quinta-feira, 30 de junho de 2011

É fácil ser hipócrita!


Bom, nada melhor do que antes, começar por fazer uma pequena incursão pelos wikis da net, buscando o sentido e à origem desta palavra forte que afirmo ser fácil, desempenharmos. Ou seja, buscar epistemologicamente, à origem do adjetivo: Hipócrita.

Hipócrita: Falso, fingido, mascarado e aquilo que se denota hipocrisia. Hipócrita é uma transcrição do vocábulo grego "hypochrités". Os actores gregos usavam máscaras de acordo com o papel que representavam numa peça teatral. É daí que o termo hipócrita designa alguém que oculta a realidade atrás de uma máscara de aparência.
 O termo “hipocrisia” é também comumente usado (alguns diriam abusado) num sentido que poderia ser designado de maneira mais específica como um “padrão duplo”. Um exemplo disso é quando alguém acredita honestamente que deveria ser imposto um conjunto de morais para um grupo de indivíduos diferente do de outro grupo. Hipocrisia é pretensão ou fingimento de ser o que não é. Hipocrisia é o ato de ser hipócrita. Um exemplo de um hipócrita é quando você critica aquela ação enquanto você à comete.

Posto às coisas nessa  perspectiva e analisado o significado da palavra, passo de imediato ao que me trás de volta há mais um gatafunho, com uma afirmação um tanto ou quanto, forte, que contraria um pouco a subtileza que vou utilizando até então, nos artigos que vão sendo publicado neste “Mural” de nome Ordidja. Isto para focar o quê?
É que, a meu ver, não basta ganhar expressão e notabilidade virtual, para que de repente, nos deixemos ser conduzidos pelo estimulo de estar ao reboque de alguns acontecimentos, ou de alguns artigos sabendo de antemão que podemos estar à frente desses acontecimentos e artigos.
Fato relevante: tenho consciência dos muitos lamentos que gritei, neste mural, e pode o leitor ter a certeza que não me arrependo de tê-los gritado ou escrito na altura devida e, na hora certa.
Mas, mais de que isso, o que fiz, foi tentar adotar uma visão útil e otimista em relação ao país da minha nascença. Assumi para isso o desafio claro de não parar esta marcha  e este percurso cyber-náutico, disponibilizando uma parte do meu tempo e energia, para qualquer combate de ideias e de reflexões sobre à Guiné e não só, mas desde que sejam construtivas e carreguem criatividade nas alternativas.
Pelas reações, tenho reparado que impressiono combativamente, positivamente e todos os mentes-claros, que cada um de nós sabe que possui. Obrigado aos seguidores e amigos desta página! Por isso da minha parte, através deste mural, podem ter a certeza que continuarei a contribuir para esclarecer algumas “más novas”, provocada sobretudo pelos erros de perceção, cujo à dependência do sensacionalismo obriga alguns dos atores destas lides a sacrificarem as suas vontades e sonhos. É que, quando for mais velho, criarei um “site” com um adjetivo cujo qualquer utilização, dessa palavra, vai ser para mim um atentado a minha inteligência e compreenção.
Petit-a-petit fui recolhendo e sugerindo temas que marcam algum inconformismo e desassossego, tendo em conta os acontecimentos e a necessidade de recriarmos ou inventarmos cada amanha com novas esperanças entre os guineenses.
Por isso considero fácil ser hipócrita, quando sobretudo mascaradamente evitamos comentar ou opinar sobre alguns artigos ou assuntos, mesmo sabendo que as provocações vão multiplicar à sensação de que algo nos retrai. A minha resposta ontem numa conversa foi esta: a integridade é mais difícil de se mostrar do que a hipocrisia. É fácil ser hipócrita.   
Portanto, se tudo correr bem, publicarei no dia 5 e Julho, alguns trechos do discurso do Doutor Comandante Pedro Pires como prometi ao leitor. É que pedi ao colega e amigo Anatolio Lima a versão digital, para não cometer erros e gafes. Claro que não publicarei o mail do pedido e nem da resposta desse colega, até porque é assessor de imprensa do presidente Pedro Pires, e sei diferenciar bem os universos das relações humanas que apresentam os círculos: públicos, privados e íntimos.
E vou também este fim-de-semana fechar o dossier da conferência “Os caminhos para a consolidação da Paz e Desenvolvimento” uma vez que falta publicar uma entrevista feita ao Barnabé Gomes, jornalista e assessor de imprensa do presidente Nino Vieira, que esteve na residência deste, naquela fatídica madrugada 2 e Março de 2009. E recebi as resoluções finais das conferências de Dakar e Lisboa, que serão os próximos post, graças ao empenho e determinação do fiel amigo, Fernando Jorge Dias.        
Bem Haja!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Mais logo estarei aqui...

Forti dia...

Peace

Estou no ir...



Estou no ir, não posso faltar...
Haverá para além dos lindos versos em crioulo e em português do Mais-Velho, músico, escritor, cantor, advogado e político, Ernesto Dabó. Música.

Sei que, vou chegar atrasado, mas vou!
Sei que, não haverá duelo de ideias, mas sim partilha de ideias! Irei!
Sei que, na melodia e na voz de Eneida Marta, Djanunu Dabó, Maio Copé, Micas Cabral e o próprio Ernesto Dabó, a música vai fluir! Estou a caminho!!!

Fui

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Combatente da Liberdade

Pedro Verona Rodrigues Pires, ou melhor Doutor Comandante Pedro Pires, foi distinguido com o Grau Honoris Causa em Ciências Políticas pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia em Lisboa. Foi uma cerimónia memorável e singular, com a presença de figuras de todos os quadrantes políticos e académicos da grande família lusófona.

A comitiva presidencial cabo-verdiana chegou, no recinto da Universidade por volta das 16h 30m. Foi recebido pelo corpo diretivo da Universidade e pela direção do Núcleo de Estudantes Cabo-verdianos da ULHT. Depois da recepção o Presiente Comandante Pedro Pires, foi agraciado com o traje académico a condizer e por volta das 17h, seguiu-se um cortejo académico.
Cerca de 10m foi, quanto demorou o cortejo a chegar ao auditório Agostinho de Oliveira da UHTL. Já dentro do anfiteatro e tendo os convidados de honra e a assistência ocupado os respetivos lugares, deu-se inicio da cerimonia.
Tudo começou, com a leitura da proposta de doutoramento honoris causa, feita pela Prof. Doutora Ângela Montalvão Machado, diretora da Faculdade de Ciências Políticas. Numa intervenção relativamente curta, em que se focou apenas os fundamentos relevantes baseado em causas, fatos e marcas de vida, utilizando à palavra “Reconhecemos” foi dissertando ponto por ponto a proposta. “Reconhecemos à visão humanista…reconhecemos a sua contribuição charneira na democratização da sociedade cabo-verdiana e pela criação de pontes para o diálogo entre os povos” afirmou a Prof. Montalvão Machado que percorreu com vários elogios os sinais concretos de compromisso com a humanidade que marcou ou marcam às ações do Comandante Pedro Pires.

Depois foi a vez do Prof. Doutor Manuel de Almeida Damásio, Administrador a ULHT que, evitando repetir o que a intervenção anterior já tinha focado, foi buscar alguns exemplos práticos da vida do Comandante. Mas antes fez questão de mencionar que estávamos perante a 3ª galardoação, feita por aquela Universidade a uma figura de peso do mundo lusófono. Quis lembrar que o primeiro a receber a tal insígnia da ULHT foi o moçambicano, Marcelino dos Santos, que foi também um dirigente e combatente pela Liberdade no espaço lusófono. Depois também enfatizou que a segunda personagem a receber a mais alta condecoração daquela Universidade foi o músico/cantor, ativista pelos direitos humanos e antigo ministro da Cultura brasileira, Gilberto Gil.

Depois deste pequeno corolário, Prof. Damásio mergulhou por uma pequena biografia do agora Doutor Comandante Pedro Pires. Da fuga do exército português, onde esteve na Força Aérea, até aos dias de hoje, em que é o Presidente da República e Cabo Verde, existem segundo o Prof. Manuel Damásio, “sinais claros de grande capacidade de decisão, para assumir riscos, aceitar os perigos incluindo de morte, e a grande coragem de assumir todos os desafios que a vida lhe reservou.” Comandante numa das frentes de libertação nas matas da Guiné, esteve como negociador das independências, “foi primeiro-ministro logo após a independência e, provavelmente muitos dos sucessos hoje atingidos deve-se a sua contribuição prestigiosa, pois se Cabo-Verde apresentava valores que rondavam os $200 dólares do PIB/pér-capita, em 1974, ano da independência hoje os valores ultrapassam os $1000 dólares e o Comandante Pedro Pires, continua no ativo e, tem ocupado com sabedoria o cargo de presidente a república...” rematou o Prof. Damásio. “Existem valores que pautam a sua vida e o excelente exemplo de sacrifício pela liberdade, dignidade e respeito pelos direitos humanos, são os mais presentes” sublinhou o Administrador do ULHT que terminou com esta frase “… o Comandante Pedro Pires é sem sombra e dúvida, uma das vozes de referência do continente africano neste momento…” e um Combatente da Liberdade pela causa e honra.
Houve depois mais duas intervenções em que a primeira foi do Prof. Doutor Mário Moutinho, Reitor da ULHT e do Prof. Doutor Fernando Santos Neves que foi escolhido como padrinho académico, do novo Doutor. Sobre a intervenção deste último que foi mais virado para a questão da Lusofonia do que propriamente pelas causas que já tinham sido amplamente batido pelos professores que o antecederam. 

O Prof. Doutor Fernando Neves, que concentrou a maior parte da sua intervenção na questão da Lusofonia. Sugerindo desde já que, no próximo futuro o Doutor Comandante Pedro Pires, como Presidente duma imaginária Assembleia dos países que compõem a CPLP e Lula da Silva ex-presidente do Brasil para Presidente da Comunidade. Depois elencou 11 pontos de uma tese para a verdadeira Pax-Lusofonia. Embora tenha sido pedido o texto que marcou a intervenção do Prof. Fernando Neves, até hoje à Ordidja não teve acesso ao documento.

Foi uma cerimónia 5 estrelas à que decorreu na última quarta-feira dia 22 de junho, na Universidade Lusófona de Lisboa. Graças a chamada de atenção e convite do Eldimir (Gu) Faria, não pude faltar ao evento. Algumas figuras da lusofonia como citava em cima estiveram presentes entre eles(a) destaco: Maria Barroso Soares, Domingos Simão Pereira, Almeida Santos, Tenente-coronel Vasco Loureiro, Iva Cabral, Fali Embaló, Nanda Barros, e o Prof. Doutor Tcherno Djaló da ULHT que esteve como um dos testemunhos da cerimónia. Deu para rever alguns amigos e colegas jornalistas como Emílio Borges e  Anatólio Lima que é acessor de imprensa do Presidente Pedro Pires, e ainda foi me apresentado e passei a conhecer, a filha do presidente Pedro Pires, Ndira Pires que ocupa um dos cargos de relevo na casa civil da presidência, um fato notável e que felizmente em Cabo Verde, não é drama nenhum.
No próximo post, debruçarei única e exclusivamente na alocução do novo Doutor. Neste caso o Doutor Comandante Pedro Verona Rodrigues Pires. Mas não consigo terminar sem deixar um cheirinho daquilo que foi o discurso que, para além de bem trabalhado tem passagens bem estruturados em termos de novas ideias e compromisso para com a humanidade. Para além de ter contado cerca de meia dúzia dessa palavra “Humanidade” definitivamente à palavra mais utilizado em todo o discurso foi a “Libertação” que depois de discorrido o texto foi utilizado 26 vezes, seguindo-se da palavra “Estado” que foi batido cerca de 17 vezes, e depois seguem as palavras como “Independência” e “Desenvolvimento” que se contam cerca de uma dúzia de vezes.

 “Numa luta de libertação, a questão da qualidade da sua liderança, é outro factor determinante para o sucesso ou insucesso. Porquanto, é sua missão primeira conceber e implementar uma estratégia exequível e ganhadora, que é um exercício exigente, complexo e dinâmico. Impõe-se, todavia, que a estratégia seja, igualmente, portadora de uma visão política do futuro em construção.”

Lá está, conceitos como este não foram postos na prática na Guiné-Bissau, desde 1974. Provavelmente tenha sido esta opinião que levou o agora Doutor Comandante Pedro Pires, ter afirmado numa entrevista concedida à Gazeta de Noticias guineense no ano passdo em que, disse “no caso da Guiné não se conseguiu domesticar o regime”. Termino como terminou o Doutor Comandante! Embora com o novo acordo ortográfico ficaria, OTIMISTAS!

"Sejamos Optmistas" 
                                                      

terça-feira, 21 de junho de 2011

Momentos "Sabura & Paz"


Super Pik-Nik dos "Suspeitos do Costume"
Kombersa Sabi na Pik-Nik
 Garandis ka seta na Pik-Nik
Djorçons partilha alegria na Pik-Nik
Beleza e camaradagem não faltou
Djumbai ku nobas sabi

Altamente


No coração do grande Parque de Monsanto (pulmão de Lisboa) a entrada do local onde tudo aconteceu era fácil esbarrar-se com esta placa da foto

“No Ar e sobre Rodas” foi onde tudo correu e, como tudo correu! Mas sobre o nome do local, o básico onde(?) do triangulo invertido, do manual, falamos depois. Aqui, e desta vez vou ordidjar sobre o enlaçamento do último “Pik-nik”, de um grupo de amigos que se numa primeira fase se outorgava de “mandjundade”, ultimamente têm utilizado esta expressão cómica e mordaz “Suspeitos do Costume” para se identificarem. E sobre os tais “suspeitos” pretendo depois dedicar uma entrevista exclusiva, com o homem do leme, Eldimir (Gu) Faria.


Da primeira equipa que se lançou ao Monsanto, estavam o Gú Faria e Helmer Araújo na foto de cima e, Camilo Gomes e João Paulo Gomes na foto que se segue.


Bom, aquilo que em português (bem escrito) e engomado se chama e escreve Piquenique, hoje em dia é normalíssimo que se escreva assim: pic-nic (exp: Mega Pic-Nic do Hipermercado Continente, também realizado no mesmo dia, na Av. da Liberdade) ou como escrevemos na rede social (facebook) Pik-Nik.

Foi um encontro de lazer e diversão entre guineenses e aqueles que adoram à Guiné. E sem suspeitar do costume guineense (maltratado pelas imagens negativas) o que foi manifestado pelos “guiguis” que estiveram neste pik-nik, só tinha a ver com tonalidades que começavam com amizade, afetividade, camaradagem e terminavam com o bom gosto e prazer de curtir.    

Pik-nik como se sabe é uma atividade que se realiza ao ar-livre (primário nê?) mas é sobretudo um momento de estar simples e agradável em Família. Quando organizado por um grupo de conterrâneos então (como é o caso!), tornou-se num belo espaço de convívio, na naquela base de irmandade, daquela grande família alargada. Este ano participei e contribui na organização. Tudo aconteceu no sábado 18 de Junho, e se tivesse que escolher uma só palavra para retratar o ambiente vivido, escolho esta: ALTAMENTE. Ou seja foi altamente, num “papo direto” e sem rodeios!  

Normalmente os piqueniques ou melhor aquele que vem sendo o tradicional “pik-nik” de verão da malta “Os suspeitos do Costume”, correm sempre num bom Ar e Sobre rodas. Se dúvidas houvesse, ora constate o seguinte, leitor: reúne amigos de longa data, inclui “kombersas & passadas” pintadas com muitas gargalhadas, reforça o conceito do “Djumbai” que se tem apenas e só entre irmãos, e fundamentalmente se recarrega os sentimentos de pertença, há uma família humana, com identidade própria, tudo isso facilitado pelo bom gosto, da música que se ouviu e facilitou uns bons pezinhos de dança.

Se  tudo começou musicalmente falando, com o nosso gumbé, também se passou pela makossa, passada, funana, kuduro, kusundê, tina, salsa e numa dada altura, lá para o meio, houve um grupo da geração mais nova, que desafiou os mais-velhos para uns pezinhos de mbalar (senegalês), mas os “kotas” declinaram e pediram ao DJ Gú, que sempre em serviço, foi na cantiga, puxou por umas padjangas (cubanas). Só visto.

Esteve tudo a condizer, gente gira, bom tempo, ar-livre e agradável e sobre os outros condimentos típicos deste tipo de ambiente, como: churrascadas ( as entremeadas da Tamara Silva), as espetadinhas da Fafé, pasteis (da Filó estavam uma delicia), caldo de mancarra (experimentei um com espinafre e cenouras) confecionada pela Joacine, e um caldo de chabeu divinal da Luizinha, do Bumba. Sobre o que se tinha lá para beber, no comment. Até porque sou suspeito. Espero que as imagens que acompanham este artigo falem e garantam o bom gosto e a espetacularidade da guinendadi na “Paz & Sabura” que se viveu!      

No Ar sobre Rodas – é chegado a hora de voltarmos a questão do nome. Esse nome é o preferido dos montanhistas (não fossemos surpreendidos logo pela manha com um bom-dia do João Garcia que foi até hoje, o único alpinista português que escalou o Everest) e caminhantes. Foi esse o local onde se escolheu este ano para o Pik-Nik sabi, que se vai realizando nos últimos 3 anos, por uma franja da comunidade guineense residente em Portugal.

Recorrendo ao espírito inovador este ano avançaram na organização - o quem(?) – Eldimri (Gú) Faria, Camilo Gomes, Eneida Voss, Joacine Katar Moreira, João Paulo Gomes, Helmer Araújo, Flaviano Mindela, Milena Barreto,   Manecas Brito e Silva e Alberto (Beto) Garês – ah, e foi engraçado também este ano porque se escolheu um tema: “Encontro de (Gerações) Djorçons” como mote.



Viveram-se momentos extraordinários e alegres naquela base dos “comes e bebes” regado apenas pelo convívio, afeto e confraternização, como práticas que também fazem parte dos guineenses. Uma semana foi quanto durou, o dia em que se decidiu a data e o evento. Afinal já se tinha um público alvo, fiel e muito leal. Muita gente animada e com bom humor partilharam, dez horas de boa música, companhia e afetos. Da minha geração não faltaram para além dos amigos já mencionados, o Tuntun, Mitchas, Gogui, Celso, Dilma Delgado (Mosa), Sónia Évora, Rosita e alguns que à memória decidiu atraiçoar.  

RENDEZ-VOUZ


Por: Saibana Baldé

Promessa é dívida. Patche de Rima acaba de cumprir a sua promessa. Desde 2007 que o conceituado músico guineense dedicou-se à composição dos temas para o seu álbum de original. É o segundo depois do “Genial Amor” que teve grande sucesso junto do público, guineenses e não só. A boa notícia chega agora. Chama-se RENDEZ-VOUS DE SIKO e promete ser um caso sério de sucesso.

O press do lançamento contextualiza a razão do projecto afirmando “O SIKO é conhecido no meio cultural guineense como um dos instrumentos mais utilizados na música tradicional Tina. Usa-se em geral como solo nas grandes manifestações populares ao exemplo das tardes folclóricas de Tina, das festas culturais como o Carnaval e nas claques durante encontros desportivos. 
Após alguns anos de carreira musical e análise no meio cultural guineense, o Patche di Rima decidiu investir-se de forma mais aprofundada na busca dum nome comum e um estilo que poderia servir de realce para Gumbé música moderna guineense no contexto regional, internacional e mundial.”

Neste álbum vimos Patche a elevar patamar das suas inspirações e causas. Assumindo que trata-se de um “reencontro com o renascimento da nova identidade africana como também a determinação de promover um novo combate para o rejuvenescimento do Continente Africano nos seus diversos sectores com particular ênfase para a cultura e musica”. A ambição é justificável ou não fosse o Patche um músico que é hoje internacionalmente conhecido e grande promotor da imagem positiva da Guiné-Bissau.  

Com diversos estilos entre os quais Gumbé, Afro Zouk, R&B, Afro Beat entre outros. Mas o título não engana o SIKO da Guiné-Bissau é o centro do álbum. O artista que assume que a sua missão é valorizar o que de melhor o país tem, aposta agora em levar este ritmo quente da Guiné-Bissau para outras paragens.  

As composições deste álbum voltam a trazer letras que ambições que o Patche tem para a África, para a Guiné-Bissau mas também trazem dedicatórias de amor e amizade. Em todo álbum o acento tónico passa pelos ritmos dançantes e quentes da Guiné-Bissau, isso apesar de as músicas serem cantados não só em crioulo, mas também em português, francês e inglês. São doze músicas que mostram que o Patche não está no mundo de música para brincar.

1.      JEUNE AFRIQUE
2.      MY ONLY ONE
3.      NAÇÃO LUSA
4.      NHA TRADIÇÃO
5.      SOLO QUIERO
6.      NHA LUZ DIVINA
7.      REVOLUSSON DI SIKO
8.      ALTEZA
9.      GUINE TEM KU TENE PAZ
10.  WASSINDJY
11.  RENDEZ-VOUS DE SIKO
12.  IDENTIDADE RESSUSCITADA

Os concertos de apresentação e promoção de álbum já começaram. E segue em baixo a lista de lugares já confirmados:

  • DIA 26 DE JUNHO VALE DA AMOREIRA (COM BANDA)
  • DIA 2 DE JULHO CABO VERDE SOMADA
  • DIA 9 DE JULHO ILHA DE SAL CABO VERDE DISCO CLUB ONE
  • DIA 16 DE JULHO ALMERIA ESPANHA
  • DIA 23 DE JULHO BARCELONA
  • DIA 30 DE JULHO COIMBRA
  • DIA 13 DE AGOSTO PARQUE SILVADO ODIVELAS
  • DIA 14 DE AGOSTO MADRID
  • DIA 1 DE OUTUBRO DAKAR (SENEGAL COM BANDA)
  • DIA 2 DE OUTUBRO DAKAR (SENEGAL DISCO N´GALAM)
  • DIA 15 DE OUTUBRO MANTE LE JOLIE

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Apenas poesia

Pablo Neruda

É Proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
Pablo Neruda


Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Entrevista com o Professor Fernando Bastos Loureiro


Entrevista na integra com o Professor Fernando Loureiro Bastos

Esta entrevista deveu-se ao fato do Professor Fernando L. Bastos ser membro da comissão organizadora da “Conferência Nacional para a Paz”, e assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau. Quatro anos a viver em Bissau, Loureiro Bastos, reparte a coordenação científica nesta instituição de ensino superior guineense de referência (nos últimos 20 anos, formou cerca de 300 juristas, 30 Mestres em Direito e 1 Doutorado) com a regência da cadeira, Direito Internacional Público.

Mesmo assim tem tempo, e está a concluir um estudo sobre o apuramento do estatuto jurídico da mulher e a codificação dos mecanismos tradicionais para resoluções de conflitos contemporâneos e atuais na Guiné-Bissau. Como o Prof. sublinha “é um estudo científico sobre os Direitos Consuetudinário «ou para ser mais percetível» Direito Costumeiro de várias etnias (papeis, manjacos, mancanhas, balantas, fulas mandingas e etc...) da Guiné-Bissau”.
Especialista em Direito Internacional Público, conferencista nas áreas do Direito Constitucional e Eleitoral, Professor Fernando Loureiro Bastos é também autor de várias obras literárias na área do Direito. Ex: “Ciência Politica” ou “A Internacionalização dos recursos naturais marinhos”- Publicações com chancela da Faculdade de Direito de Lisboa. E quando se lhe pergunta o que pensa da Guiné-Bissau, não hesita em responder “ um país magnífico que precisa de Paz e de uma oportunidade franca dada sobretudo pelos guineenses…”


Ordidja - O tema central quando se fala em reconciliação na Guiné-Bissau, tem sido a Justiça. Até que ponto acha que esta conferência poderá contribuir para que realmente os caminhos da reconciliação e justiça sejam encontrados?
Prof. Fernando L. Bastos – Faço parte desta comissão desde do inicio, portanto a comissão foi criada em Maio de 2009, há dois anos, e fui convidado porque sou assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau, e sinto-me honrado em fazer parte desta comissão.

À comissão tem muita importância para ajudar os guineenses a perceber melhor a sua própria realidade. Porque quem está fora tem uma realidade relativamente destorcida, as noticias dos últimos anos não ajudaram nada a imagem da Guiné-Bissau, porque centraram-se num aspeto que é importante, mas não é a única coisa que acontece na Guiné-Bissau, que é a questão do Narcotráfico que, não é a Guiné-Bissau na sua totalidade.

E isso ajudou a destorcer a imagem, mas os próprios guineenses que vivem na Guiné, às vezes não têm uma exata compreensão do que é o seu país e nem todas as suas dimensões, portanto esta Comissão quando procura reconciliar isso passa obrigatoriamente por ajudar a conhecer melhor a realidade do próprio país e procurar a Paz, mas também procurar o Desenvolvimento.  

O país está realmente numa situação de estagnação do ponto de vista económico que precisa ser ultrapassado. Por isso é preciso as pessoas conhecerem melhor e, saberem identificar os problemas, vão  poder tentar resolve-los.

O problema da Justiça, é relativamente um problema que tem a ver com o Direito, e como as pessoas olham para o Direito. Isso leva-nos para um ponto interessante (focado até durante esta conferência) isto porque temos uma coisa que se chama Direito Ocidental ou o Direito Escrito, que é basicamente o equivalente ao direito que vigora por exemplo em Portugal e o Direito Consuetudinário ou Direito Costumeiro. Como o Estado não tem sido forte, até ao presente, há muitas áreas da vida social em que na regulação é usado o costume em detrimento ao direito escrito. Há pouco (no decorrer da conferência) uma pessoa falou dos Direitos das Sucessões, por exemplo; há muitas regras em várias localidades na Guiné-Bissau onde às mulheres têm um papel, completamente subalterno, chegando ao ponto de não terem direito a herança dos maridos, bens que elas ajudaram a construir.

Portanto, há muitas questões de conflito entre estas duas formas de fazer Justiça. Mas em relação à Justiça na Guiné-Bissau, outra coisa é quando se entra nas questões em que se pede maior Justiça, por exemplo os casos gritantes de assassinatos, que exigem investigações que não têm sido suficientemente rápidas, para que se possa chegar a uma conclusão, para se ter uma apreciação de quem praticou os atos.

Existe também uma outra questão mais ampla e flagrante, quando se fala da Justiça na Guiné-Bissau, que é o acesso das populações ao Direito ou o acesso a Justiça. E tem que se decidir o que deve ser regulado pelo costume, onde existem por vezes violações em relação ao Direito das pessoas, por exemplo, com relação à práticas de alguns costumes, e o que deve ser regulado pelo Direito do Estado. Portanto, existe ainda muito caminho por fazer para que realmente haja maior Justiça, na Guiné-Bissau.

O – Falou a pouco da questão, das investigações e de a justiça ser mais célere. No caso por exemplo dos assassinatos, as autoridades guineenses, escudam-se sempre com falta de meios para a investigação desses processos, que acabam normalmente por ser extremamente morosos e, na maior parte das vezes, inconclusivos, considera que essa justificação é aceitável?
F.L.B – Convém compreender que esses processos não são estritamente de natureza jurídica, porque são também de natureza política, portanto é evidente que a demora possa ter a ver com, a necessidade de se equilibrarem os vários interesses. Confesso que desconheço às questões que se prendem com a investigação e não sou a melhor pessoa para julgar esse desempenho, o que sei é que a maior parte dos quadros da Procuradoria-geral da República são docentes na Faculdade de Bissau, e são pessoas serias e capazes, portanto provavelmente a questão da falta de meios é real. A investigação de um caso desta natureza não é apenas jurídica.

Ou seja, alguns desses problemas são de jurisdição militar ou de jurisdição civil? Portanto há muitos aspetos que são urgentes analisar, que é de que tipo de Justiça á aplicar.   Estou a trabalhar no apoio da equipa que está a preparar as propostas para a revisão constitucional, e realmente a Constituição da Guiné-Bissau precisa urgentemente de ser revista e melhorada, em alguns aspetos, porque há matérias em que ela é completamente lacunar, portanto as vezes as coisas não andam mais de pressa, por falta de meios, mas também porque em certas áreas, a lei é omissa, não se sabe exatamente qual é a lei aplicável em determinadas matérias.                           

O – E dessa comissão que está a falar, esta que está há fazer a revisão Constitucional, tendo em conta, que o próprio professor sublinha que existem algumas lacunas em termos do quadro jurídico, e sabe-se que dos 133 artigos da constituição atual vai-se passar para cerca de 233 artigos constitucionais, e a minha pergunta é: mediante estas alterações constitucionais, e com essa atualização, o professor acha que será suficiente para haver uma certa engrenagem da Justiça Guineense?
F.L.B – A sua pergunta é interessante, e tem aí uma ideia básica que é o Direito muda a sociedade? Não! O Direito por si só não muda a sociedade. O que muda as sociedades são as leis que criam um quadro de atuação em que as pessoas acreditam e usam-nas. Portanto aqui o problema também tem a ver com a mudança de mentalidade. Podemos ter muitas leis, e leis publicadas no boletim oficial da Guiné-Bissau, e enquanto as pessoas não souberem que elas existem e não perceberem o seu conteúdo, e não acreditarem que aquela é a melhor forma de resolverem os problemas, elas nunca serão aplicadas.   

Se nós olharmos estritamente para a Constituição da Guiné-Bissau, e como disse, com esses 133 artigos, é relativamente lacunar, porque há zonas, em que as questões deviam ser regulamentadas e não são. A Constituição da Guiné-Bissau tem defeitos, mas é bom chamar a atenção, que em relação aos assassinatos, conseguiu-se com aquela Constituição resolver os problemas nomeadamente quando foi, exercida a presidência da República interino, que governou, não excedeu aos seus poderes, conseguiu resolver os problemas que eram necessários e, fazer aquilo que era essencial ou seja; criar condições para que um novo presidente fosse eleito. Portanto em Março de 2009, infelizmente aconteceram aqueles terríveis assassinatos, mas em Setembro reelegeu-se um novo presidente, aplicando a Constituição que está em vigor.

Portanto a Constituição tem defeitos mas apesar de tudo, tem sido útil e operacional para resolver algumas questões. Agora a pergunta é: Pode-se fazer uma Constituição excelente, ela poderá trazer novas mudanças ou vai mudar tudo? Não, não vai mudar tudo, agora à Constituição ajuda e cria um quadro de referências e, se as pessoas se identificarem, nomeadamente os atores políticos, como cada um dos órgãos de soberania, todos reconhecerem, que aquela é a melhor forma de resolver os problemas, nós conseguimos ter um quadro de referência, que ajudará a atuação política. Portanto a mudança da Constituição vai ser muito útil, em relação a questões técnicas, que não são compreendidas a nível do atual debate político.

As questões do debate político são importantes, existe uma que levou por exemplo que a Constituição de 2001 não fosse promulgada e entrado em vigor. Tem a ver com o sistema de governo, isto é: o presidencialismo ou o semi-presidencialismo, qual é a melhor? Esta questão tem a ver, com uma questão realmente interessantíssima, mas é uma questão de natureza política. Portanto há questões técnicas e jurídicas que a Constituição tem que resolver e ajudaria imenso.

Dou-lhe um outro exemplo: Nesta conferência falou-se muito da questão da reestruturação da administração pública, isto é, não é possível estruturar a administração pública, enquanto as pessoas não reterem a ideia de que ela existe para servir os cidadãos, e as pessoas devem recorrer a ela. Portanto a administração pública deve ser um recurso que se pode recorrer enquanto cidadão e não como súbdito, ou seja uma pessoa que está submetida ao poder. E nesta matéria por exemplo é preciso que a Constituição consagre uma série de princípios constitucionais em relação a administração pública para que, depois de transformados em diploma, como está a acontecer neste momento, recentemente foi aprovado os Códigos de Procedimento Administrativo, que dá uma serie de direitos aos cidadãos administrados.   

Portanto, a Constituição precisa de ser mudado em diversas áreas, isso é um fato, mas é fundamental e necessário haver um Consenso político e uma compreensão de que a Constituição não resolve tudo e, é preciso que as pessoas acreditem que as regras são para serem cumpridas.

O – Professor Loureiro Bastos, uma das questões levantadas aqui também foi qual  o Modelo do procedimento da Justiça? Por exemplo o Bispo sul-africano Desmont Tutu, que presidiu a Comissão Verdade e Reconciliação naquele país diz que, “ Não há futuro sem Justiça”. E no caso da África do Sul essa Comissão acabou por preencher algumas lacunas da Justiça naquele país, e existem outros exemplos como o caso ugandês. No caso da Guiné, acredita que uma Comissão faria sentido e seria o melhor caminho, ou não chega?
F.L.B – A resposta não é fácil. É preciso ver se há ou não, uma situação de tensão na sociedade guineense, que tenha que ser resolvida através do julgamento de pessoas? Não sei até que ponto essa tensão tem afetado todo o processo guineense. Por exemplo, a sociedade guineense conseguiu encontrar um equilíbrio, entre várias maneiras de pensar, que leva a que por exemplo não haja, pelo menos de uma forma evidente conflito religioso, apesar de a população guineense ser de 30% islâmica, maioritariamente animista, e minoritariamente cristã, ter cerca de 30 etnias, em que 5 ou 6 são maioritários. Portanto, e a verdade é que as pessoas conseguiram encontrar um equilíbrio na vida entre si.

E neste momento não podemos dizer que há uma tensão nestas matérias na sociedade guineense. Não sei (repare que eu estou a dizer isto como estrangeiro) não é exatamente com uma compreensão, como se fosse um  guineense, o fato de estar a viver na Guiné-Bissau há 4 anos, não me da uma visão global das coisas, não sei se há uma tensão, onde seja preciso fazer julgamentos, para resolver as questões. Há uma questão que era muitíssimo importante resolver duma vez por todas, para acabar com estas incertezas sobre quem praticou alguns atos. É preciso resolve-los, mas repare, sem dúvida que o mandato desta conferencia não é isso. Neste momento a nossa missão é pôr as pessoas á dialogar, se depois for importante haver uma fase seguinte em que, seja necessário constituir-se uma Comissão com poderes, de natureza judicial, isso é outra questão.

Aí seria muito mais fácil a existência, de um Tribunal internacional, do que um Tribunal absolutamente interno. Por questões por exemplo de a sociedade guineense ser demasiadamente pequena de mais, para se conseguir depois criar uma determinada distância. Repare a sociedade sul-africana tem mais de 40 milhões de habitantes se não estou e erro, onde as pessoas não têm que se cruzar todos os dias e, é maioritariamente cristã, onde a palavra Perdão tem um outro sentido.   

A sociedade guineense como é, em que as pessoas acabam por se cruzar toda a hora, e são muito familiares uma das outras, não sei se funcionaria um tribunal desta natureza. Numa matéria tão sensível como esta, a minha opinião é que, se avançar essa ideia, será a meu ver necessário, uma intervenção internacional, para ajudar a resolver alguns problemas. Agora uma coisa é certa, quando houve os crimes de Março e Junho de 2009, a cidade de Bissau parou, mas no dia seguinte tudo tinha retomado o seu curso normal, agora pergunta-se, que tipo de Justiça deve ser aplicado no caso guineense (?) penso que essa é a questão fundamental.



Nota Ordidja

Depois desta entrevista, fiquei com aquela sensação de vazio, provocado de certeza pelo sentimento de um guineense que confirma algumas das dúvidas que afligem qualquer um de nós. Afinal, enquanto guineenses nós não temos uma “carta magna” adaptável a nossa realidade, porque as coisas claramente agravaram-se e vão se agravando para uma situação de impunidade endémica.

Os “copianços” que fizemos da Constituição portuguesa, não nos resolveram a questão da Justiça, ou do cancro da impunidade até então, porque como se confirma, foram leis criadas tendo em conta uma sociedade, uma cultura e fundamentalmente um costume. Portanto é urgentíssimo a revisão da nossa Constituição. Para se poder julgar muitos assassinatos que muitos até nunca ouviram falar. Um crime deve ser punido! Embora tenha lido “Crime e Castigo” não comento muitos temas que foram abordados pelo Professor Loureiro Bastos, nesta entrevista, e deixo isso para comentários dos juristas, pois a minha limitação de conhecimento na área jurídica remete-me para aquela ditadura do silêncio, obrigatório. Considero que não tenho arcaboiço técnico para opinar uma vírgula sequer sobre essas matérias.  

Ah, só para não esquecer, ontem votei e gostei dos resultados. A era socrástica chegou ao fim, e os auto-elogios, auto-promoções e auto-vanguardismo exacerbado já é passado. Mãos à obra, que são precisos ações e não palavras. Agir, agir e agir!  Game Over José Sócrates e seus comparsas.                                           

sábado, 4 de junho de 2011

Propostas valiosas


Propostas Valiosas
Há um outro aspeto. Durante a conferência, para além de terem sido recolhidas “matérias-primas” da forma de pensar, analisar e avaliar do comum guineense, houve momentos de confraternização. Conterrâneos, colegas e amigos que já não se cruzavam na vida, há muito tempo, reencontravam-se com aqueles abraços e mantenhas que de tão calorosas que eram, que só prova aquela máxima de que “os guineenses são fixes” e sabemos confraternizar na Paz.

Entre os guineenses as relações podem ser melhoradas, e vão ser melhoradas quanto mais houver espaços de diálogos e de recolha de conhecimentos de saberes e de opiniões valiosas que serão sempre necessárias. Gostei duma analogia feita por um dos animadores de serviço Dr. Ansumane Sanha, recolhida segundo ele, através duma intervenção dum homi garandi, ou traduzido: ancião, que participou numa das sessões de auscultação lá na terra. Parêntese: vai ser escrita só em crioulo para não destorcer a estória:
Kuma homi garandi lanta i falanu:

- Bodja anôs guineenses, alguin ta Bin i massanu 1º bias, nô ta kala nô dissal…
- I ta Bin i torna massanu 2º bias, nô ta dissal nô findji kuma no ka nota…
- I ta ta torna Bin 3º bias, i torna massanu, nô ta rispundi si dunu, ku suti djan…
- Nô ta justifica gora: ntan i ka tene udju pa i odja kuma i na massanu…

Ami mê, tudu kin ku massan gós son 1º bias, na fala si dunu djanan pa i para, pa i para, pabia i na massan i na findji ka nota, n’tan logo, na aplika diálogo na nha dia-a-dia, pan ka tem ku gueria (briga) ku ninguin…

Ora é um dos maiores ensinamentos das artes marciais, e todos os praticantes dessa arte-de-combate, sabem distinguir um combate duma briga. Aliás existe um dito popular que afirma mesmo: “Um combate não tem nada a ver com uma briga”     
Houve outras intervenções e analogias também interessantes, mas sobretudo houve propostas valiosas durante os três dias da conferência na FDL de Lisboa, com o tema: “ Os caminhos para a consolidação da Paz e Desenvolvimento”.
Tony Tcheca

Uma das propostas que gostaria de partilhar com os leitores, teve a magnitude e chancela do Tony Tcheca, jornalista e escritor com prova e obra dada, quando encetou: “ porquê que a Guiné-Bissau, não vai buscar os excelentes quadros que tem espalhado pelo mundo, para lhes solicitar: consultas, avaliações e planos estratégicos, tanto a nível social como económico e outras mais. Temos guineenses com saberes e experiencias que outros países solicitam a toda hora. Por exemplo em Cabo-Verde, consulta-se frequentemente o guineense Carlos Pinto Lopes, para várias áreas. Temos o caso de Paulo Gomes, que de certeza poderia, dar contribuições valiosas na área económica, sobretudo num mundo onde se está a viver uma crise económica gritante.”

Uf, depois de ter escutado estas palavras, vindos de um mais velho que durante essa semana praticamente, nos encontramos todos os dias, foi aliviante. É que estivemos juntos, dias antes, em Odivelas no lançamento do livro “ Amílcar Cabral – A a Vida e Morte de um revolucionário africano” do Pro. Julião Sousa, outro guineense que também esteve na conferência. 


Adorei a intervenção e as propostas do enfermeiro antigo, Dundu Fernades, gostei das propostas do veterano das lides políticas, Ernesto Dabó, gramei as palavras proferidas por um jovem psicólogo guineense David Fati que pediu “ vamos todos ter mais orgulho na Guiné e nas nossas coisas, eu por exemplo, quando regresso à Lisboa, depois dumas férias passadas em Bissau, trago sempre cascois com a nossa bandeira, artefactos, panos e ofereço aos meus amigos com esta frase: isto é da minha terra”

Estiveram por trás da cortina na organização das listas de intervenções, na operacionalidade do secretariado e em quase todas as frentes, os jovens estudantes guineenses de Lisboa e Coimbra. Ora intervindo, ora animando a sala ora com aquelas “bocas” em coro: “muito beeem” numa réplica pagodiada dos parlamentares portugueses. Os jovens estudantes guineenses foram incansáveis e emanavam aquela energia que só a juventude dá.

Tinham entre eles um espécie de líder, Edmilson dos Santos, que dobrando e desdobrando entre a orientação dos microfones e as inscrições na mesa, de vez em quando entrevia. E numa das intervenções avançou com aquela frase que os estudantes esgotam, de tanto repisar, sobretudo quando estão perante plateias de guineenses: “o governo e o Estado guineense tem que criar condições para o regresso dos quadros e de todos aqueles que estão a estudar e querem regressar para à Guiné-Bissau” afirmou Edmilson dos Santos, que de seguida foi correspondido pela euforia e palmas, da bancada onde se encontravam os pares da mesma geração.
Domingos Simões Pereira

E com esta termino: foi de lá, que paginas tantas, sobre proposta do presidente da mesa e da comissão, deputado Serifo Nhamajo, foi convidado para tomar palavra, o eng. Domingos Simões Pereira, um guineense que despensa apresentações no mundo lusófono. Que num tom coloquial e num timbre amistoso, virou-se para os jovens estudantes, que se encontravam quase todos na ultima fila, encarou-os questionando-os desta forma:

“Compreendo perfeitamente as vossas frustrações ou descontentamento, quando olham para o nosso país e sabem o que vos espera, mas peço que imaginem o que será daqueles vossos colegas, que nunca tiveram oportunidade de sair da Guiné, para vir estudar no estrangeiro. Não será uma exigência malfeita por vezes, quando vemos que os outros nem tiveram essa sanche, e eles por vezes nem reclamam e estão lá a trabalhar, e pior é quando, se regressa e não se leva a inovação ou a mais-valia que se ganhou nas Academias que frequentamos e, se limita a considerar, aquele que ficou, de incapacitado…” E disse muito mais, dando ao mesmo tempo uma lição de humildade valiosa, à geração que ele mesmo sabe que trás sempre um vento novo, uma dinâmica diferente, uma nova forma de…

Próximo episódio: Entrevista com o Professor Fernando Loureiro Bastos, assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau e membro da comissão organizadora.  
Bom Sabat!!!

Fui!!!