sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O assassinato de Kadhafi e a crise moral dos europeus e dos EUA

Blair e Kadhafi

Por: Davis Sena Filho

Como se esperava, os imperialistas (EUA, França, Inglaterra e Itália), com o apoio de grupos líbios derrubaram o presidente da Líbia, Muammar Kadhafi. Mais do que isso: o assassinaram como fizeram com o presidente do Iraque, Saddam Hussein, e agora se preparam para saquear as riquezas dos líbios, especialmente no que concerne às reservas de petróleo e gás.

Mais uma vez, os imperialistas e colonialistas do ocidente, brancos e cristãos invadem um país soberano em uma cruzada, aos moldes das medievais, para ter o controle da energia fóssil que é o petróleo. São países cujos governos são perigosíssimos, armados até os dentes, possuidores de milhares de ogivas nucleares e com um aparato militar que não poder parar, porque é muito caro e por isso tem de ser usado para atender à trilionária indústria bélica, que é mais letal que o tráfico de drogas internacional.

Como se esperava, a morte do dirigente líbio foi tramada nas salas da ONU (Conselho de Segurança dominado por apenas cinco países) e da OTAN (EUA), órgãos de espoliação política e militar, criados para dar “legalidade” às ações criminosas de guerra dos países ocidentais desenvolvidos, que quase dizimaram seus povos em duas guerras mundiais, em uma selvageria que deixaria qualquer país de periferia que eles consideram selvagem, subdesenvolvido e atrasado com imensa vergonha e com um sentimento animal de ser.
Kadhafi e Silvio
Mais uma vez, lideranças contrárias aos interesses da globalização (nova forma de colonialismo e pirataria) foram mortas e seus países invadidos e bombardeados em nome da “liberdade”, da “democracia” e de um “mundo mais seguro”. Enquanto isso, o sistema capitalista excludente e belicoso derrete em Wall Street e nas praças européias importantes como a de Londres, com as populações desses países brancos, cristãos e desenvolvidos a gritar revoltadas nas ruas contra a roubalheira do sistema financeiro e da leniência e subserviência de governos que foram e são cúmplices da jogatina praticada por empresas e instituições que, de forma criminosa, levaram à cabo uma crise econômica e financeira sem precedentes, que eliminou milhões de empregos desses povos que deitaram e rolaram durante quase cinco décadas com a opulência e a fartura às custas dos países africanos, asiáticos e principalmente os da América Latina, que sustentaram até o fim da década de 1990 o alto padrão de vida dos europeus, estadunidenses, japoneses e povos de outros países do assim denominado primeiro mundo, como o Canadá e a Austrália.

Como se esperava esses governantes de países desenvolvidos que agem secularmente como piratas e que, apesar de historicamente se odiarem, para roubar e matar se unem, porque precisam dessa vil aliança para movimentar seus parques industriais bélicos e de produtos diversos e assim renovar a circulação do dinheiro, inclusive o ilegal, que é lavado nos paraísos fiscais, grosso modo, porque todo mundo sabe disso, mas ninguém pega um tanque ou um míssil para destruir tais ”instituições” financeiras, que fomentam há séculos a fome, a miséria e a exploração dos povos menos desenvolvidos e com isso impedem que eles construam infraestruturas adequadas e o acesso às tecnologias, à educação de qualidade e ao sistema bancário e industrial que garanta a esses países desenvolvimento econômico e bem-estar social, o que é quase impossível alcançar sem o apoio dos países desenvolvidos, que se recusam a efetivar um marco em que a cooperação e o aprendizado sejam a tônica.
Kadhafi e Sarkozy
Mais uma vez na história esses países brancos e cristãos e ocidentais que se comportam como aves de rapina ou como cães predadores optam pelo saque das riquezas alheias e o torna crível e cinicamente aceitável perante a população mundial por intermédio do sistema midiático, notadamente a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), que porta-voz e ponta-de-lança do sistema de capitais inicia e termina um processo de demonização dos presidentes dos países agredidos e invadidos ao ponto de não se saber, de forma alguma, como pensam, como vivem e o que fazem os povos vítimas de bombas, de mísseis, de todo tipo de armas de grosso calibre, que não têm como se defender contra forças estrangeiras que quase se dizimaram nas duas guerras mundiais iniciadas pelos brancos cristãos e que se consideram, com a maior cara-de-pau possível, civilizados e não selvagens.
Kadhafi e Obama
Como se esperava, Kadafi foi assassinado tal qual ao Saddam. A questão não é se os dois dirigentes eram ditadores. O que importa nesses casos é que os países ocidentais que não se consideram selvagens, o que é uma grande desfaçatez, apoiaram, apóiam e sempre apoiarão ditaduras espalhadas em todo o planeta, porque é assim que esses países, com a ONU e a OTAN usadas como títeres da legalidade, agem em uma conduta para lá de questionável, pois moralmente sem credibilidade no que é relativo às diferenças dos povos, bem como aos seus interesses, que não se coadunam e por isso, geralmente, o país ou aliança mais forte belicamente e que controla regiões diversas por meio da geopolítica ataca seu alvo sem dar satisfação alguma à comunidade internacional, além de fazer da ONU uma organização fantoche, desacredita e humilhada pela prepotência e a arrogância dos Estados Unidos, cujo presidente Barack Obama, apesar da novidade de ser um homem negro, tem os mesmos defeitos, o mesmo perfil e a conduta e estratégia de seus antecessores, que é realizar guerra, invadir países para saquear e ter controle geopolítica de determinadas regiões, ao preço de sangue, muito sangue de povos, nesses casos, árabes, que não conseguem há quase dois milênios se livrar de forças estrangeiras que não cansam de matar e de literalmente roubar seus países e sociedades.

Mais uma vez, moralmente os Estados Unidos sucumbem moralmente principalmente após o monumental desabamento do World Trade Center em 2001 e o derretimento de seu sistema de capitais no fim de 2008. O país do Capitão América aplicou de forma científica a tortura e a aceitou e a efetivou como prática corriqueira e ordinária para ter acesso a informações de pessoas consideradas inimigas, mesmo as que foram presas sem provas e acusação formal, pois desobediente às leis e às normas do Direito Internacional ao negar o mais fundamental e elementar dos direitos de cidadania e da humanidade que é o habeas corpus. Seqüestrou, torturou e matou e seus mandatários defenderam e aprovaram a tortura praticada, pois que apoiaram tal ignomínia em âmbito governamental. Uma vergonha, que deixou a potência mundial como pária no que concerne à civilização, além de ter efetivado uma política diplomática unilateral e isolacionista, o que acarretou o recrudescimento das ações da direita estadunidense, o Tea Party dos fundamentalistas cristãos, no que é referente à legalidade, ao contraditório, ao direito de defesa e no que é civilizado e não selvagem e animalesco.
Socrates e Kadhafi
Como se esperava, Muammar Kadafi e as forças regulares e armadas da Líbia foram derrotados. O dirigente líbio — político nacionalista e que, apesar de seus erros e defeitos, desenvolveu o país do norte da África, que, juntamente com a África do Sul, é um dos dois mais desenvolvidos do continente, com IDH alto — foi morto, assassinado e mostrado ao público internacional como caça, como troféu. O povo líbio até então, não se sabe como ele vai ficar, tinha acesso a muitos benefícios sociais e que nunca foram mostrados pela imprensa comercial, privada e corporativa do ocidente. Nunca a imprensa hegemônica brasileira veiculou matérias sobre a Líbia, seu desenvolvimento e as conquistas sociais de seu povo, muito avançado para os padrões africanos. Essa imprensa apenas se preocupou em demonizar o presidente líbio, a fim de dar legalidade e razão às ações de pirataria explícita da OTAN, ou seja, dos EUA, da França, da Inglaterra e da Itália, países em profunda crise econômica e financeira e moralmente abalados, no que é relativo a discernir sobre o que é humano, legal e justo. É isso aí.
Na cama com Kadhafi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Comércio externo, uma questão de organização e oportunidade

Por: * Luís Barbosa Vicente

Não podia deixar de partilhar alguns dados no âmbito das pesquisas que tenho feito sobre o comércio externo e o seu potencial, um dos sectores a ter em conta para o desenvolvimento e redução da pobreza na Guiné-Bissau.
Vários foram os estudos[1], relatórios, conferências, planos de desenvolvimento etc., elaborados pelos diversos organismos, nacionais e internacionais, sempre na óptica de alerta e apoio aos governantes guineenses na tomada de decisões importantes para o País em matérias ligadas ao comércio externo e a exportação.
Não quero, com este ensaio, discutir os acordos bilaterais (isto fica para um próximo artigo), nem colocar em causa as negociações, que antecedem a estes acordos, que presumo ser do interesse do País, mas sim, deixar alguns dados para a vossa reflexão, partindo do princípio que todos sabem qual o saldo da nossa balança comercial, os principais países clientes e também fornecedores, os principais produtos transaccionados e, finalmente, a posição externa (em termos comerciais) que a Guiné-Bissau ocupa no plano internacional.
Acreditem que, entre 1998 e 2011, tem sido feito muito em prol do novo paradigma de desenvolvimento da Guiné-Bissau, considerando efectivamente o período pós conflito armado de 1998, como sendo o melhor, no conjunto dos programas de apoio ao desenvolvimento. Alguns desses programas de desenvolvimento, tanto nacional como internacional, foram elaborados com bastante rigor técnico e também político, como devem supor, mas que não passaram de boas intenções e que nunca chegaram a sair do papel.
Registo, em boa verdade, grande motivação por parte dos governantes, dos dirigentes partidários, dos técnicos e até dos próprios partidos políticos, o interesse demonstrado no desenvolvimento e sustentabilidade do País, podem ter a certeza disso, Mas…!
Assim, e entrando no capítulo que diz respeito a este artigo, sublinho:
De acordo com os dados do comércio externo[2], no que se refere às transacções comerciais, a Guiné-Bissau é praticamente irrelevante a nível mundial, ocupando, em 2008, a 171ª posição do ranking de exportadores e a 184ª enquanto importador.
A balança comercial é fortemente deficitária e em 2008 registou um agravamento de cerca de 22% face a 2007, resultante do aumento das importações de 18%, enquanto as exportações não foram além de um crescimento de 15%. O crescimento das exportações deve-se sobretudo ao aumento da produção da castanha de caju. O quadro 1 a seguir demonstra bem a evolução da balança comercial.
Quadro 1. Evolução da Balança Comercial

Evolução da Balança Comercial (106 USD)

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008
Exportação fob
48,5
26,8
51,2
62,1
62,9
50,7
40,0
76
89
74
85
98
Importação fob
46,1
22,9
68,7
62,2
61,9
67,9
59,0
83
106
127
136
160
Saldo
2,4
3,9
-17,5
-0,1
1,0
-17,2
-19,0
-7
-17
-53
-51
-62
Coeficiente de cobertura (%)
105,2
117,0
74,5
99,8
101,6
74,7
67,8
91,6
84,0
58,3
62,5
61,3
Posição no “ranking” mundial

Como exportador

174ª
170ª
167ª
166ª
164ª
n.d
170ª
169ª
171ª
171ª
171ª
Como importador

181ª
183ª
183ª
182ª
176ª
n.d
185ª
183ª
183ª
185ª
184ª



















Fonte: World Trade Organization (WTO); EIU - The Economist Intelligence Unit/Banque de France. Notas: n.d – não disponível

Se observarmos o quadro supra, verificamos que houve quatro períodos distintos: pré-conflito (1997), guerra civil (1998), pós conflito (de 1999 até 2001), e o novo período de impulso económico (2004 até 2008). De acordo com os dados macroeconómicos, a forte recuperação económica, que se seguiu à guerra civil de 1998/1999, estagnou e reverteu a tendência, tendo para esta situação contribuído significativamente o clima da instabilidade política.
Após crescimentos reais do PIB de 7,8% e 9,3% em 1999 e 2000, em 2001 a economia cresceu apenas 0,2%, tendo registado contracções de 4,3% e 7,0% em 2002 e 2003 respectivamente. Novo impulso na economia verificou-se a partir de 2004 até 2008.
É importante e imprescindível não interromper a sequência de crescimento, pese embora seja discutível apenas apostar neste sector, de produtos transaccionáveis, nomeadamente castanha de caju, um produto que se revela uma procura muito grande por parte dos países clientes, como é o caso da Índia. O quadro 2 a seguir identifica os principais clientes, a quota e a posição que ocupam no comércio externo guineense.
Quadro 2. Principais Clientes

Mercado
2006
2007
2008
Quota (%)
Posição
Quota (%)
Posição
Quota (%)
Posição
Índia
51,6
66,6
69,8
Singapura
22,8
2,4
12,5
Senegal
22,5
26,2
2,3
Portugal
0,5
0,8
1,5

Fontes: Agência do BCEAO na Guiné-Bissau, Fundo Monetário Internacional e Banco de Portugal
A Índia[3] constitui o principal cliente da Guiné-Bissau, representando, em 2008, cerca de 70% das suas exportações. De salientar que, ao longo dos últimos anos, o peso do mercado indiano tem vindo a aumentar.
Dos restantes clientes, destaca-se Singapura, que ocupa o 2º lugar do ranking, com uma quota de 12,5% (mas atenção que em 2009 não se configura nos dados do comércio externo a Singapura como um dos clientes principais da Guiné-Bissau).
Em 2010, a Guiné-Bissau diminuiu o défice comercial para 8,2% do PIB graças à recuperação registada nas exportações de castanha de caju. Embora a produção da castanha de caju, que representa mais de 81% das exportações da Guiné-Bissau, tenha diminuído cerca de 10% em 2010, para 120.000 toneladas, a queda na produção foi compensada pelo aumento dos preços, em resultado da contracção da produção mundial.
A Índia, que processa a castanha de caju e a reexporta para os Estados Unidos e outros mercados desenvolvidos, compra a maior parte da produção da Guiné-Bissau. A produção restante é reexportada através do Senegal. Por último, e de acordo com os relatórios produzidos por organismos nacionais e internacionais, uma quantidade desconhecida de castanha de caju, ainda que considerável, é contrabandeada para países vizinhos.
Relativamente aos principais fornecedores, destacam-se dois países – Senegal e Portugal – responsáveis por 74,4% das mercadorias importadas em 2008. Portugal tem vindo a reforçar a sua posição enquanto fornecedor da Guiné-Bissau.

Quadro 3. Principais Fornecedores


Mercado
2006
2007
2008
Quota (%)
Posição
Quota (%)
Posição
Quota (%)
Posição
Senegal
44,5
44,2
51,7
Portugal
16,1
19,7
22,7
Holanda
6,3
5,6
8,6
França
2,6
0,5
4,9
China
1,6
0,2
n.d.
2,5
Fontes: Agência BCEAO Guiné-Bissau, Fundo Monetário Internacional e Banco Portugal. Nota: n.d. não disponível
 A Guiné-Bissau importa quase todos os seus bens de consumo e de capital. Os géneros alimentares e o petróleo representavam, em 2009, 51% das importações, e só o petróleo correspondeu a quase 20% do total.
Em 2010, a gradual recuperação da economia mundial levou os preços dos bens alimentares e do petróleo de volta aos níveis de pré-crise. Isto determinou o aumento do valor das importações, ainda que o volume tenha aumentado ligeiramente. Contudo, tal não foi compensado pelo impacto positivo do aumento dos preços de exportação, pelo que com as remessas de emigrantes estabilizadas e os desembolsos de compensação das pescas, inferiores ao previsto, o défice da balança de transacções externas aumentou para 5,6% do PIB, em 2010.
Como referi anteriormente, as exportações da Guiné-Bissau estão concentradas, na sua quase totalidade, na castanha de caju. Em 2003 este produto representou cerca de 90% do total das vendas guineenses ao exterior, mas em 2007 este valor subiu para cerca de 95,8%.
A composição das importações é naturalmente mais diversificada, mas apresenta três grupos de produtos (conforme quadro 4) tradicionalmente dominantes: produtos alimentares e bebidas (29,1%), bens de capital (27,6%) e produtos petrolíferos (23,0%).


Quadro 4. Principais Produtos Transaccionados – 2007

Exportações / Sector
%
Importações / Sector
%
Castanha de caju
95,8
Produtos alimentares
29,1
Produtos da pesca
0,5
Bens de capital
27,6
Outros
3,7
Produtos petrolíferos
23,0


Outros
20,3
Fonte: EIU - The Economist Intelligence Unit/Banque de France. Nota: Valores estimados

Conforme se pode verificar no quadro acima, em termos de exportação por sectores, castanha de caju representa cerca de 95,8%, pesca 0,5% e arroz nem se fala.
Como se sabe, a indústria das pescas da Guiné-Bissau tem um grande potencial. No entanto, o não cumprimento das normas europeias de saúde e sanitárias está a impedir as exportações directas para a Europa. As licenças de pesca para as frotas europeias constituem uma importante fonte de receitas não fiscais. No entanto, o desembolso de fundos tem sido seriamente prejudicado pela falta de capacidade de absorção e pela falta de capacidade de gestão das autoridades do sector das pescas da Guiné-Bissau.
As novas licenças de pesca  negociadas com a UE implicam o respeito de condições relacionadas com os direitos humanos e a estabilidade política. O acordo, no valor de 500.000 Euros, incide também sobre o reforço do controlo de qualidade e o cumprimento de exigências sanitárias. Este é um aspecto essencial e para o qual chamo atenção das nossas autoridades.
De acordo com os dados oficiais, em 2006, a Guiné-Bissau foi o primeiro país africano a assinar um acordo de pescas em águas profundas com a China, permitindo a este país operar na sua Zona Económica Exclusiva (ZEE). Este acordo prevê a operação offshore de 15 navios chineses, incluindo grandes navios frigoríficos. Na sequência deste acordo bilateral a Guiné-Bissau tem conseguido alguns apoios na execução de grandes obras e infra-estruturas públicas, cuja gestão de todo o processo é desenvolvido por esse País, nomeadamente na importação de todos os materiais de construção e também na mão-de-obra.
No meu entender, julgo que não se pode pôr em causa alguns destes acordos, mas sim, gostaria de chamar atenção para o reforço da fiscalização, monitorização e melhoria contínua dessas relações bilaterais, uma vez que todos sabem que o envolvimento da China é negociado directamente ao mais alto nível político. O governo indica um menu de projectos de infra-estruturas e a China, em seguida, escolhe os projectos em que está interessada em desenvolver.
Isto para dizer que o sector das pescas desempenha um papel muito importante no panorama de desenvolvimento e sustentabilidade da economia nacional. A par das pescas temos outras culturas que até à presente data é de subsistência mas que tudo indica num futuro próximo poderão tornar-se em produtos transaccionáveis, ajudando dessa forma na redução da balança comercial. E como já referi em artigos publicados, não só por mim, mas também por entendidos nessa matéria e, tal como consta, por exemplo, do Plano Nacional de Investimento Agrário (PNIA), a Guiné-Bissau deverá conseguir a sua soberania alimentar em termos de arroz como alimento básico da população e por conseguinte desenvolver fluxos de exportação para fornecer certos mercados regionais deficitários. Já para não falar da produção de bauxite, fosfatos e petróleo que poderia duplicar, ou mesmo triplicar, as reservas em moeda externa e as receitas fiscais da Guiné-Bissau, e também a própria prospecção de ouro realizada em 2010 que também apresentou resultados prometedores.
Porém, tudo isso implica uma determinada coerência na gestão das políticas públicas, no desenvolvimento das infra-estruturas básicas e de serviços públicos, na estabilidade política, na criação de um clima favorável de negócio e, acima de tudo, no desenvolvimento das relações comerciais que pressupõe uma diplomacia económica muito forte. Julgo que poderemos conseguir tudo isso e alterar assim a posição do ranking de exportador e importador que a Guiné-Bissau ocupa neste momento.
Não dê o peixe, ensine a pescar!
Rio Maior, 17 de Outubro de 2011.
 *Gestor e consultor projectos de investimento
[1] Recomendo leitura obrigatória do Estudo do Diagnóstico de Integração do Comércio para o Melhoramento do Quadro Integrado

Assistência Técnica para Assuntos do Comércio Internacional, Maio de 2010, com o título “Guiné-Bissau – Para além da Castanha de Caju: Diversificação através do Comércio Internacional”. Este documento foi desenvolvido por uma equipa de consultores internacionais e nacionais, com uma equipa de excelentes quadros técnicos guineenses.

[2] Fontes: AICEP Portugal Global – Guiné-Bissau, Ficha de Mercado (Dezembro de 2009), Ficha de Mercado (Dezembro de 2004 – Actualizado), Relatório Comércio 2009, Documento de estratégia nacional da redução da pobreza – DENARP, Estudo do Diagnóstico de Integração do Comércio para o Melhoramento do Quadro Integrado – Assistência Técnica para Assuntos do Comércio Internacional; AfricanEconomicOutlook.org – Perspectivas Económicas na África – Guiné-Bissau.
[3] Índia é um país emergente com forte potencialidades de desenvolvimento nas áreas da saúde, de investigação e da Inovação, julgo que se deve ponderar acordos bilaterais nessas áreas, partindo do pressuposto que existe uma boa relação comercial entre os dois países.