amigo, e aceita aquele abraço irmão!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O contributo das redes de bibliotecas no processo de aprendizagem e hábitos de leitura

Luís Barbosa Vicente



O contributo das redes de bibliotecas no processo de aprendizagem e hábitos de leitura

O Plano Nacional de Ação – Educação para Todos, elaborado em Fevereiro de 2003, pelo Ministério da Educação da Guiné-Bissau, faz um diagnóstico claro e preciso sobre os constrangimentos que afetam este setor estratégico, muito importante para o desenvolvimento do País, sugerindo por seu lado medidas concretas para a sua atenuação, que entendo, na minha modesta opinião, reunir condições necessárias para esse efeito.

Tal como refere o documento, os constrangimentos do setor indicam-se[1], cito, “fraca qualidade, apesar dos progressos quantitativos registados, inúmeros problemas afetam o sistema educativo quanto à sua eficácia interna e qualidade. A qualidade dos professores do ensino básico, recrutados na sua maioria com o nível académico de instrução primária, continua a ser uma preocupação. O fraco rendimento interno, entre 1999/2000, cerca de 78% de crianças em idade escolar que ingressaram na 1ª classe do ensino básico, somente 32,5% atingem a 6ª classe, enquanto são necessários 5 anos válidos de uma escolarização de qualidade razoável para estabilizar as aprendizagens elementares e contribuir assim de maneira eficaz no desenvolvimento, por isso o custo da formação de um aluno é duas vezes mais elevado do que poderia ser. As disparidades de género e regionais (taxa de disparidade global em 1999/2000 é de 1,34% e aumenta a medida que se avança de níveis – 1,60% na 4ª Classe, a desigualdade de acesso entre zonas urbana e rural: 100% de acesso para rapazes e 95% para raparigas na zona urbana, 95% para rapazes e 60% para raparigas na zona rural; as taxas de retenção são de 57% para rapazes e 37% para raparigas. O analfabetismo afeta 47,4% dos homens e 78,82% das mulheres).”

No sentido de contrariar essa tendência, as medidas enunciadas no documento (Plano Nacional de Ação – Educação para Todos) consubstancia uma visão estratégica clara e uma linha de orientação muito bem articulada com os princípios programáticos subjacentes. No entanto, no que concerne a política de disponibilização de equipamentos coletivos de apoio à educação, esta deverá ser ainda mais abrangente, porquanto entender que o mesmo contribui para o processo de desenvolvimento nas suas dimensões individual, comunitária e cultural, alcançável através de um crescimento em harmonia.

É neste quando que entendo que torna necessário dotar o país de uma rede de bibliotecas, devendo constituir recursos básicos do processo educativo, sendo-lhes atribuído papel central em domínios tão importantes como a aprendizagem da leitura, da literacia, a criação e o desenvolvimento do prazer de ler e a aquisição de hábitos de leitura, as competências de informação e aprofundamento da cultura cívica, científica, tecnológica e artística.

Assim, o enquadramento que se pretende fazer, com este artigo, consiste na formulação de uma necessidade imperiosa de investimento na área da cultura, cidadania e educação, concretamente em redes de bibliotecas, por forma criar um conceito associado à necessidade de desenvolvimento deste equipamento tendo em conta a aprendizagem e hábitos de leitura.

As bibliotecas devem constituir recursos básicos do processo educativo, sendo-lhes atribuído o papel central em domínios tão importantes como a aprendizagem da leitura, da literacia, a criação e o desenvolvimento do prazer de ler e a aquisição de hábitos de leitura, as competências de informação e aprofundamento da cultura cívica, científica, tecnológica e artística.

Recordo que, de acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística da Guiné-Bissau, conforme tabela 1 a seguir, a taxa de escolarização era de 72% em 2000, e a taxa de alfabetização dos adultos ronda 26,5%.

Tabela 1: Taxa de Escolarização e de Alfabetização (%)

Indicadores
1991
2000
2006
Taxa de escolarização
46
72

Rapazes
58
74
84
Raparigas
34,2
60
56
Taxa de alfabetização dos adultos
26,5


Homens
40,7


Mulheres
14,5


Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Censos da Guiné-Bissau
As bibliotecas devem ter em especial atenção a acessibilidade dos seus serviços e o respeito pela diversidade e pluralismo da informação, constantemente atualizada, que têm que prestar, contribuindo assim para elevar o nível cultural e a qualidade de vida dos cidadãos. Deverão ter como finalidades, estimular o gosto pela leitura e a compreensão do mundo em que vivemos; criar condições para fruição da criação literária, científica e artística, desenvolvendo a capacidade crítica do individuo; conservar, valorizar e difundir o património escrito, sobretudo o relativo ao fundo local, contribuindo para fortalecer a identidade cultural da comunidade; fornecer documentação relativa aos vários domínios de atividade, de que todo o cidadão e os diferentes grupos sociais necessitam no seu quotidiano; difundir informação útil e atualizada, em diversos suportes e recorrendo à utilização das novas tecnologias.

Tendo em conta estes objetivos, a biblioteca deve satisfazer os requisitos estabelecidos quanto à diversificação e dimensão das suas áreas, ao equipamento, aos fundos documentais, etc., e estes devem organizar-se em sistema de livre acesso às estantes, estando até disponíveis para empréstimo domiciliário. A biblioteca deve ser um espaço aberto e dinâmico, essencialmente proporcionadora do prazer da leitura, para além de todas as aprendizagens que lhe estão inerentes.

A razão da sua existência reside no facto do atual contexto de baixos níveis de literacia dos alunos guineenses considerada Crítica para o processo de desenvolvimento educacional da Guiné-Bissau. Conhecendo a necessidade e vontade que os alunos guineenses demonstram pela leitura e concomitantemente terem acesso a uma vida com qualidade e bem-estar, contribuindo dessa forma no processo de aprendizagem, como cidadãos ativos, participativos e responsáveis na sociedade, uma vez que a leitura tem adquirido, ao longo dos anos, um significado inteligível, ultrapassando até a sua dimensão funcional e situando-se no campo da compreensão, a rede de bibliotecas pretende ser uma âncora no processo de integração e redução de iliteracia no seio da comunidade jovem estudantil da Guiné-Bissau.

Entende-se a leitura, de acordo com as atuais correntes construtivistas da compreensão, como a capacidade de cada indivíduo compreender, usar textos escritos e refletir sobre eles de modo a atingir os seus objetivos, a desenvolver os seus próprios conhecimentos, potencialidades e competências. Assim, a integração e desenvolvimento desta rede viria de encontro às necessidades e procura que os alunos se tornem melhores leitores num processo contínuo e gradual.

Num mundo em que o conhecimento científico e tecnológico se produz a um ritmo acelerado, em que se torna indispensável formar cidadãos capazes de assumir a mudança e empenhados no desenvolvimento cultural do país, as bibliotecas deverão permitir que as escolas assumam o objetivo de criar nos alunos competências de informação.

Ir à biblioteca, significa ter acesso à informação e ao conhecimento, através de uma grande variedade de livros, jornais, revistas, documentos audiovisuais e das novas tecnologias e, também, encontrar diversas fontes documentais, disponíveis nos mais variados tipos de suporte, que cada um confere, conforme a sua vontade e necessidade, para trabalho intelectual, ou por prazer de ler e de se informar.

Na sociedade de informação em que vivemos, a permanente mutação e atualização são uma constante, o Estado tem que ter um papel ativo de modo a acompanhar a transformação da sociedade, em que os seus alunos estão inseridos. Deve, pois, proporcionar-lhes espaços, onde estes tenham a possibilidade de se auto-organizar e produzir, proporcionando-lhes autonomia e liberdade de aprendizagem, de modo a que a apropriação do conhecimento se faça com componentes de investigação, produção e animação.

Os objetivos passam por posicionar a biblioteca como um recurso fundamental da escola para a educação e formação dos alunos, visando o desenvolvimento de multiliteracias (tradicionais e de informação na Sociedade do Conhecimento, contribuindo para os dotar com competências para saberem formular necessidades de informação, pesquisar, selecionar, organizar, produzir e saberem problematizar, usar e apresentar informação; promover práticas de cooperação e interesse pela atualização e inovação; estimular a aplicação de estratégias adequadas para que a biblioteca seja reconhecida e vivenciada como um recurso fundamental da ação pedagógica, a aprendizagem, a formação para a cidadania e utilização do tempo de lazer; promover atividades educativas baseadas em estratégias que estimulem competências Informativas, criativas e expressivas em contexto de partilha e lazer, associando-as, preferencialmente, a projetos pedagógicos específicos, práticas de laboratório de atividades e utilizando metodologias de filosofia para crianças; promover a inclusão e a afirmação de valores democráticos e práticas de cidadania. Ao perspetivar as tendências que se prefiguram na sociedade da informação para as bibliotecas, pode-se igualmente projetar objetivos e valores que devem orientar a comunidade guineense na senda do desenvolvimento, da equidade, da qualificação das pessoas, da afirmação e valorização da cidadania. Mas, para a concretização dessa visão, importa traçar rumos, saber para onde se quer ir e, por isso, crê-se que as bibliotecas são um projeto em que se pode continuar a acreditar mas, sobretudo, que se deve acreditar pelos resultados alcançados e a atingir.

Dar garantia as bibliotecas públicas, para que elas sejam socialmente mais reconhecidas e aceites pelo contributo positivo que podem dar às pessoas e à sociedade. Para poderem colher as vantagens proporcionadas por um ambiente positivo que se deve poder criar à sua volta e, num contínuo, igualmente contribuírem para melhorar o contexto em que operam e gerarem mensagens e resultados de retorno.

Lisboa, 06 de fevereiro de 2012.

Luís Barbosa Vicente
Expert Consult Project Investment

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico.   


[1] Ver link: http://planipolis.iiep.unesco.org/upload/Guinea%20Bissau/Guinea%20Bissau%20PNA%20EPT.pdf

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ação Ilegal


Faltam apenas 44 (quá-quá) dias para o escrutínio (se mantiver a data 18 de março) o partido no poder ainda não tem candidato. E afirmam, em alto e bom som que são patriotas. Explico, parto do princípio que se conhece de cor e salteado o amor-ódio que nutro por essa formação política.

Se antes havia uma magnífica tese dos camaradas, que defende á idéia de que perante batalhas, adversidades, desafios ou eleições os camaradas se unem e avançam no mesmo sentido, o que faz com que ganham normalmente, e depois, os mesmos camaradas, não conseguem coabitar como um todo enquanto partidários e pessoas que lutaram para o mesmo objetivo, guerreando entre eles os postos, lugares, ministérios etc, estamos às vésperas, de ver cair por terra, essa tese. Os camaradas a partir de hoje vão celebrar a DIVISÃO, antes mesmo da batalha.

Sabe porquê?

Essa divisão já foi desinteligentemente projetada. Já foi sabiamente arquitetada. E isso faz-me acreditar cada vez mais que, a supra-estrutura política que cavalgou com força de aço e bala, conquistou a Independência, durante quase quatro décadas comanda o nosso destino, guiando o país ao encalhamento em que se encontra, está prestes a desmoronar. O poilão da nossa cultura política está tombando! Finalmente! Estou convencido dessa realidade ou não estivéssemos assistindo ao vivo e a cores, a grande queda (espalhanço), que provocará em definitivo, uma mudança no teatro, xadrez, panorama, cenário (como quiser chamar o leitor) político guineense. Sendo o partido dos camaradas quase do tamanho do poilão, repara, a queda vai ser estrondosa. Pois não se esqueça fiel leitor, que os ciclos duma liderança política duram precisamente 10 anos.

Supostamente, o difícil seria estarem a refletir, discutir ou planear a melhor forma de UNIR os guineenses, LUTAR pela Paz, GANHAR a Instabilidade, tendo em conta até, a perda humana duma figura, por sinal, da linha da frente e veterano do vosso Partido “Libertador” e permita-me chamar de “Complicador” e o fácil seria conseguirem eleger um candidato às presidenciais antecipadas, num ambiente sereno e sem manobras trapaceiras.

Em vez de Descomplicar serenamente o momento, mostrar que é um partido maduro, coeso e consolidado, não, estão pontapeando os Estatutos, a inverter os Procedimentos, ou seja, de ação ilegal em ação ilegal, tudo vale para se chegar ao Poder.   

Desculpem o atrevimento, mas o que falta a alguns camaradas do partido da vanguarda revolucionária, que ainda não aprenderam a rimar Liberdade com Patriotismo é, tão só, o doseamento da AMBIÇÃO. Sou e serei sempre contra o vale tudo, para se chegar ao Poder. Acredito que o guineense reconhece de longe aquela ambição desmedida ou dêsdoseado, mesmo com a escuridão com que lhe servem o quotidiano. E nas urnas ditará a sentença.

Peace!!!